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Por que Manaus deixou de ser o 'Eldorado dos eletroeletrônicos'?

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25/03/2019

Notícia publicada pelo Em Tempo Online

Rebeca Mota

Desde a criação, o Polo Industrial de Manaus (PIM) teve seu período de apogeu, porém, atualmente, enfrenta os desafios e impactos de uma crise econômica nacional, que afetou vários setores da indústria, com demissões e ajustes. Um dos setores que sofreu os efeitos da recessão econômica foi o polo de eletroeletrônicos.

Decisões políticas e até retirada de incentivos têm desestabilizado a Zona Franca de Manaus (Suframa). Prova disso, é a saída de algumas fábricas do PIM, como a Siemens, que encerrou a produção em julho do ano passado. Nesse cenário, setores como o de eletroeletrônicos correm sérios riscos.

Conforme o professor e historiador Aguinaldo Figueiredo vários fatores contribuíram para que Manaus deixasse de ser o "Eldorado dos eletrônicos", como o envelhecimento do próprio modelo da Zona Franca e a falta de adequação ao comércio globalizado.

“A Zona Franca não cabe mais nessa postura neoliberal da economia. Com a abertura de importações no início do Governo de Fernando Collor, houve um agressivo desmonte do setor industrial e migrações de fábricas para outros lugares mais competitivos”, destaca.

Para o historiador, há uma concorrência mundial apesar das fábricas instaladas serem multinacionais.

“Independentemente da tecnologia e das suas próprias matrizes multinacionais, outros países passaram a entrar nessa disputa. Na verdade, a Zona franca ficou mais como uma espécie de galpão de montagem. O processo criativo e da inovação tecnológica não é local. As fábricas aqui não têm esse link com o investimento em pesquisa”.

Fim do comércio de importados

“O comércio de produtos importados em Manaus foi prejudicado no governo Collor. Antes disso, já sofreu um golpe no governo militar, no final da década de 70. Neste período, o modelo comercial foi severamente afetado, principalmente com a limitação das importações e das vendas dos produtos que aqui eram comercializados. Para os produtos saírem daqui era estabelecida uma cota. Ainda assim, turistas vinham aqui comprar mercadorias. O mercado foi aberto no governo Collor e então foi possível comprar esses produtos em qualquer lugar do Brasil, até mesmo em outro país. E daí ficou caro vir a Manaus comprar esses produtos. Praticamente, esvaziaram o comércio local”, explica o professor Aguinaldo.

Suframa

Aguinaldo explica que a Suframa tem sofrido novas ameaças por conta das decisões do Ministro da Economia, Paulo Guedes, da equipe do presidente Jair Bolsonaro.

“Nossa Suframa pode sofrer severas retaliações ou até mesmo, como já está acontecendo, um abandono por parte do órgão gestor”.

A Zona Franca precisa de inovações tecnológicas

O economista Wallace Meireles destaca que hoje as pessoas buscam por tecnologia de ponta, que nem sempre é oferecida pelo PIM. Com acesso irrestrito da internet, nesta ânsia de ter o mais moderno modelo do produto, eles preferem trazer de outros lugares, ou de outros países, essa tecnologia mais sofisticada.

“No caso do Polo Industrial, temos uma tecnologia que não é de primazia. Já é uma linha mais defasada se comparada com produtos dos países de origem. Então, nós convivemos diariamente com essa concorrência de fora. Para nos igualarmos comerciante, precisamos urgentemente de sofisticar a tecnologia que oferecemos aos nossos consumidores”.

Para Meireles é necessário diversificar a produção e fazer investimentos tecnológicos na indústria.

“Se for no Sul e Sudeste, automaticamente eles já contam com mais competitividade. Ainda existe o nosso problema de logística, que precisa ser resolvido", declarou.

'A confiança do empresário começa voltar agora'

O vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam), Nelson Azevedo, acredita que a Zona Franca continua sendo o Eldorado dos eletrônicos.

“Ainda temos competitividade, mas de qualquer forma temos que estar vigilantes com as mudanças que possam ocorrer, porque ainda somos um dos setores mais expressivos na nossa região. Não pode haver alteração para ficarmos em desvantagem com o restante do país. Podemos ter prejuízos, não só na parte do faturamento, mas também em relação a investimentos e empregos”.

Para Azevedo, a recuperação da economia. é fundamental para o modelo.“Vamos aguardar mais uns 60 dias. A coisa certa é que a confiança voltou. Quando você ganha um pouco mais de confiança, significa dizer que está havendo uma melhora no ambiente do negócio”.

Ele destaca que o setor está mantendo as vantagens comparativas para ser competitivo não só com o restante do Brasil, mas com o comercio internacional.

“Buscamos manter o equilíbrio. É essa nossa preocupação, pois caso contrário perde as empresas e o governo que deixa de arrecadar”.

Um pouco da história

A Zona Franca de Manaus surgiu décadas após o fim do Período Áureo da Borracha. De acordo com dados históricos, a Amazônia começou a entrar na rota da produção industrial com o apogeu do Ciclo da Borracha, no final do século 19, por volta de 1886.

O declínio da produção de látex e do beneficiamento da borracha ocasionaram um cenário de ostracismo econômico que antecedeu o surgimento da Zona Franca de Manaus.

Quando surgiu, na década de 60, no governo militar, a Zona Franca de Manaus trouxe esperança, emprego e investimentos para o Amazonas. O modelo é fundamental para a economia do Estado. Sem ele, a economia de todo o Estado estará comprometida.

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