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‘Quem assumir precisa garantir uma política de incentivos’, diz Nelson Azevedo

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31/07/2017

Reportagem publicada no portal Acrítica.com

Entre os desafios do novo governante do Estado está a Zona Franca de Manaus, principal modelo de desenvolvimento econômico, que vem demonstrando abatimento pela crise política e econômica do Amazonas e do País. Em meio à queda na produção e nos empregos, o próximo governante precisará estar proximo das discussões daquilo que acontece na ZFM, segundo o 1º vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam), Nelson Azevedo.

O dirigente destaca, ainda, que o governador precisará atrair olhares para novos investidores, para criar ambientes favoráveis para o negócio, que irá impactar os três polos econômicos: comercial, industrial e agropecuário.

Que postura o senhor espera do próximo governador em relação à Zona Franca de Manaus?

A pessoa que ganhar precisa ter o propósito de ser um governante que possa trazer algo de bom para o nosso Estado - tudo bem que estamos vivendo uma crise política nacional e nós também, para agravar, tivemos a nossa local. Esperamos que a próxima pessoa seja capaz de ter uma visão de montar uma boa equipe e possa trazer uma aplicação, em termos de gestão, mais transparente, melhor aplicação dos recursos gerados pelo nosso PIM (Polo Industrial de Manaus), porque os demais setores vivem muito em função do nosso PIM, que é o nosso modelo, enquanto não temos novas matrizes capazes de se complementar a esse modelo que está aí. Esse governante tem que vir imbuído desse propósito de querer fazer e realizar algo de positivo em nosso Estado.

Qual o atual cenário da Zona Franca de Manaus?

Lamentavelmente, nosso cenário não é um dos melhores do Brasil. Nós dependemos muito do mercado interno. Estamos com a taxa de emprego muito baixa, a produção muito baixa, principalmente, em um dos principais polos que é o de duas rodas. Isso faz com que tenhamos uma redução significativa. Quando o nosso Distrito Industrial não vai bem, influencia no comércio, por exemplo. É uma cadeia. Nesses últimos três anos, perdemos muitos empregos. Devemos ter terminado o ano de 2014 com 130 mil empregos. Hoje, temos 80 mil empregos. Tudo isso, na verdade, é uma falta de credibilidade, de confiança de se investir no País. Temos o nosso problema político, que tem uma influência muito forte na atividade econômica. Quando gera essa incerteza, não tem investimento, não tem crescimento, não tem emprego.

O senhor percebe que há um sinal de melhora na Zona Franca? Há alguma perspectiva?

Uma coisa que percebemos é que está havendo uma estabilidade. Esperamos que a partir de agosto, com as eleições, resolvamos os nossos problemas políticos, e que, a partir daí, a economia possa mostrar a sua cara. Segundo a equipe econômica, melhorou. Sabemos que houve alguma melhora no agronegócio, mas na indústria (de transformação) não está. Sentimos que alguns setores têm a estabilidade. Quando você chega a esse patamar, você começa a recuperar. Acreditamos que a partir de 2018 vamos ter um cenário mais favorável. Não pode piorar mais do que está. Enquanto não houver uma segurança jurídica, um ambiente bom de negócio, com certeza, ninguém investe. O que traz crescimento são projetos novos, de implantação. Quando é de ampliação ou diversificação, são apenas para diversificar suas linhas.

Houve algum outro setor que sofreu por toda essa situação de crise? Qual foi o mais impactado?

Todos os setores sofrem. O faturamento nosso, do PIM, ele deve ter caído em torno de 40%. Você imagina o que é cair um faturamento em 40%. Vem caindo desde 2014. Ele deu uma estagnada, e houve uma coisa muito reduzida de crescimento. Nós chegamos a faturar, no auge, US$ 42 bilhões, mas no ano passado apenas US$ 19 bilhões.

O senhor destacou que quando uma nova empresa se instala é melhor para a ZFM. O que pode ser feito, por esse novo governante, para atrair esses olhares para cá?

Este novo governante tem que ir prospectar negócios, captar investimentos, não só no próprio Brasil, como se fazia antigamente, através de feiras, mas também, e principalmente, no exterior; e mostrar que o Brasil ainda é um dos melhores lugares para se investir. Além de mostrar que dentro do Brasil, ainda existe uma região que é ainda melhor, apesar de seu isolamento.

A ZFM ainda é competitiva?

É sim. Quando você faz um comparativo de uma empresa instalada na região Sudeste - que é a região considerada mais bem dotada do País com infraestrutura, investimentos - e comparar com a ZFM, você projeta tudo e vê que sobra algo de positivo para cá. O governante que entrar tem que estar atento para essas situações. Se o novo governante tiver uma visão desenvolvimentista, uma visão de integração e tiver uma perfeita integração com a Suframa, que é um órgão muito importante, será algo melhor como um todo.

O senhor tem conversado com os candidatos?

A gente já deu algumas sugestões aos candidatos, para que eles possam adotar. Temos que fortalecer as ações efetivas da retomada de crescimento, tomar as medidas para o crescimento da segurança. Resguardar e manter a segurança jurídica.

Mas o senhor acha que essas propostas têm sido bem recebidas por eles?

