12/09/2018
Coluna Fio da Meada publicada pelo site Valor Econômico
As questões relacionadas às finanças públicas têm feito parte do cotidiano do
governo e da população brasileira já algum tempo. Na campanha eleitoral
que vivenciamos, o tema do equilíbrio fiscal é um dos mais constantes, seja
em debates, em sabatinas ou em entrevistas.
Dada a zona fronteiriça do aumento da carga tributária em que estamos, uma
das soluções mais mencionadas é a revogação de desonerações tributárias. As
propostas são as mais variadas: corte integral, corte linear de certo
percentual, corte seletivo, dentre outras.
Mas, afinal, a extinção, ou ao menos o corte, de desonerações tributárias
ajuda com o equilíbrio fiscal?
Sem dúvida, a revogação de desonerações tributárias aumenta a arrecadação,
o que, de início, contribuiria para o ajuste das contas públicas (receitas
públicas e despesas públicas). No entanto, a análise das situações
desoneradas merece muito cuidado.
Por exemplo, há quem relacione o Simples Nacional dentre as “desonerações
tributárias”. É uma interpretação até que possível, mas o Simples Nacional é
uma forma de apuração de tributos, principalmente, destinada a contribuir
com a formalização das empresas e dos empregos. Portanto, o Simples
Nacional tem uma função econômica fundamental, que contribui para a
arrecadação tributária, não devendo ser tratado como mera “desoneração”.
O mesmo poderia se dizer, por exemplo, da Zona Franca de Manaus, que
possui também uma função indutora de desenvolvimento regional (se está
funcionando ou não é outra questão).
Há ainda situações de “desoneração tributária” que, na verdade, servem para
que o governo transfira a sua responsabilidade por determinada despesa
pública para uma entidade privada. É o caso dos hospitais e escolas geridas
por organizações de natureza privada e que contribuem para a
universalização desses direitos essenciais da população. Dessa forma, a
“desoneração” dessas entidades representa, de certa forma, a gestão
democrática das finanças públicas.