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Pobreza do interior do AM reflete ausência de projetos econômicos

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07/12/2020

Fonte: EM TEMPO

Embora abrigue um Polo Industrial com capacidade para gerar cerca de 500 mil empregos em sua capital, o Amazonas ainda está longe de fomentar oportunidades suficientes de emprego para seus 62 municípios. Não à toa, cerca de 33,6% dos amazonenses viviam na extrema pobreza, de acordo com o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2010).

Mesmo que não faça parte da estatística da pobreza, boa parte dos trabalhadores (informais ou não) também não vive em boas condições, segundo o IBGE. Um exemplo é que, em 2019, a média salarial do amazonense foi de R$ 842, um valor menor do que o salário mínimo.

A agricultora Idaelza Bentes Ribeiro sente de perto o peso dessa realidade desigual na economia. Ela mora na comunidade Maracá II, no município de Borba (149 km de Manaus, em linha reta). Com dois filhos para criar, a ribeirinha recorre ao cultivo "do que der dinheiro", como ela mesma destaca.

Agricultora estava no porto de Nova Olinda do Norte

Agricultora estava no porto de Nova Olinda do Norte | Foto: Brayan Riker

"A gente planta macaxeira, maracujá, feijão, banana, pimenta, cebola e até começamos a criar galinha agora. Quando a gente acerta na produção, dá para viver com o dinheiro que vem. Mas quando ocorrem dificuldades, aí fica meio ruim", explica ela.

Um dos grandes empecilhos para o 'fábrico', como ela chama a produção, é a cheia dos rios. Idaelza diz que já perderam tudo por conta disso. É um trabalho incerto, em que não se sabe qual será o lucro ao final do mês.

Insegurança econômica é sentimento recorrente

No porto da cidade de Nova Olinda do Norte quando conversou com a reportagem, Idaelza estava junto do esposo, Selmo de Souza Reis, pescador da região. Ambos foram à sede do município para vender as mercadorias.

"Geralmente o período da pesca começa em julho e vai até o final de setembro. Quando está dando bem o peixe, a gente consegue R$ 300 e até R$ 500 por semana, sem contar as despesas", conta Souza.

Pescador já morou em Manaus, mas se mudou para o interior ainda na infância

Pescador já morou em Manaus, mas se mudou para o interior ainda na infância | Foto: Brayan Riker

Com toda essa incerteza de uma renda fixa, o pescador diz que precisa "usar o modo dos economistas" para se manter, o que significa, que costuma "economizar para poder conseguir chegar ao final do mês sem estar devendo a ninguém".

No município em que o casal vive, Borba, havia 13.123 pessoas vivendo em extrema pobreza, em 2010, segundo o IBGE. A sigla também estima que a população atual da região seja de 41.748 habitantes.

Família de pescadores e agricultores a caminho de sua casa, no Rio Madeira

Família de pescadores e agricultores a caminho de sua casa, no Rio Madeira | Foto: Brayan Riker

Principais polos econômicos

O Amazonas possui 1,5 bilhões de km² (1.559.167,889 km²), o que significa que toda a França poderia caber duas vezes em todo o território do maior estado do Brasil. Em sua extensão, a unidade federativa é banhada por rios e florestas, sendo que o principal meio de transporte é o fluvial.

Manaus é o principal motor econômico do Amazonas, e de onde sai 77% do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado. Atrás da capital e a sua Zona Franca, vem Coari e Itacoatiara com a indústria extrativa.

Dentre as cidades com maior poder econômico, há também as que concentram maior nível de pobreza. Confira os dados de uma pesquisa realizada pelo Atlas ODS Amazonas, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).

Nível de extrema pobreza por municípios

Nível de extrema pobreza por municípios | Foto: Divulgação/Atlas ODS Amazonas

Só pouco mais da metade dos amazonenses (65,1%) trabalha de carteira assinada, o que coloca o estado na 12º posição em um ranking de empregos por unidades federativas do Brasil. Por outro lado, para compensar essa informalidade, o Amazonas é o terceiro com trabalhadores autônomos, com 34,3%. Ambos os dados são do IBGE.

"Falta projeto para gerar renda"

O economista Osíris Silva faz uma análise sobre o cenário apontado acima, e diz que uma solução para a desigualdade de oportunidade nos empregos seria a criação de um plano econômico sustentável que pudesse abrigar toda a população do Estado.

Cientista econômico defende a criação de polos econômicos sustentáveis no interior

Cientista econômico defende a criação de polos econômicos sustentáveis no interior | Foto: Brayan Riker

"O interior é pouco expressivo em termos econômicos, portanto a vida das pessoas é simples. Os que estão na zona rural se apegam à terra e à pecuária, e nas cidades a predominância é de funcionários públicos e comerciantes. Em ambos os casos, há presença de benefícios governamentais, sobretudo o Bolsa Família", detalha o especialista.

Ele defende o que chama "interiorização do desenvolvimento", e explica que o Amazonas possui grandes possibilidades para explorar seus recursos de maneira sustentável.

"Cada calha de rio tem uma vocação, como pesca, agricultura, mineração. O grande desafio é implantar essa bioeconomia [exploração sustentável], o que necessita de esforços dos órgãos competentes, reunindo governo estadual, Conselho da Amazônia, centros de pesquisa e universidade. Com a junção de todas as siglas, poderia ser possível encontrar uma solução para isso", comenta Osíris.

Desafios do desenvolvimento na floresta

A história do Amazonas e de toda a região é marcada pela exploração desordenada e a falta de um plano amplo que pudesse criar condições iguais para uma economia sustentável, o que causou desmatamento e destruição na Amazônia. É o que demonstra o artigo 'O Desenvolvimento Econômico na Amazônia Legal: seus Impactos Sociais, Ambientais e Climáticos e as Perspectivas para a Região', escrito por Marina Courrol Ramos

"

Não estamos diante de uma solução única, mas sim da necessidade de implementação de um conjunto de ações e políticas públicas socioambientais que deverão ser integradas."

Marina Courrol Ramos, Especialista em Direito Ambiental

No trabalho, a autora dá exemplos históricos do quanto a região já passou por processos de desenvolvimento, todos marcados por pouco ou nenhum sucesso, e com muitos danos ambientais.

O grande ponto, segundo ela, é como pode ser pensado um plano de desenvolvimento que gere renda, mas também não seja prejudicial à biodiversidade da mata. Além disso, que não concentre o lucro da exploração na mão de poucos, deixando os amazônidas apenas como mão de obra barata.

"Faz-se necessário modificar o perfil das atividades econômicas que se desenvolvem na Amazônia Legal, não só em razão da questão ambiental, que afeta a todos, como também devido ao aspecto social, que afeta a população tradicional da região[...] enquanto houver o abismo social que caracteriza a região, em que uma minoria se beneficia com a exploração indiscriminada dos recursos florestais, enquanto a maioria vive em condições de miséria, a proteção ambiental não será efetiva, portanto, não se poderá falar em governança ambiental eficiente", ressalta Courrol Ramos.


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