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‘Plano pós-guerra’ tornará ZFM essencial para a recuperação do Brasil

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20/04/2020

Fonte: EM TEMPO

MARIA EDUARDA OLIVEIRA

Diante da crise gerada pela aceleração descontrolada do novo coronavírus (Covid-19), em Manaus, conceitos estabelecidos depois da Segunda Guerra Mundial, para recuperar a economia dos países afetados por ela, ressurgem para economistas e historiadores como solução para o Brasil e o Amazonas, aos efeitos catastróficos da pandemia, que já começaram a serem sentidos sobre a economia mundial.

A ideia do Plano Marshall que, com a intervenção do estado, ajudou a reativar a economia dos países aliados no pós-guerra, também serviria para fortalecer a indústria nacional, especialmente o parque fabril instalado na Zona Franca de Manaus (ZFM), segundo os especialistas. Eles afirmam ainda que, o modelo econômico, se olhado com a atenção devida pelo governo brasileiro, será uma grande aliada na recuperação nacional na pós-pandemia.

Hoje, em meio à guerra que se vive contra a Covid-19, que já contaminou quase 2 mil amazonenses, desde o dia 13 de março deste ano - a grande maioria em Manaus -, e já matou quase 150 pessoas (dados de sexta-feira, dia 17 de abril), o Amazonas se vê com as portas do comércio não essencial fechadas e, aproximadamente, 50 mil trabalhadores do Polo Industrial de Manaus (PIM) em casa. Ações essas tomadas pelo estado e empresários, como medida de distanciamento social para diminuir o risco de contaminação.

A ideia de conceder incentivos do governo para lidar com a crise do novo coronavírus vem sendo defendida em várias partes do mundo. O secretário geral da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Ángel Gurría pediu aos que países adotem planos coordenados contra a crise. “Precisamos de liderança, conhecimento e um nível de ambição similar ao Plano Marshall”, afirmou.

O presidente do Conselho Regional de Economia do Amazonas (Corecon-AM), economista Francisco Assis Mourão Junior, afirma que a crise ocasionada pela pandemia da Covid-19 irá refazer toda a economia mundial. Segundo ele, fazendo uma analogia com o Plano Marshall, implementado em 1947 pelos Estados Unidos da América (EUA), a tendência é que futuramente os países busquem recuperar os setores essenciais.

“O Plano Marshall foi criado no pós-Segunda Guerra para recuperar os segmentos essenciais da economia europeia, de maneira que o continente não caísse em uma profunda recessão. Acredito que um planejamento a longo prazo será necessário no ‘pós-pandemia’. É preciso visualizar a recuperação da economia por meio de estratégias, definindo quais setores devem receber futuros investimentos”, salienta Mourão Junior.

Protecionismo

Segundo ele, muitas modificações irão ocorrer e uma tendência ao protecionismo poderá ser observada. “Creio que os países irão buscar uma maior independência em relação à China e vão focar mais em suas economias. Intervenções do Estado, baseadas no Keynesianismo, serão necessárias para que possamos nos recuperar da crise”, avalia o presidente do Corecon-AM.

O economista salienta que, quando fala em dar mais atenção à economia interna, pensa na ZFM como um modelo que já faz isso e que deverá ser mais influenciado pelo protecionismo no pós-crise. “Sei que haverá uma retomada do modelo ZFM. Nós já temos um parque pronto e já fazemos esse tipo de política de fortalecimento do mercado interno com a substituição de importações. Quando a crise passar, teremos uma ZFM muito mais forte”, assegura.

Intervenção do estado

O mestre em História pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Hosenildo Gato Alves, descreve os antecedentes do Plano Marshall e o caracteriza como um pacote de ajuda econômica, criado pelo governo norte-americano a partir da Segunda Guerra Mundial, que visou a reconstrução dos países europeus.

“Nessa época, observamos o surgimento da política do Bem-Estar Social, onde o Estado capitalista intervém na economia para a criação de uma série de direitos sociais para os trabalhadores. Nesse sentido, veremos a presença da Teoria Keynesiana, ou seja, a intervenção do Estado na economia. No pós-guerra, essas medidas se tornaram práticas comuns, uma vez que os Estados precisavam amenizar o caos da economia”, explica Hosenildo.

O historiador relaciona o período com o momento de crise que o mundo vivencia atualmente e conclui que a prática do Keynesianismo deverá ser levada em consideração para que a economia possa se recuperar futuramente.

“Alguns economistas já estão dizendo que precisamos deixar o Liberalismo de lado se quisermos uma reconstrução da economia no ‘pós-pandemia’. Isso porque o Liberalismo é totalmente contra o que o Estado está fazendo agora, intervindo na economia ao criar sanções para empresas e evitar que pessoas trabalhem por conta do vírus. Sabemos que está na hora do Estado pegar suas reservas e criar planos de ajuda para empresas e trabalhadores, diminuir impostos e perdoar dívidas”, clarifica Hosenildo.

Sobre a ZFM, Hosenildo destaca que, se o governo federal continuar atacando o modelo por meio do Ministro da Economia, Paulo Guedes, o projeto não poderá ajudar na recuperação da economia futuramente. Será necessário que os representantes repensem suas opiniões sobre o PIM e que criem ações para diminuir os impostos, possibilitando a atração de empresas para a região.

“Devemos lembrar que a ZFM é um projeto de intervenção do Estado na economia, iniciado pelo governo Vargas e que ganha força a partir de 1967 com o governo dos Militares. Essas empresas não vêm para o Amazonas por conta do clima, mas sim porque, com as isenções fiscais e benefícios, a produção aqui é mais lucrativa. No fim dessa crise, esse modelo será muito importante para reerguer nossa economia, mas isso só será possível se o projeto for mais livre e se tiver subsídios maiores para sobreviver”, finaliza.

Ataques à ZFM

A primeira crítica feita pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, ao modelo ZFM foi em abril de 2019, em entrevista à Globo News. O ministro afirmou que “a Zona Franca de Manaus fica do jeito que ela é, ninguém nunca vai mexer com ela” e completou que o governo federal não vai “ferrar ou desarrumar o Brasil para manter vantagens para Manaus”.

Em setembro de 2019, Guedes voltou a atacar o projeto, dessa vez dizendo que o mesmo é antieconômico e mal feito diante de uma plateia de empresários e políticos do Nordeste, ao falar sobre a reforma tributária.

Os ataques do ministro ao modelo já abriram uma crise entre os políticos do Amazonas e Guedes, que é contra os incentivos por provocar renúncia fiscal ao País. Na ocasião, o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, afirmou esperar que Guedes reconheça o “peso” do PIM, como faz a Organização Mundial do Comércio (OMC) na manutenção da floresta em pé.

Aliado do presidente Jair Bolsonaro, o deputado federal Alberto Neto (PRB) publicou, em redes sociais, texto em que disse estar “decepcionado” com o ministro. Já o senador Eduardo Braga (MDB) disse que Guedes desconhece as vantagens comparativas da ZFM e lançou um desafio ao ministro para um debate aberto.

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