20/10/2022
O PIB do Amazonas voltou a se mover em agosto, após três meses seguidos de estagnação. O crescimento de 0,5% em relação a julho –que teve dois dias úteis a menos – compensou o viés negativo anterior (-0,18%) e foi na direção contrária ao tombo sofrido pela média nacional. O Estado também conseguiu avançar 4,56% em relação ao mesmo mês de 2021, além de acumular expansão de 4,17%, nos oito meses iniciais deste ano. É o que apontam os números mais recentes do IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do Banco Central).
Diferente do ocorrido nos
meses anteriores, o Amazonas
teve performance melhor do que
a brasileira. O IBC-Br encolheu
1,13% na variação mensal, no
maior tombo registrado pelo
indicador desde março de 2021
–período da primeira onda de
Covid-19 e fechamento geral
de empresas em todo o país.
Em julho, a economia brasileira havia expandido 1,67%. O
confronto com o mesmo mês
de 2021 rendeu acréscimo de
4,86% e contribuiu para uma alta
de 2,76% entre janeiro e agosto.
Os dados são dessazonalizados
e desconsideram diferenças de
feriados e de oscilações da atividade econômica, típicas de
determinadas épocas do ano.
A economia amazonense
aparece com 154,84 pontos,
conforme a série histórica do
BC (Banco Central), e ficou
praticamente parada na média
móvel trimestral encerrada em
agosto (+0,35%). No acumulado
de 12 meses, o PIB do Amazonas
cresceu 2,57%. Vale notar que
estes dois tipos de comparação
são os mais usados pelos especialistas para indicar eventuais
tendências. A média brasileira
apresentou desempenhos mais
fracos nas variações trimestral
(+1,20%) e anualizada (+2,08%).
Serviços e indústria
O IBC-Br tem metodologia de cálculo distinta das contas
nacionais do IBGE –cuja próxima divulgação nacional está
prevista para 1º de dezembro
de 2022. O indicador do BC leva
em conta estimativas para os
setores econômicos, acrescidos
de arrecadações de impostos.
Mas, sua divulgação não inclui
o desempenho de cada rubrica.
Dados do órgão federal de pesquisa indicam, no entanto, que
a produção industrial reagiu,
que o comércio registrou novo
aquecimento e que os serviços
confirmaram crescimento.
Segundo o IBGE, a indústria amazonense quebrou uma
sequência de dois meses de baixa, para voltar a crescer 7% na
variação mensal de agosto. O
crescimento de 13,4% na comparação com o dado de 12 meses
atrás alavancou os segmentos
de bebidas, combustíveis, motocicletas e bens de informática. Mas, o polo eletroeletrônico
voltou a encolher. Com isso, o
setor ampliou sua vantagem no
acumulado do ano (+3,6%), mas
segue negativo no aglutinado
dos últimos 12 meses (-1,2%).
Favorecido pelo Dia dos
Pais, o varejo amazonense quebrou um jejum de três meses e
avançou 1,6%, tanto na variação
mensal, quanto na anual. Segmentos dependentes de crédito conseguiram agregar algum
resultado, mas
os respectivos
acumulados
(+2,9% e -0,5%)
da atividade
m o s t r a r a m
desempenhos
contraditórios. Já o setor de serviços
emendou seu
segundo mês
de alta, ao
avançar 0,5%
ante julho, alavancado pelos
segmentos de
telecomunicações, tecnologia de
informação, alimentação e alojamento. O desempenho foi ainda
melhor na comparação com o
mesmo mês de 2021 (+10,5%) e
nos aglutinados (+9,3% e +8%).
“Performance tímida”
A ex-vice-presidente do Corecon-AM, e professora universitária, Michele Lins Aracaty e Silva, observa que a queda no indicador nacional do IBC-Br surpreendeu e foi mais acentuada do que os analistas de mercado haviam previsto, sendo impactada pela elevação da taxa de juros, pela instabilidade econômica mundial e pelo cenário inflacionário, com efeitos na queda da p r o d u ç ã o industrial e das vendas do comércio varejista brasileiro. Mas, ressalva que o Amazonas seguiu na contramão da tendência nacional, com “performance tímida” no acumulado dos 12 meses.
“A variação positiva das atividades industrial de varejo e serviços, apesar das altas taxas de inadimplência, endividamento e crédito mais caro, contribuíram para a elevação da arrecadação estadual o que possibilita elevar os investimentos públicos e novas políticas. Espera-se uma recuperação econômica nacional e uma performance ainda mais positiva para o Amazonas nos últimos meses de 2022, puxada pelas festas de final de ano e pela Copa”, analisou.
ZFM e pandemia
O ex-presidente do Corecon- -AM, consultor empresarial e professor universitário, Francisco de Assis Mourão Júnior, considera que os dados do IBC-Br refletem o peso da Zona Franca de Manaus e a indústria de consumo no PIB estadual. “Fabricamos produtos destinados ao mercado interno. Esse resultado positivo se deve à queda na inflação, apesar dos juros altos. O Amazonas deve fechar o trimestre com dados positivos, mas precisamos ver como vai ficar a situação em 2023, com os novos governantes”, avaliou. Em contraste, a consultora empresarial, professora e integrante da seção regional da Abed (Associação Brasileira de Economistas pela Democracia) no Amazonas, Denise Kassama, mais do que à indústria, o esboço de recuperação no PIB estadual se deve à paulatina recuperação do setor de serviços, após os meses mais duros da pandemia –com destaque para o turismo e atividades correlatas. “Enfim, temos um dado positivo para o Amazonas e acima da média nacional, apesar de 2,57% não ser um crescimento assim tão significativo”, completou.
“Economia volátil”
Já o consultor econômico e coordenador regional da Abed (Associação Brasileira de Economistas pela Democracia) no Amazonas, Inaldo Seixas, também avalia que, embora positivo, o PIB de agosto veio aquém do necessário para o Estado e abaixo do que se poderia esperar diante dos incentivos injetados pelo governo federal nos meses que antecedem as eleições –com destaque para o reforço no Auxílio Brasil e seus efeitos positivos nas vendas de itens de necessidade básica. “Talvez o dado de agosto ainda não tenha capturado completamente esse processo. O Amazonas tipicamente também tem uma posição melhor nesse terceiro trimestre, em função da maior atividade do PIM”, completou.
O economista alerta, no entanto, que o dado do IBC-Br é pontual e não aponta tendências, pois a economia ainda está “muito volátil” e aponta para maiores dificuldades em 2023, com redução da atividade econômica brasileira. “Há o acirramento da guerra na Ucrânia e a alta dos preços na Europa. Pode haver desaquecimento nos EUA e na China, impactando na demanda por nossos produtos e o comportamento de nosso PIB. Por outro lado, a mudança de posição da Opep deve fazer com que o petróleo fique mais caro. A situação é muito incerta e ainda não se sabe quem vai ganhar as eleições, o que posterga os investimentos. Ainda não dá para fazer nenhuma conjectura”, concluiu.
Fonte: JCAM