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'Queremos trabalhar para sair do aluguel'

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05/04/2022

Jefferson Ramos

jeffersonramos@acritica.com

04/04/2022 às 08:41.

Atualizado em 04/04/2022 às 08:41

O reitor eleito da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), André Zogahib, afirmou que a gestão dele vai trabalhar para diversificar as fontes de renda da instituição que atualmente é dependente de incentivos do Polo Industrial de Manaus (PIM). Disse que o Imposto Sobre Serviços (ISS) cobrado pelos municípios amazonenses pode ser uma nova fonte de recursos.

André Zogahib enfatizou que o principal foco de sua gestão de quatro anos será tirar a UEA do “aluguel”. Reclamou que o orçamento de R$ 450 milhões é insuficiente para custear as despesas da universidade pública. Também criticou, em entrevista para A CRÍTICA, o corte de bolsas de pesquisas do governo Bolsonaro. Segundo ele, esses cortes prejudicam em “demasia” os pesquisadores da UEA.

Como vai ser a sua gestão à frente da reitoria da UEA?

Queremos fazer uma gestão eficiente, uma gestão que entregue resultados. Uma gestão eficaz e uma gestão que tenha um constância de boas ações. Queremos uma gestão efetiva e que gere impacto para a sociedade. A gente vai trabalhar otimizando processos, tentando trabalhar de maneira muito transparente com a participação das pessoas. A nossa gestão vai ser pautada por muito diálogo e com respeito às necessidades da comunidade acadêmica.

Quais serão os principais planos da sua gestão?

Entre os principais planos a gente quer trabalhar o processo de qualidade dentro da universidade, dos serviços que a universidade oferece à sociedade e a partir daí temos que pensar em infraestrutura predial, infraestrutura laboratorial. Temos que ter laboratórios que atendam as expectativas dos alunos e dos pesquisadores que realmente façam com que a gente tenha condições de desenvolver pesquisas de qualidade na universidade. Temos que ter tecnologia de ensino das melhores possíveis para a gente otimizar o trabalho do professor de ensinar e do aluno de captar informações e discutir dentro da sala de aula para a gente criar um processo realmente de geração de conhecimento e tentar romper barreiras dos muros da universidade, tentando levar tudo isso para fora para a sociedade.

Por causa disso, a gente tem que fazer um grande trabalho de extensão. Dentro dessa perspectiva, a gente tem como projeto a reformulação dos centros e núcleos do interior, ampliação dos centros, principalmente. A reestruturação dos centros da capital, reestruturação da nossa estrutura organizacional hoje. A gente tem que repensar uma nova estrutura para a UEA para atender os novos desafios que são impostos.

Com o senhor avalia a gestão do seu antecessor?

É uma gestão que no primeiro mandato foi muito boa. Uma gestão excelente, mas que no segundo mandato careceu de uma série de situações, principalmente com relação ao diálogo com a comunidade que ficou muito precarizado. A gente precisa retomar este diálogo e avançar porque todas as questões conseguem contribuir de alguma forma. A gestão dele contribuiu com muitas coisas e a gente precisa avançar.

Existe a possibilidade de a UEA encontrar outras formas de financiamento além darenda vinda do Polo Industrial de Manaus?

Sim, inclusive isso está dentro do nosso programa de gestão. Hoje, a UEA depende 100% do Polo Industrial. Toda nossa fonte de financiamento é do polo, mas a universidade pode procurar outras formas de financiamento, por menor que seja a contribuição do ISS (Imposto Sobre Serviços) dos municípios do interior, temos que buscar discutir com os municípios uma parcela para que tenhamos condições de implementar mudanças dentro da universidade que atinjam os municípios do interior e na capital também. A gente tem que começar a discutir com a prefeituras uma contribuição de algum tributo municipal para que a UEA possa ficar mais estruturada em termo de orçamento e conversar também com o governo federal, verificando como o Ministério da Economia, por exemplo, uma dotação da contribuição relativa do Imposto de Renda como é feito na Universidade do Estado de São Paulo (USP) para que tenhamos um orçamento mais pujante que não dependa só da Zona Franca.

O senhor fala em criar novos impostos?

Não, os impostos já estão aí. Não tem como criar imposto neste sentido, mas que tenhamos condição de absorver uma parcela do tributo que já existe. Uma contribuição que seria dos municípios com a universidade.

Estudantes reclamam que o restaurante universitário da Escola Normal Superior, na Djalma Batista, não funciona à noite. Como a sua gestão vai lidar com esse tipo de entrave?

Não é só na Escola Normal. Esse problema acontece em outras escolas. O que a gente precisa fazer é de fato organizar isso com as empresas para que possamos ter condições de oferecer esse serviço. Seja por meio de um aditivo de contrato ou até mesmo uma nova licitação. A gente tem que estudar para saber qual seria a via mais adequada, legalmente e também em relação de fazermos isso de maneira rápida. Temos que discutir isso ainda dentro do processo de transição para vermos como vamos fazer. O interesse de ter um restaurante universitário na UEA é justamente para que possamos oferecer esse serviço de maneira a contemplar os alunos de todos os turnos. Então, parece não ter muita lógica termos um restaurante universitário que não atenda uma parte dos alunos. A gente precisa rediscutir isso para avançar neste sentido.

Atualmente, a UEA passa por um processo de descarte do seu patrimônio. Em Manaus, abandonou um prédio próprio na Cachoeirinha e transferiu as atividades para um prédio alugado no Centro. A sua gestão pretende construir estruturas próprias para diminuir a dependência de aluguel?

