27/08/2013
A satisfação da indústria com o novo nível da taxa de câmbio pode ser sentida pela fala do presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), na abertura de um evento organizado pela própria instituição para discutir como reindustrializar o Brasil. No nível atual, "a questão cambial está resolvida", disse Skaf. Outros empresários foram bem menos enfáticos.
O diretor do Departamento de Competitividade da Fiesp, José Ricardo Roriz Coelho, apresentou a atualização de um estudo de 2012 feito pela entidade e que mostra que produzir no Brasil é hoje cerca de 25% mais caro que nos principais parceiros em uma conta que considera salários, energia, carga tributária, burocracia e outros itens. O real valorizado, diz ele, representava 10% dessa conta adicional. "A desvalorização ajudou, mas não resolveu tudo", explicou, lembrando que a moeda de outros países foi desvalorizada junto com o real, ainda que o processo brasileiro tenha sido mais intenso. Roriz diz que é preciso tempo para que o país possa calcular, de fato, o ganho que o atual patamar da taxa de câmbio trará para a competitividade da indústria.
Com o câmbio brasileiro mais próximo de onde o setor produtivo calcula que ele deveria estar, ficou claro para os presentes ao seminário da Fiesp que essa é uma parte da solução. Garantir que ele fique onde está, calcular a desvalorização real por trás da nova taxa (parte dela pode virar inflação), alterar o mix de política macroeconômica e enfrentar os outros custos voltaram a ser apontados como caminhos necessários para que a indústria volte a ganhar espaço dentro do Produto Interno Bruto (PIB), a exemplo dos EUA.
"Vou dar um conselho. Vocês, empresários e sindicalistas, devem parar de discutir política industrial e discutir política cambial", disse Luiz Carlos Bresser Pereira, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), e ex-ministro da Fazenda. No mesmo painel, Yoshiaki Nakano, diretor da Escola de Economia da FGV-SP, e Edmar Bacha, diretor da Casa das Garças e ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), partilharam parte do diagnóstico e da solução da perda de espaço da indústria na produção de riqueza do país. Ambos defendem uma inversão das prioridades da política econômica com foco no controle de gastos.
Para Nakano, a reindustrialização só virá em um ambiente fiscal absolutamente controlado. "Não podemos cair no erro de politica fiscal frouxa e monetária apertada. Temos que fazer o contrário. As despesas correntes do governo deveriam ser fixadas por lei para crescer menos que o PIB. Isso abriria espaço para investimentos", defendeu. Se isso for feito, diz ele, haveria espaço para a realização de uma reforma tributária - o que, para ele, no momento é inviável.
Para Bacha, o país caminha para uma armadilha da renda média, e a única forma de escapar dela é tornar o país fortemente exportador. Bacha reafirmou seu "Plano Real para a indústria", que também pressupõe uma ampla reforma fiscal destinada a conter gastos públicos e reduzir a carga tributária de uma forma progressiva.
Se Nakano e Bacha concordaram que o país não tem saída sem conter gastos públicos e focar nas exportações, parte do caminho que cada um defende para ganhar o mercado externo é diferente. Os dois querem mais acordos comerciais, mas Bacha defende "trocar tarifa por câmbio", promovendo um expressivo corte do imposto de importação - que forçaria a concorrência e permitiria chegar ao câmbio apropriado.
Nakano defendeu uma administração da taxa de câmbio. Para ele, o Banco Central precisa intervir e sinalizar que não vai tolerar uma apreciação do câmbio a partir de um determinado patamar - "R$ 2,40, talvez "-, e isso garantiria aos empresários que o nível competitivo seria mantido, trazendo investimentos de volta. Para cima, a taxa flutuaria.
Outro ponto muito defendido foi uma reforma tributária. Tão forte quanto a defesa, porém, foi a avaliação de que é muito difícil, social e politicamente, mudar essa estrutura.
Fonte: Valor Econômico