05/07/2022
Reportagem: Marco Dassori
Twitter: @marco.dassori
O PIB do Amazonas avançou 8,55% nos três primeiros meses de 2022, quando comparado ao mesmo período do ano passado, sem levar em conta a inflação. Os R$ 32,64 bilhões obtidos de janeiro a março apontaram para um índice de crescimento superior ao da média nacional, que foi de 1,7%. A economia amazonense, no entanto, perdeu força em relação ao trimestre anterior (R$ 32,86 bilhões), que foi marcado por taxas de dois dígitos. O recuo de 0,67%, nessa medida. O Estado seguiu trajetória inversa ao desempenho global do Brasil, que foi 1% melhor, na mesma comparação.
A conclusão vem de estudo da Sedecti (Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação), a partir dos dados do Sistema de Contas Nacionais Trimestral, do IBGE. Mas, descontado o IPCA, o PIB do Amazonas tropeçou efetivamente em ambas as comparações, sob o peso da escalada dos preços e dos juros, após encerrar o ano já em ponto morto. O confronto com o valor obtido no mesmo período do ano passado (R$ 30,07 bilhões) indicou queda de 2,47%, em termos reais. O tombo ante o acumulado de outubro a dezembro de 2021 foi ainda mais forte (-3,76%).
Todos os setores subiram em preços correntes. A Sedecti não informa, no entanto, o desempenho real por atividade. O Jornal do Commercio apurou que, eliminada a inflação do período, indústria (+0,69%), serviços (+0,78%), agropecuária (+0,98%) e a rubrica de impostos (+0,72%) ficaram estatisticamente estagnadas ante o trimestre inicial de 2021 – período em que o Estado ainda atravessava a segunda onda da pandemia. Em relação ao trimestre anterior, os respectivos desempenhos foram praticamente todos negativos (-0,52%, -0,16%, +0,64% e -0,39%) e também próximos ao zero a zero.
Em linhas gerais, o estudo da secretaria estadual aponta que todos os setores avançaram na base nominal. Nessa medida, a economia amazonense teria sido puxada proporcionalmente pela agropecuária (+11,12%), que ainda é minoritária no bolo. O setor de serviços – que engloba também o comércio – respondeu por quase metade do PIB estadual e alta de 8,78%. A indústria (+7,83%), por outro lado, cresceu a uma taxa inferior à registrada pela receita tributária global do Estado (+8,20%).
Indústria desacelera
O levantamento indica que a indústria (R$ 9,76 bilhões) encolheu 1,33% na virada trimestral e 7,83% na base anual. Com isso, reduziu sua participação no PIB amazonense, de 30,10% para 29,89%, ante os três meses anteriores. Os melhores desempenhos anuais vieram dos subsetores de transformação (R$ 7,55 bilhões) e construção (R$ 929 milhões) – ambas com altas de 8,37%. Na sequência estão as indústrias extrativas (+7,42% e R$ 475 milhões) e os serviços industriais de utilidade pública (+4,48% e R$ 1,19 bilhão).
Em entrevistas anteriores à reportagem do Jornal do Commercio, o presidente da Fieam, Antonio Silva, assinalou que o setor enfrenta problemas de abastecimento de insumos e sofre sob a “contínua pressão sobre os preços”. O dirigente avalia que, mesmo diante de“problemas sistemáticos”, o PIM tem trabalhado dentro de “razoável estabilidade”, embora não descarte a possibilidade de “leves inflexões” nos próximos meses.
Outra performance abaixo da média veio dos impostos. Vale notar que a rubrica teve comportamento oposto no trimestre anterior. De janeiro a março, os valores contabilizados encostaram em R$ 5,22 bilhões, valor 8,20% superior ao do trimestre inicial de 2021 (R$ 4,82 bilhões), mas 0,95% abaixo do patamar do fim do mesmo ano (R$ 5,27 bilhões).
Serviços e agropecuária
Os serviços (R$ 16,05 bilhões) expandiram 8,84% ante 2021, em meio à maior retirada gradual das restrições sanitárias e da liberação de eventos com maior público. Ainda assim, houve recuo de 0,40% diante do trimestre precedente. Os melhores números vieram das atividades imobiliárias (+10,14%), e dos segmentos de alojamento e alimentação (+9,31%), e de informação e comunicação (+9,11%). Apontado como uma costela dos serviços, o comércio (R$ 2,94 bilhões) avançou 9,31% e 0,03%, respectivamente.
O presidente em exercício da Fecomercio-AM, Aderson Frota, enfatizou, também em entrevistas anteriores, que a guerra na Ucrânia e a pandemia ainda pesam sobre a atividade econômica. Diante disso, o dirigente avalia que os resultados positivos podem ser considerados “pífios”, que o mercado de trabalho não reagiu como esperado, e que o consumidor ainda está emparedado pelo disparo dos custos e dos juros. Mas, ressalta que o cenário é de estabilidade e que o setor vislumbra melhorar no segundo semestre.
Minoritária, a agropecuária do Amazonas (R$ 1,61 bilhão), por sua vez, alcançou o melhor resultado anual da lista (+11,12%), além de ser o único setor a acelerar na virada do ano (+1,64%), a despeito dos impactos econômicos negativos da pandemia, da cheia recorde e da escalada dos custos de produção. Foi favorecida principalmente pela produção florestal e pela pesca (+11,97% e R$ 559 milhões) e, em menor grau, pela agricultura (+10,89% e R$ 875 milhões) e pela pecuária (+9,57% e R$ 178 milhões).
Pandemia e vulnerabilidade
A conselheira do Corecon-AM, ex-vice-presidente da entidade, e professora universitária, Michele Lins Aracaty e Silva, considera que a desaceleração do PIB amazonense na virada do ano é fruto de sazonalidade. Na análise da economista, os números refletem a recuperação da economia estadual, após as ondas da pandemia, com os setores respondendo a estímulos de mercado. Nesse cenário, o setor rural vem ganhando espaço, ao mesmo tempo em que a manufatura oscila e os serviços passam por recuperação gradativa, sob o avanço da vacinação. Os impostos, por outro lado, teriam acompanhado os movimentos das atividades, sem descolamentos.
Michele Lins Aracaty e Silva destaca que a desorganização da cadeia produtiva impactou todos os segmentos, mas lembra que muitos produtos passaram a ser mais demandados, em virtude de uma readequação da economia após a retomada das atividades. “O Amazonas foi um dos primeiros Estados a sofrer as ondas da pandemia e também um dos primeiros a receber o imunizante. Os resultados são animadores, visto que nossa economia foi severamente afetada pela crise sanitária, escassez de insumos e alta dos juros e do petróleo, além da inflação – que é um fenômeno mundial”, listou.
Para o também conselheiro do Corecon-AM, professor universitário e consultor empresarial, Francisco de Assis Mourão Junior, as quedas reais apresentadas no cálculo do PIB do Amazonas mostram os efeitos da pressão inflacionária e da progressão dos juros em uma economia já cambaleante em termos de consumo. Segundo o economista, o PIM seria mais vulnerável a essa conjuntura, que pode ficar pior nos próximos meses.
“Como a Zona Franca produz para bens de consumo para o mercado interno, sentiu de imediato essas dificuldades. O Polo Industrial de Manaus é um termômetro da economia nacional, mas os serviços também foram afetados. Esse é um alerta, mas temos de ver como vai ficar o fechamento do semestre. Há os impactos da guerra na Ucrânia e do ano eleitoral, e há também essa PEC Kamikaze, que promete baixar os preços dos combustíveis, mas também vai aumentar os gastos com assistencialismo”, concluiu.
Fonte: JCAM