28/02/2014
A indústria de transformação, que exclui a extração mineral, ficou bem menor nos últimos 18 anos, caindo de 18,6% para 13%. A construção civil também perdeu: de 5,7% para 5,4% na passagem de 2012 para 2013, mas frente a 1995 manteve-se praticamente no mesmo patamar. Naquele ano, pesava 5,5% na economia. A extrativa mineral também diminuiu: saiu de 4,3% para 4,1%, mas, quando se compara com 1995, o ganho é enorme. Essa indústria, que junta petróleo e mineração, respondia por somente 0,8% em 1995.
Marcos Antonio Cuisse é dono da Irma Industrial, fabricante paulistana de ferramentas há 27 anos, e enfrentou o pior nível de atividade da história de sua empresa no último trimestre de 2013. Da meta produtiva estipulada para o ano passado, apenas 60% foram cumpridos.
- Aprendi que o governo vive em outra realidade. Por isso vou montar duas unidades fora do Brasil. A primeira ficará pronta este ano, no México - contou, frisando que ao longo dos quase 30 anos como empresário nunca obteve empréstimos do BNDES.
Fiesp: avanço menor este ano
Em ano com pedidos mais fracos, a alta carga tributária mantida no setor foi a gota d'água. Ele diz que aqui sofre com carga de 46%, enquanto no México pagará 16%.
O novo aumento na taxa básica de juro (Selic), na última quarta-feira, que elevará o custo de empréstimos dos bancos de varejo, foi duramente criticado e apontado como um obstáculo à retomada da indústria pelo presidente da Fiesp, Paulo Skaf. A federação prevê que a indústria cresça menos de 1% este ano e o PIB, 1,5%.
- É preciso controlar os gastos em custeio, aumentar o investimento público e reativar a indústria para que ela aumente o investimento privado. Só com mais investimentos poderemos reativar a economia e trazer crescimento maior para o Brasil.
Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, diz que a única coisa positiva da indústria em 2014 poderá vir do petróleo, caso a Petrobras consiga aumentar a produção como prometido. Ele diz que a estatal, contudo, terá de "crescer muito para contrabalançar os resultados negativos que devem vir da indústria automobilística, por exemplo".
Silvia Matos, do Ibre/FGV, diz que a indústria de transformação deverá ir mal neste ano em função da Argentina, a construção civil deverá continuar crescendo pouco e deve haver alguma recuperação da extrativa mineral.
O professor da Unicamp André Biancareli lembra que o recuo da participação da indústria no PIB vem ocorrendo no Brasil há 20 anos e se repete em outros países. Ele prefere não usar o termo desindustrialização, mas destaca a terceirização de serviços como limpeza e alimentação, que deixaram de ser contabilizados como produção industrial e passaram ao setor de serviços.
Fonte: O Globo