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Pesquisadores da UEA apresentam produtos biossustentáveis em feira no RJ

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27/05/2019

Reportagem publicada pelo Portal Acrítica

Luiz G. Melo

Caroço de tucumã, fibras de açaí e madeira amazônica são as matérias-primas de três produtos biossustentáveis desenvolvidos por pesquisadores da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e que foram expostas na oitava edição do “Green Rio’’, uma das maiores feiras sobre economia verde do Brasil, realizado da última quarta-feira até ontem na Marina da Glória, no Rio de Janeiro.

Os produtos representantes foram “Ecopainel feito com fibras do açaí”, desenvolvido pelo professor doutor Antônio Mesquita; “madeira plástica feita com caroço de tucumã”, do professor doutor Antonio Kieling, e a “Bioprótese de madeira”, da professora doutora Marlene Araújo. Os pesquisadores conversaram com A CRÍTICA sobre esses três produtos que prometem revolucionar o mercado – e o mais interessante, sem agredir o meio ambiente.

Bioprótese de madeira

Há dez anos a engenheira mecânica Marlene Araújo, doutora em biotecnologia, se dedica a aperfeiçoar a prótese para pés e tornozelo feita de madeiras típicas da Amazônia: mais leve, flexível e barata se comparada com as próteses convencionais, feitas de carbono, que chegam a custar cerca de R$10 mil.

A bioprótese (como é o seu nome de mercado) tem de cinco a sete lâminas de madeira prensadas e pesa cerca de 300 gramas. “Por ser feita de madeira orgânica, a bioprótese oferece uma qualidade de marcha ao paciente, pois além de leve, é resistente. Ela absorve mais o impacto do solo que a prótese feita de carbono’’, explica Marlene, destacando que a prótese de madeira foi feita para o paciente realizar apenas atividades de rotina.

Produção

O produto pode ser feito de, pelo menos, três madeiras típicas da Amazônia: o cumaru, que suporta de 30 a 40 quilos; o pau d’arco, que aguenta um paciente abaixo de 50 quilos; e a roxinho, capaz de suportar mais de setenta quilos. Todas elas, claro, oriundas do manejo sustentável.

“Fizemos os testes de análise de marcha em dois pacientes e constatamos a qualidade do produto, principalmente por ser um material biológico, pois além de absorver o impacto da marcha, ela diminui a sensação do ‘’membro fantasma’’, o que dá mais conforto a quem usa’’, explicou.

O próximo passo da pesquisa é a análise do ciclo de vida útil do produto (ou a quantidade de passos que ela pode suportar até que as lâminas se rompam). ‘’É natural que esse rompimento ocorra com o tempo. A nossa expectativa é que ela suporte até um milhão de passos, o que daria uma média de três a quatro anos de uso’’, projetou.

Green Rio

A exposição dos produtos no Green Rio irá possibilitar a busca de investimentos que promovam o desenvolvimento de pesquisas na área da economia verde na Região Norte, por meio da UEA.

Desde 2012, o evento Green Rio vem se firmando como a plataforma de negócios que reúne expositores, palestrantes e representantes da Economia Verde, dos setores orgânico e sustentável.

O público que visitou o evento Green Rio 2019, além de ter conhecido produtores comprometidos com alimentação saudável e desenvolvimento sustentável, ainda teve acesso a Conferência Green Rio com palestrantes do Brasil e de outros países.

Ecopainel no lugar do MDF

O ecopainel não é um material poluente e árvores não são derrubadas (Foto: Márcio Silva/Freelancer)

O ecopainel feito a partir dos resíduos da fibra do caroço do açaí é baseado nos princípios da “economia circular’’, que consiste no aproveitamento de toda a cadeia da matéria-prima, gerando, assim, subprodutos, emprego, renda e tecnologia. O resultado a ser a alcançado é que o ecopainel seja a substituição viável dos painéis de MDF (que significa “medium density fiberboard’’, ou seja, placa de fibra de média densidade, em tradução livre) - popularmente utilizados na decoração de móveis, divisórias, bem como outros pequenos produtos.

