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Qual o Futuro do Polo Industrial de Manaus?

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03/03/2020

Augusto Barreto

Praticamente todos que vivemos em Manaus e dependemos direta ou indiretamente do Polo Industrial de Manaus (PIM) o apoiamos e fazemos a sua defesa intransigente. Há várias e incontáveis maneiras de defender a indústria na Zona Franca de Manaus. Todavia, temos dificuldade extrema de realizar autocríticas. Quando alguém fala um detalhe, de um mínimo ponto fraco, todos os demais olham como um “inimigo”. Quem dera o mundo fosse tão simples quanto rotular “amigos” e “inimigos”. Este talvez seja o maior problema que o Amazonas enfrenta para o seu desenvolvimento. Sem percepção de pontos fracos é difícil melhorar um sistema e a entropia nos arrasta para a autodestruição.

Cerca de quatro anos atrás escrevi que “é infantil pensar que basta prorrogar os incentivos fiscais para manter os investimentos”. Evolui este pensamento para esta reflexão: é tolice pensar que basta possuir incentivos fiscais para atrair investimentos. Precisamos de muito mais que isso. Estamos em uma encruzilhada, com a Indústria 4.0 batendo na porta e com deficiências seculares de infraestrutura. Estamos no século de alta velocidade, simplicidade de operações, transparência, abundância de infraestrutura, carência de cérebros e excesso de recursos nos países desenvolvidos, desde que sejam para geração de riquezas novas.

Em todos os lugares – e aqui também – faltam pessoas. Elas não nascem em árvores e é fundamental uma grande interação entre as universidades e os empresários para que seja viável fluir uma economia do conhecimento, fazendo uso responsável de nossos recursos naturais. 2020 começou com as bolsas mundiais quebrando recordes de crescimento. O Coronavírus mudou todo o cenário: o mundo saiu de um otimismo só para um grande pessimismo.

Economicamente, o PIM não está nem perto de seu auge. Ademais, os sinais de um governo liberal não param de jorrar por todos os lados. Precisamos com urgência associar os negócios da região com a natureza da região. Há dezenas de Espadas de Dâmocles pairando sobre nossas cabeças. Entretanto, não há uma ideia clara ou consensos mínimos sobre o que ou como é mais acertado conduzir a economia na região e, toda vez que se fala algo, para mínimas análises de alternativas, há um estremecimento de ânimos e uma grande má vontade em fazer algo diferente do que já foi feito no passado: defender os incentivos fiscais. Precisamos de outras notas nesta sinfonia.

A Biotecnologia precisa ser um setor central do PIM. Precisamos de muito capital de risco privado para financiar empreendimentos múltiplos na região. Acredito em um índice específico para este negócio, atraindo fundos e empresas globais, usando o mesmo conceito da Nasdaq, com o seu Biotechnology Index (NBI), adotado para empresas do setor farmacêutico e de bionegócios nos EUA. Em 2019 ele cresceu mais de 27%. Precisamos que a liberalidade chegue na Amazônia, criando um ambiente fértil para a expansão de outros negócios que não os destruidores da natureza, onde se possam correr riscos calculados para o desenvolvimento de empreendimentos de curto, médio e de longo prazo, explorando responsavelmente os recursos da floresta.

Tememos dizer que não dominamos a nossa floresta e a biodiversidade local. Precisaremos de muitos cérebros brilhantes juntos para começarmos a fazer e a produzir riqueza na região. É necessário abandonar o discurso que há uma riqueza na região. O que há aqui é uma abundância de recursos que precisam ser usados com sabedoria para que eles sigam a ter relevância nos próximos séculos.

E a indústria do PIM? Ela precisa ser relevante e pujante para termos fonte de vida econômica. O PIM é uma transição para um mundo melhor? Tomara que sim. O que não podemos é entender que o PIM é o fim do caminho. Não podemos perceber a indústria da ZFM como sendo o fim e a única alternativa para atividades econômicas no Amazonas. O que não quer dizer de maneira alguma que poderemos prescindir dele. É necessário reconhecer que estamos atrasados para a criação de riquezas de forma alternativa.

O futuro é sempre incerto. No Amazonas vivemos um futuro incerto rodeado de riquezas e de barreiras para acesso à estas riquezas. Até quando? Para nos acalmarmos há uma área industrial de tamanho expressivo, que costuma ser atacada por todos os lados. Precisamos urgentemente encontrar uma forma responsável de não desperdiçar a oportunidade histórica que temos. Será que conseguiremos reger e viver esta sinfonia?

*Augusto Barreto Rocha é doutor em Engenharia de Transportes (COPPE/UFRJ), professor da UFAM (Universidade Federal do Amazonas), diretor adjunto da FIEAM, Coordenador da Comissão de Logística do CIEAM.

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