02/12/2021
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga nesta quinta-feira (2) a variação do Produto Interno Bruto (PIB) do país no terceiro trimestre. A média das perspectivas do mercado, por enquanto, é de um crescimento de apenas 0,1%, a depender de, principalmente, como o setor de serviços se portará.
A alta de 0,1%, apesar de fraca, é melhor do que a queda de 0,1% registrada entre abril e junho e ainda evita a chamada “recessão técnica”, que se dá quando um país registra queda do PIB por dois trimestres consecutivos. O pequeno avanço, porém, não é unanimidade do mercado: a Refinitiv, por exemplo, tem um consenso de estagnação.
Analistas e gestores, já há algum tempo, vêm diminuindo suas projeções para a economia brasileira em 2021. De um crescimento de 5,27% no meio de julho, o último Boletim Focus do Banco Central trouxe a projeção de uma alta de 4,78% – apesar de ainda estar melhor do que os 3,50% do início do ano.
Esperamos que o PIB fique estável no terceiro trimestre, com variação nula, após a significativa expansão no primeiro e o leve declínio no segundo. O crescimento do setor de serviços deve compensar a baixa performance da indústria e da agropecuária”, afirmou a XP em relatório publicado na última semana.
A corretora projeta um crescimento de 5% no ano, mas afirmou que em breve deve divulgar uma projeção menor, se adequando à divulgação de indicadores recentes.
Em seu último relatório, o Itaú tomou o mesmo caminho, tirando as projeções de crescimento no ano de 5% para colocar em 4,7%. O banco também vê o PIB estável no terceiro trimestre, variando 0%. “O setor de bens começou a desacelerar no segundo semestre e a produção industrial começou a cair já no fim do segundo”, comentam os analistas.
O último dado da produção industrial apontou queda de 0,4% em setembro ante agosto, com o período do terceiro trimestre encerrando com retração de 1,1%.
Em comum, as duas casas apontam que o único setor que melhorou no terceiro trimestre foi o de serviços. “A reabertura da economia e o aumento da mobilidade impulsionam as atividades do setor terciário, sobretudo aquelas atreladas ao consumo das famílias”, explica a XP.
Do outro lado, lado, indústria e comércio recuam, segundo o Itaú, por conta de “restrições de ofertas causadas pela escassez de insumos e pelo alcance da capacidade de pico de alguns segmentos”. O grande problema no terceiro trimestre esteve, então, no lado da oferta e não do da demanda.
Além disso, a aceleração da inflação no País também contribuiu para a perda de fôlego das vendas no comércio varejista.
Oscilação do setor de serviços em setembro pode impactar PIB
Em setembro, porém, o setor de serviços surpreendeu ao cair 0,6%, frustrando o consenso, que apontava avanço de 0,5%, e interrompendo uma sequência de cinco altas.
“Se esperava uma recuperação mais vigorosa no setor de serviços. O resultado de setembro veio abaixo das expectativas, com queda. Isso aconteceu também no comércio e na indústria, mas nesses setores não foi surpresa”, conta Alex Agostini, economista-chefe na Austing Rating.
Agostini explica que entre julho e setembro a inflação mais alta acabou afetando o consumo das famílias e aumentando o endividamento. “A gente tem sofrido um pouco mais por conta de fatores domésticos. A inflação muito forte afeta o consumo das famílias. Há o aumento do endividamento”, diz.
Segundo ele, o emprego cresceu mas não houve ainda redução consistente da taxa de desemprego. “Enquanto não temos a força motora para mudar a realidade das famílias, o PIB não terá força para deslanchar. E é importante destacar que o Brasil tem um desempenho que fica abaixo do que os dos seus pares”.
Economia brasileira deve ficar próxima à estabilidade
Com a inflação sobre produtos travando o consumo, é, então, o setor de serviços, que deve definir se a economia brasileira avançou, regrediu ou ficou estagnada no terceiro trimestre. Independentemente do sinal – ou da inexistência de um – o esperado é que a variação seja pequena.
“O mais provável é que teremos um resultado próximo a zero. Alguns projetam com queda. Nós, da Austin, vemos alta de 0,10%”, disse Agostini.
O monitor do PIB da Fundação Getúlio Vargas, por outro lado, é um dos indicadores que apontam para uma queda de 0,1% no terceiro trimestre.
Variação trimestral do Monitor do PIB da FGV monitor do pib
“A economia brasileira reverteu a trajetória de recuperação que havia sido observada no terceiro e quarto trimestre de 2020 e no primeiro trimestre deste ano, comparativamente aos trimestres imediatamente anteriores”, comenta Cláudio Considera, coordenador do Monitor do PIB-FGV.
Cláudio Considera também comenta a perda de fôlego do setor de serviços, que se deu “precocemente”, com a perda do poder de consumo da população.
Analistas estão de olho já em 2022
Independente de como vier o PIB nesta quinta-feira, o mercado está mais atento no futuro. “Para esse ano, as estimativas estão dadas e provavelmente não teremos grandes oscilações”, diz Agostini.
“O que se discute muito, agora, é 2022. A questão fiscal, a inflação, o juros, o risco de crise hídrica, a desvalorização da moeda, os EUA mudando o tom em relação à inflação, a corrida eleitoral. Todas essas variáveis deixam o cenário muito desafiador”.
Para o próximo ano, o Focus, agora, projeta um crescimento de apenas 0,58%. No começo do ano, a projeção era de crescimento de 2,50%. “Tem gente falando já em recessão, ainda não acho que seja o caso, mas há indicadores que começam apontar para isso”, fala o economista-chefe da Austin.
Fonte: Infomoney