11/07/2019
Notícia publicada pelo site Valor Econômico
A produção de motos em junho caiu 32,7% na comparação com maio. Essa redução tem um efeito sazonal esperado, já que o mês passado tem menos dias úteis em relação a maio e nesse período é comum a concessão de férias. Até mesmo as festas juninas são apontadas como responsáveis pela menor procura por motos, principalmente no Nordeste. Mas neste ano houve também problemas com falta de produtos, sinalizando que o setor está chegando na sua capacidade máxima de produção com a atual estrutura. No mês passado foram montadas 68 mil motos, contra 110,1 mil em maio.
Das linhas de produção no Brasil já saíram mais de dois milhões de unidades
anuais em dois momentos: 2008 e 2011. A previsão para este ano é de 1,1
milhão de unidades. Então a princípio haveria uma folga significativa para
garantir o abastecimento. Mas retomar a capacidade máxima não é um
processo tão simples depois do mercado ter caído para 883 mil unidades em
2017 e os fabricantes terem reduzido a estrutura produtiva para esse nível.
Marcos Fermanian, presidente da Abraciclo, entidade que representa os dez
fabricantes com linhas de produção no Polo Industrial de Manaus, admitiu
que houve falta de alguns modelos no mês passado, por conta de
fornecimento de componentes, e que a indústria está num momento de
mudança de patamar. O crescimento de produção no primeiro semestre foi
de 8,4%, com a montagem de quase 537 mil motos. "O crescimento nos
pegou de surpresa", afirmou Fermanian ontem, durante apresentação dos
números do setor.
Ele diz que nos últimos seis meses, diante dos sinais mais consistentes de
retomada das vendas, os fabricantes anteciparam negociações com os
fornecedores para garantir o aumento da produção. Mas o efeito não é
imediato. Ele lembra, por exemplo, que o aumento da importação de peças
não é imediato. "Mas não se trata apenas de falta de componentes. É um
pouco de tudo. A atual capacidade instalada das fábricas, mão de obra,
mudanças no processos de produção", disse. "Parte da estrutura que
permitiu as duas milhões de unidades foi desarticulada e é uma tarefa difícil
retomar isso no curto prazo."
Elevar a produção, portanto, passa por acreditar que o atual ritmo de
crescimento vai se manter e exige investimento em pessoal e equipamentos.
Um componente que cria incerteza nesse cenário de curto prazo é a discussão
da reforma tributária que deve ocorrer neste segundo semestre, e o futuro
dos incentivos da Zona Franca de Manaus, criada em 1967. A Abraciclo
divulgou um estudo, encomendado à Fundação Getúlio Vargas (FGV), que
vai servir de base pelo setor para defesa da atual estrutura tributária na
região
"O trabalho da FGV demonstra que a indústria, que sob ótica do Fisco dá
prejuízo ou despesa fiscal, é o contrário. Consolidando todos os aspectos
envolvidos, de movimentação da economia, tem saldo positivo", afirma o
presidente da entidade. Fermanian alega que muitas das pessoas que
criticam os incentivos sequer conhecem a região.
Quanto ao primeiro semestre, a queda das exportações acabou minimizando
o fato do setor ter atingido sua atual capacidade de produção. Sempre em
relação ao primeiro semestre de 2018, as vendas para concessionárias
somaram 528.720, alta de 17,2%. As vendas no varejo somaram 530.034 no
semestre, expansão de 16%. E as exportações caíram 50,3%, ainda por conta
da crise econômica na Argentina, com o embarque de apenas 20,4 mil
unidades
"O ritmo atual [no mercado interno] sinaliza a retomada consistente dos negócios e é reflexo do aumento da concessão de crédito nas operações de varejo", afirmou Fermanian. A Abraciclo mantém a projeção de produzir 1,1 milhão de motos em 2019, alta de 6,1% no ano.