Isso é outro ponto que está no nosso plano de gestão. Queremos trabalhar para sairmos do aluguel como eu disse na campanha. Do aluguel a gente não tem como sair de imediato porque senão a gente fica sem casa. A estrutura que tinha na avenida Castelo Branco era uma estrutura que não estava atendendo as necessidades da universidade, mas que vai ser utilizada também. Vamos usar aquele prédio. Lá tem sala de aula, biblioteca e um espaço que dá para funcionar como lanchonete e restaurante universitário. Mas é um espaço ainda muito pequeno. É um espaço acanhado frente às nossas necessidades, mas que vai ser utilizado.

A gente não tem como sair do aluguel agora. É isso que quero dizer, mas temos que criar um processo em que tenhamos condição de construir, paralelo à ocupação desses espaços alugados, mas a partir do momento que tivermos essas construções entregues, a gente vai para prédios próprios. Sempre trabalhando nesse modelo de ter a casa própria da universidade, podendo ser multicampi ou de maneira um pouco mais concentrada aproveitando melhor os espaços.

Na Lei Orçamentária Anual deste ano, a UEA tem orçamento de R$ 450 milhões. Naua opinião, esse recurso dá conta das necessidades da universidade?

De forma alguma, não dá conta, não. Por isso que a gente tem que buscar ampliar esse orçamento. A universidade hoje segue aquela premissa básica da economia: os recursos são limitados e as necessidades são as mais diversas possível. A gente tem que trabalhar no sentido de ter um orçamento maior para assim podermos ter espaço para executar todos os nossos planos para que no decorrer dos quatro anos possamos cumprir todas as promessas e compromissos que foram firmados com a sociedade.

Como fica a situação dos estudantes do interior que estudam na capital. O senhor pretende criar novos espaços para recebê-los?

Primeiro, temos que pensar na forma como vamos trabalhar. Temos que discutir isso na comunidade acadêmica em especial com os estudantes para verificar de que forma podemos trabalhar para receber os alunos e isso tem que ser de forma mais abrangente possível. Construir os espaços talvez seja oneroso e não dê condições para que nós tenhamos capacidade de ampliar esse benefício para a maior quantidade possível de alunos. A gente tem que pensar sempre no próximo.

Queremos discutir no sentido que possamos ser o mais abrangente possível para que os alunos que vêm do interior tenham condição de ter esse benefício assegurado. O nosso interesse é assegurar o benefício para a maioria dos estudantes. Pode ser construído mais espaços? Pode, mas não vejo isso agora com uma boa alternativa porque vejo isso como algo muito oneroso. Temos que pensar em alternativas que vão além deste processo de construção de espaços, como por exemplo, a concessão de bolsas moradia.

Qual a sua opinião sobre o abandono da Cidade Universitária cuja a obra anunciada ainda em 2012 como um empreendimento que ajudaria na integração dos estudantes da UEA vindos do interior?

Tudo que está lá hoje construído não pode ser aproveitado porque a estrutura está comprometida. Infelizmente, a UEA tem essa mancha na sua história e a gente precisa corrigir. Como corrigir? O primeiro passo é discutir a real utilização daquele espaço e como a universidade pode utilizar aquele espaço. Isso tem que ser amplamente discutido com a comunidade acadêmica e com a sociedade amazonense. Se a gente vai construir um polo naval, um polo tecnológico ou se de fato vamos construir um campus naquela região. Isso tem que ser amplamente discutido e decidido com a base. A não ocupação começou a se dar por não ter havido uma grande discussão com a comunidade acadêmica e com a sociedade. Precisamos começar essa discussão e a partir daí tomar decisões de maneira mais assertiva para o uso daquele local.

No governo do presidente Jair Bolsonaro, o corte de recursos para bolsas na Capes e no CNPq é de menos da metade do orçamento que existia dez anos atrás. De que forma esse corte prejudica os pesquisadores da UEA?

Prejudica em demasia. A gente verifica em outros países, por exemplo, que o incentivo à pesquisa é algo forte, pujante, aqui no Brasil estamos olhando para os pesquisadores, nessa sistemática que foi posta pelo governo federal, como algo que fica em segundo plano. Quando na verdade investir em pesquisa deveria ser o primeiro plano de um país que pensa ser economicamente desenvolvido. Não é a economia que desenvolve tecnologia, mas é a tecnologia desenvolvida que ajuda a desenvolver a economia. Isso desde a época do surgimento do capitalismo com o uso da máquina de tear. Quem tinha essa tecnologia naquela época era a Inglaterra. Ao longo dos anos os países que foram desenvolvendo tecnologia se colocaram à frente dos outros países que eram consumidores de tecnologia. Para podermos produzir tecnologia, temos que investir na educação. Como que a gente vai produzir tecnologia sem investir em pesquisa? Quando há esses cortes, existe um corte no desenvolvimento do nosso país.

Como o senhor avalia a política para o ensino superior do atual governo?

Existem questões que transcendem as perspectivas ideológicas. Temos que trabalhar com aquilo que dá resultado e com aquilo que não dá resultado. O governo federal tomou decisões de caráter ideológico que prejudicam o resultado. Temos que trabalhar no sentido de resgatar a educação superior, investir em tecnologia. Acredito que na forma que estão postas as universidades estaduais têm um papel fundamental para mostrar que investir em educação é investir no futuro da nossa sociedade.

Fonte: Acrítica

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