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Queda do dólar em relação ao real deve favorecer alguns setores

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25/03/2022

Andreia Leite

A queda do dólar em relação ao real, que vem ocorrendo nos últimos dias, deve favorecer alguns setores afrouxando os preços, em contrapartida, a indústria, especialmente os segmentos que exportam e que concentram grande potencial nesse movimento, podem ser prejudicados. Especialistas ouvidos pelo Jornal do Commercio avaliam os efeitos da menor taxa do câmbio, que chegou a R$ 4,83, nesta quinta-feira.

A desvalorização da moeda americana, provocando uma valorização do real é uma combinação de vários fatores. Juros altos, bolsa de valores baixa e força das commodities justificam a retração. De acordo com o professor universitário e consultor econômico Francisco de Assis Mourão Júnior, a Selic, agora a 11,75%, motivando que o capital externo venha para o país, principalmente devido ao fato de a economia americana estar com juros baixos e uma inflação alta. Outro fator determinante é o conflito no leste europeu provocando um aumento no valor das commodities que consequentemente o Brasil é o grande exportador dos insumos fazendo a entrada de moeda estrangeira no país. “Quando a gente fala de câmbio com o valor muito alto, ela favorece para quem exporta, para quem produz e vende para fora do país. Quando está em queda, importar se torna mais barato favorecendo o importador e provoca também um recuo na inflação porque esse produto importado entra no mercado e concorre com o nacional”.

Conforme especialista, há pontos positivos e negativos em relação a este movimento. Apesar do câmbio está apresentando recuo, continua alto. E isso não está surtindo os efeitos positivos. “Agora o que vai acontecer é que vamos ter produtos importados entrando a um preço que vai competir com o nacional. Vamos ter uma queda na inflação não tão quanto esperávamos porque temos vários fatores como gasolina, sofrendo pressão por conta do conflito europeu, eletrodomésticos e alimentos com preços mais competitivos”, analisa o professor universitário e consultor econômico Francisco de Assis Mourão Júnior.

Para Mourão, não há como prever se a queda do dólar se manterá, o que dificulta qualquer análise sobre efeitos imediatos na economia. “Teríamos que analisar como vai durar essa pressão sobre as commodities e ao mesmo tempo a entrada de capital externo devido à Selic alta. Isso deve ser analisado e verificado porque o nosso câmbio é livre, há uma intervenção do BC (Banco Central) em momentos que ele vê que a moeda pode disparar demais ou desvalorizar na mesma proporção, é o momento de cautela”.

Em relação ao posicionamento da indústria diante do câmbio que está em baixa, o gerente executivo do CIN-AM (Centro Internacional de Negócios do Amazonas), Marcelo Lima, reconheceu que para os importadores, os impactos serão melhores, tanto na indústria como no comércio, fato este que propicia ao importador desembolsar menos dólares. Quanto ao exportador a situação é inversa em razão do câmbio em baixa, pois entrarão menos dólares no país. “Essa situação provocará alterações na balança comercial. Eu considero que essa variação cambial pode favorecer as negociações comerciais tanto na importação como na exportação”.

No que se refere ao conflito no leste europeu, ele entende que a curto prazo não teremos reflexos significativos na economia do Amazonas, mas poderá sim refletir na logística em razão do aumento do combustível que certamente ocorrerá aumento nos fretes.

O economista e presidente do Corecon-AM (Conselho Regional de Economia do Amazonas) Marcus Evangelista, a queda do valor faz os preços dos produtos que têm insumos importados diminuírem.

Ele lembra que o dólar atingiu seu patamar mais elevado após o anúncio da pandemia, alcançando o valor de R$ 5,85 em fevereiro de 2020. Favorecendo algumas cadeias como o agronegócio foram impactadas positivamente pois os produtores preferiram exportar. Em consequência o mercado interno foi prejudicado pois como a oferta diminuiu , os preços subiram. “A alta do dólar favoreceu o aumento da inflação. Em contrapartida, foi muito bom para os produtores”.

Ele concorda que apesar do recuo do dólar não é possível perceber ainda os seus reflexos nos preços, o que deve ocorrer em médio prazo. “Justamente em função do conflito é que não sentimos a redução dos preços ainda. Apesar do recuo, a guerra está potencializando a inflação em todo o mundo”.

Previsões

De acordo com Mariana Gonzalez, especialista em mercado financeiro do ISAE Escola de Negócios, uma combinação de fatores locais e externos trouxe um forte fluxo de capital estrangeiro que contribuiu para o ganho de força do real, entre eles a alta da taxa de juros básica. “Em termos de juros, sempre fomos um país atraente do ponto de vista do investidor estrangeiro, com uma das mais altas taxas do mundo comparado aos pares emergentes. Agora, com a Selic a dois dígitos e com possibilidade de ultrapassar 13% ainda neste ano, mais ainda”, diz.

Outro fator importante é o preço descontado das empresas brasileiras na bolsa de valores, que apontam grande fluxo de capital estrangeiro não só para renda fixa. “Observamos um grande interesse externo nas empresas brasileiras listadas na bolsa que estavam sendo negociadas a preços relativamente baixos, com uma das melhores relação preço/lucro desde a pandemia”, afirma a especialista.

Os números positivos nas exportações também são responsáveis pela valorização do real brasileiro. “Nosso país é um grande exportador mundial de commodities, como o minério de ferro e a soja. O preço das commodities em alta e as safras recordes fizeram com que tivéssemos o maior saldo positivo histórico entre as exportações e importações”, comentou. Dados da Secretaria de Comércio Exterior mostram que o superávit atingiu o patamar recorde de US$ 61,2 bilhões em 2021, um acréscimo US$ 10,8 bilhões em relação ao saldo de 2020.

Contudo, a especialista não enxerga esses fatores como sinais de que o dólar deve continuar em patamares mais baixos ou mesmo ter um novo recuo temporário. “Temos um ambiente de muitas incertezas e o atual consenso de mercado é que podemos ter o dólar em R$ 5,30 para o fechamento do ano”, aponta.

Segundo ela, podemos presenciar forças contrárias voltando a elevar o câmbio, como por exemplo a inflação americana pressionando o Banco Central Americano a subir suas taxas de juros. “Além disso, o cenário político brasileiro segue desfavorável, devido à aproximação das eleições, o abandono das reformas estruturais e a constante ameaça ao teto de gastos. Esses são motivos pertinentes que podem reverter o fluxo positivo da moeda estrangeira”, finaliza Mariana Gonzalez.

Fonte: JCAM

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