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Preço de industrializado importado cai e atenua "efeito câmbio"

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19/05/2014

Os preços de importação de bens industrializados, em dólar, caíram em 10 de 22 setores nos últimos doze meses (até março) e ajudaram a atenuar o efeito da desvalorização do real sobre os preços domésticos. A ajuda, contudo, foi pequena. Em março, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a inflação dos preços industriais, medida pelo Índice de Preços ao Produtor (IPP), acumulava alta de 7,96% em relação a março do ano passado. Em reais, os preços de importação subiram 15%, em média, levemente abaixo da desvalorização do real no período. Setorialmente, contudo, algumas contribuições foram mais expressivas, como em móveis (queda de 6,5% no preço em dólar) e farmacêuticos (queda de 12% em dólar), segundo dados da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex).

Transformados em reais, a elevação dos preços de importação de 21 dos mesmos 22 segmentos superou o preço cobrado no mercado interno pelo respectivo setor, na mesma comparação indicando que matérias-primas e bens finais importados influenciaram custos e preços no mercado doméstico. Sem redução no preço dos importados em dólar, porém, a influência seria maior. "A queda dos produtos importados, em dólar, amorteceu o impacto da desvalorização cambial. Sem ela, a inflação seria ainda maior", pondera Julio Sérgio Gomes de Almeida, professor da Unicamp e ex-secretário de Política Econômica.

O coeficiente de insumos importados varia muito, mas a média no setor de transformação é de 25%, sendo essa a parcela dos custos diretamente afetada pela importação.

Renato da Fonseca, economista da CNI, observa que o impacto varia de acordo com o tamanho da cadeia de produção. Quanto mais longa (em número de etapas), mais o aumento do custo provocado pela importação pode ser diluído. Quanto mais curta, mais difícil fica essa absorção.

O câmbio, por outro lado, também ajudou a reduzir o peso dos salários. Série calculada pelo Banco Central (BC) aponta que o custo unitário do trabalho em dólar (um indicador que mede como variou o elemento mão de obra no custo de produção de uma mercadoria) caiu 10% no primeiro trimestre em relação ao mesmo período do ano passado. Apesar da desvalorização do câmbio, esse custo ainda havia subido 5% no ano passado por conta dos aumentos reais de salários.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) desenvolveu um indicador de custos industriais e ele apontou que no ano passado os preços cobrados pela indústria superaram a evolução de custos (que caíram com ajuda da energia elétrica, da desoneração e dos juros menores). Essa situação permitiu ao setor industrial recuperar parte da rentabilidade perdida nos anos anteriores, diz Renato da Fonseca, economista da entidade. Para este ano, a percepção de Fonseca é que os custos vão subir, de novo, acima dos preços, impondo nova contração de margem.

O empresário também conseguiu compensar parcialmente o aumento de custos provocado pela desvalorização de real pelo aumento dos preços de exportação. Além da rentabilidade obtida com a valorização do dólar, um terço dos exportadores aumentou os preços de venda em dólar, aponta a série da Funcex.

Na exportação, a combinação de câmbio e preço ajuda a indústria a recuperar parte da competitividade perdida, embora esse movimento já seja menos vigoroso. Almeida pondera que apenas entre março e abril deste ano a desvalorização do real na comparação anual passou de uma alta de 17% para 11%, mudando bastante a perspectiva de ganho da indústria exportadora.

Na ponta da exportação, diz Fonseca, economista da CNI, a percepção é que os ganhos provocados pela desvalorização do câmbio estejam se esgotando. A questão, pondera ele, é que, além do câmbio, os preços do Brasil sobem mais do que no resto do mundo. Além de custos estruturais mais elevados (energia e tributos, entre outros itens), "o Brasil é mais caro também por conta do processo inflacionário", diz ele. Ele se refere aos preços dos serviços e de outros bens. "Quando a inflação chega a 6% já se sente um reajuste automático de todos os preços", pondera.

Enquanto o Brasil precisa combater uma inflação mais elevada por conta, entre outras razões, dos efeitos da desvalorização do real, o Banco Central europeu enfrenta problema inverso. A preocupação por lá é com a baixa inflação (quase deflação) influenciada pela queda no preço das importações, cujo valor alcança cerca de 40% do PIB europeu, percentual bem mais expressivo que o peso de 15,1% no PIB brasileiro.

E além dos preços em queda, o euro se valorizou em relação ao dólar (cerca de 7% em março em relação ao mesmo mês do ano passado). "O efeito sobre os preços domésticos, portanto, é distinto do que ocorre no Brasil. Lá, a importação está tendo um efeito deflacionário sobre a economia", pondera Paulo Gala, estrategista do banco Fator. Para o Brasil, além dos 17% de encarecimento de insumos e peças por conta da relação entre o real e o dólar, os produtos quem vêm da Europa sofreram mais 7% de desvalorização. "O efeito é de 24%", pondera Gala.

Olhando para os preços de exportação, Almeida, da Unicamp, vê dois grupos distintos de setores. Em um deles estão aqueles que "colocaram a desvalorização no bolso" e ficaram como todo ganho possível. Esses são aqueles que mantiveram ou aumentaram os preços em dólar, como o segmento de vestuário, calçados e têxteis, a farmacêutica, produtos de madeira, máquinas e material eletrônico. O outro grupo reúne aqueles onde as empresas se mostraram dispostas a reduzir o preço para ganhar competitividade e, consequentemente, mercados. Nesses se destacam móveis, máquinas e equipamentos, outros veículos de transporte e veículos automotores.

Fonte: Valor Econômico

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