07/10/2014
“Estive na Alemanha e acompanhei um desembarque que teve duração de menos de um minuto. Esse mesmo trabalho aqui em Manaus dura até cinco minutos. Isso no caso de um contêiner de 20 pés”, diz o doutor em logística e transporte, Jorge Campos. Ele explica que o setor portuário da capital necessita de melhor infraestrutura quanto ao embarque e desembarque de mercadorias e destaca as deficiências tecnológica e de mão de obra como as principais problemáticas.
Segundo Campos, os órgãos envolvidos no processo de desembarque de cargas, como a Receita Federal, a Polícia Federal, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), dentre outros, precisam de reforço de pessoal nas dependências dos portos. Ele reclama que em algumas situações o processo se torna ainda mais demorado por falta de um agente no seu posto de trabalho. Ele ainda ressalta a importância do funcionamento dos portos durante as 24 horas do dia. “É preciso pensar na integração dos diversos atores envolvidos na liberação das cargas existentes em um navio. Algumas vezes o trabalho atrasa por falta de um profissional. Também é importante que o porto funcione sem interrupção”, avaliou. “Há países que já utilizam um equipamento comparado a um raio-X que lê o que está dentro do contêiner sem que haja a necessidade de abrir as embalagens”, comparou.
Para o coordenador da comissão de logística da Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas) e do Cieam (Centro da Indústria do Estado do Amazonas), Augusto Rocha, os principais gargalos enfrentados pelo setor portuário, concernentes à cabotagem, concentram-se na ausência de um porto público e na falta de operadores. Ele explica que os portos privados têm a liberdade de determinar os valores cobrados pelos serviços oferecidos, custo que segundo o coordenador, seria bem menor caso a estrutura utilizada fosse da esfera pública. “É a soma do custo Brasil com o custo Amazonas que estão relacionados à deficiência portuária e ao alto custo operacional oferecido pelas empresas, problemas na internet e ainda à baixa concorrência”, considerou.
Cabotagem x transporte rodofluvial
De acordo com Jorge Campos, a cabotagem é o modal mais viável para o Amazonas porque permite o transporte de cargas durante todo o ano. O trajeto percorrido pelos navios compreende o seguinte trecho: Oceano Atlântico e rio Amazonas até Manaus. Ele afirma que saindo de São Paulo com direção a Manaus, a carga demora em média 18 dias para chegar à capital amazonense. “O navio se torna cada vez mais competitivo devido ao ganho em tecnologia e ainda por ser um transporte seguro”, disse.
Campos comenta que no rodofluvial o tempo de trajeto de uma carga é em média 12 dias ainda necessita da disponibilidade de até dois motoristas para revezarem durante a viagem, que pode ter distâncias de 900 e 1,3 mil quilômetros. “Dependendo do peso da carga o navio é a melhor opção. Também é preciso considerar que nesse modal há uma limitação no trecho do rio Madeira, que fica intrafegável nos meses de agosto e setembro”.
Campos disse que o transporte rodofluvial custa em média R$ 700 a tonelada, um valor que sofre variação conforme o mercado. Ele não soube informar o valor da cabotagem.
Para o doutor, a cabotagem ainda apresenta vantagens como a segurança, o volume de carga permitida de até 2,8 mil teus em conteiners de 20 pés. “O rodofluvial comporta até 30 toneladas e ainda tem a questão da insegurança”.
O coordenador Augusto Rocha considera os dois modais viáveis para o Amazonas. Ele defende que cada um tem o seu perfil e as suas vantagens. Ele ainda explicou que conceitualmente a cabotagem é mais barata do que o rodofluvial, mas na prática, em Manaus a situação é inversa. “Aqui em Manaus a cabotagem tem o custo equivalente ao do rodofluvial por conta dos problemas portuários”.
Os principais destinos utilizados na cabotagem são: Santos (SP), porto de Suape (PE) e Salvador (BA).
Fonte: JCAM