Até agora já assisti debate de dois e eles foram pelo viés do que fomos conversando. É necessário que alguém levante a bandeira da rodovia BR 319. Você tem que ter foco na educação, na nossa UEA (Universidade do Estado do Amazonas), que é mantida 100% pelas empresas do Distrito. Os recursos têm que ir pra lá.

O senhor acha que deve ter uma contrapartida por parte da UEA, já que a indústria é a mantenedora?

A contrapartida que queremos é que ela capacite a mão de obra, ocupe nossos interiores e prepare a mão de obra, respeitando as peculiaridades e vocações do município. Olha o que a prefeitura vai precisar, o que pode se desenvolver de empreendedores na economia da região. Tem que ter um governante preocupado com a energia elétrica, com a comunicação.

Nesta eleição, há candidatos defendendo a revisão dos incentivos e outros dizendo que não deveria ser cogitado. Que posicionamento é melhor para a Zona Franca?

A pessoa que assumir, acredito que precisa garantir uma política de incentivos fiscais. Tudo o que é acertado antes, não tem briga depois. Não pode se mudar uma regra. As pessoas estão aqui pelas vantagens. Temos que ter algo nosso complementando valores daquilo que nós temos aqui, na área de fruticultura, psicultura, criar o distrito do agronegócio. Me falaram que diariamente se jogam toneladas de peixe na Manaus Moderna, porque não tem frigorífico. Aqui era pra ter uma indústria de pescado. O governo tem que facilitar e atrair. Agora você não vai me atrair e depois me trair.

Um candidato propõe que o CBA seja administrado pelo governo e a indústria. O que senhor acha dessa proposta?

Precisamos desse instituto. Ele é muito importantes, mas padece há muitos anos. Ele não tem nem personalidade jurídica, CNPJ. Da nossa parte, desde que seja algo com muita clareza, que o empresário não entre só para pagar conta, mas que tenhamos o poder gerencial de decidir e discutir, a iniciativa é boa. Participamos de muitas coisas como empresários, mas só reúne para aprovar alguma coisa. Ninguém reúne pra decidir, (apoiamos) desde que seja para participar.

O senhor acha que o governo que entrar poderia tomar uma parte nessa manutenção das vias do Distrito, para favorecer a ZFM?

Todos nós falamos que nós gostaríamos que esse Distrito fosse um cartão postal, que qualquer pessoa que viesse de algum lugar, tivesse orgulho de mostrar. Não dá pra você ir, porque tábua de pirulito é fichinha. Só tem a Avenida Buriti que fizeram uma maquiagem. Nós achamos que aquilo ali, já discutimos… Nós pagamos taxa de lixo, IPTU, taxa de esgoto, nós pagamos para Prefeitura, precisávamos ter uma contrapartida. Vários prefeitos que entraram, acham que é (responsabilidade da) Suframa. A ponto de um prefeito dizer que é área federal. O Distrito é um bairro de Manaus. Acho que pelo dever de zelo, deveriam ser chamados todos à responsabilidade, fazer o nosso Distrito. Vamos esperar que isso se concretize. Acho que é cada um no seu quadrado. Se um não pode, faça em conjunto.

As indústrias contribuem com o FTI, que deveria ser usado para estimular o turismo e a interiorização. A indústria tem acesso a essas informações sobre a aplicação desses recursos?

Infelizmente nós contribuímos, mas não temos a menor participação. Existe a criação de conselho. A gente tem noção dos recursos porque temos como apurar o que repassou, mas não temos gerência e participação. O nosso turismo não tem muita coisa para mostrar e deveríamos atrair investimentos, porque nosso vizinho Pará tem muita coisa para mostrar e aqui teríamos muito mais. (O governo) deveria ser mais atuante.

O polo de componentes já esteve bem mais fortalecido, o que o governador pode fazer para atrair esse investimento?

Você só vai ter a consolidação de um polo industrial em um Estado se você tiver em torno dele seus fornecedores, chamados componentistas. As empresas que fazem parte do elenco de benefícios fiscais, teriam que dar - para fortalecer o polo de componentes - uma preferência para os fornecedores locais, que abastecem as empresas. O governo tem que dar uma avaliada melhor para que as montadoras prestigiassem mais esse polo, que é muito importante para a geração de emprego e desenvolvimento de tecnologia.

Além dessas demandas, o que o senhor apontaria como prioridade que poderia ser encampada pelo novo governador?

Uma das coisas que é muito importante: para trazermos um projeto para a Zona Franca, tem um negócio chamado PPB (Processo Produtivo Básico). Sempre digo que a ZFM está instalada em Manaus e quem abriga é o Amazonas. Não falo nem na parte municipal, porque a Prefeitura não tem participação nos incentivos. Se ela aprovar o projeto e não tiver PPB, ela não pode produzir. O governo que entrar tem que ir junto ao Ministério da Indústria e Comércio; Ciência e Tecnologia; Presidência da República, pleitear para que o governo participe como membro do Grupo de Trabalho do PPB. O governo tem que estar próximo das discussões sobre o que acontece na ZFM.

Perfil Nelson Azevedo

Idade: 72

Nome: Nelson Azevedo dos Santos

Estudos: Formado em Economia e especialização em Planejamento, Orçamento e Programa.

Experiência: 1º Vice-presidente da Fieam; conselheiro na Confederação Nacional da Indústria, atual presidente do Corecon-AM. Já foi presidente do Cieam.

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