Como explica o biólogo e doutor em engenharia ambiental, Antonio Mesquita, o trabalho também conta com a utilização de uma resina de óleo de mamona para fazer a adesão das fibras. “O resíduo foi retirado do lixo e demos a ele um destino de luxo. O ecopainel pode evitar a emissão de CO2 na atmosfera, já que na fabricação dos painéis de fibras de madeira tradicionais são utilizados resinas sintéticas (prejudiciais à saúde)’’, disse.

Segundo Mesquita, cerca de 16 mil toneladas de fibras de caroço do açaí vão para o lixo só na Região Metropolitana de Manaus. “Esse produto (totalmente natural) é uma inovação tecnológica para o Brasil porque é totalmente “verde’’ e ecologicamente correto. Tanto que foi selecionado pela Pipe Social [plataforma que conecta negócios de impacto social e ambiental] entre os 15 melhores produtos sustentáveis da Amazônia, ano passado, em São Paulo’’, contou.

O ecopainel não é um material poluente. Principalmente porque árvores não serão derrubadas para a sua produção – ao contrário dos seus “primos MDF’’, que são produzidos a partir de resíduos de madeira, cuja matéria prima sai de centenas de hectares de plantação de eucalipto e pinho, em que é preciso plantar, derrubar e gastar grandes quantidades de água e energia para transformar árvores em resíduos.

O produto pode, também, diminuir os impactos ambientais causados pelo descarte do caroço do açaí nos leitos dos igarapés. “No final das contas, o ecopainel pode ter aproveitamento para a movelaria, para a acústica, para divisórias da construção civil, base de televisão, entre outros’’, explanou Mesquita, que vem se dedicando ao aperfeiçoamento do produto há cinco anos.

Caroço de tucumã pode virar madeira

Madeira plástica de caroço de tucumã reaproveita materiais jogados fora (Foto: Márcio Silva/Freelancer)

Como faz questão de destacar o engenheiro mecânico Antônio Kieling, doutor em biotecnologia e em administração de empresas, cerca de 50 toneladas de caroços do tucumã são jogados fora por mês na Região Metropolitana de Manaus após a utilização da sua polpa. Em contrapartida, mensalmente, 1.136 toneladas de plásticos duros são descartados como resíduo sólido urbano na capital. Seu impacto ambiental negativo diminuiria consideravelmente caso todo esse plástico fosse reutilizado na produção de madeira plástica.

Como destacou Kieling, o descarte de plástico é um grande problema em Manaus, pois esse material demora de 100 a 200 anos para se decompor na natureza. “Aproximadamente 50 milhões de reais em plástico são jogados no lixo todos os anos. As pesquisas que eu fiz nos levaram ao percentual de que 92% do caroço de tucumã que é consumido em Manaus é jogado fora. O consumo mensal da fruta, na capital, é de 95 toneladas por mês. Dessa quantidade, 50 toneladas são de caroços descartados. Dá pra fazer com esse material, aproximadamente, 35 toneladas de pó de madeira, que pode ser misturado com o plástico duro reciclado, sem adição de produtos químicos’’, explanou.

O processo de fabricação da madeira plástica, desenvolvido por Kieling, inicia com a quebra dos caroços do tucumã. Sua parte lenhosa é moída até que formem pequenas partículas, bem como dos plásticos duros descartados, que são reciclados e moídos. Assim, as partículas de tucumã e do plástico reciclado são misturados e introduzidos em injetora industrial com adição de calor, quando o plástico derrete e se agrega às partículas da madeira do tucumã.

O produto pode dar origem a placas que podem ser usadas para pisos, revestimento, para isolamento térmico, na fabricação de móveis, na construção civil e também na fabricação de pequenas utilidades domésticas, como suportes para celular, pequenas peças de cozinha ou de decoração. As possibilidades são grandes, pois a madeira plástica pode ser pintada, furada e parafusada sem soltar lascas nem gerar nenhum tipo de contaminação por ter origem natural.

‘’Durante cinco anos de pesquisa geramos um produto que tem durabilidade aproximada de 40 a 50 anos. A ideia central é trocar o plástico convencional pela madeira da natureza pra fabricar certos produtos, diminuindo, assim, consideravelmente esse problema do descarte indiscriminado do plástico na natureza’’, disse.

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