29/09/2014
“Estamos pensando em uma linha de financiamento de bicicletas, principalmente nessas regiões onde se construiu a estrutura para usá-las.” O discurso pró-bike ajuda a atrair eleitores, mas é a ampliação das ciclovias o maior incentivo ao setor. No centro do debate sobre mobilidade urbana está o ambicioso plano da Prefeitura de São Paulo. O prefeito Fernando Haddad quer implantar 400 quilômetros de ciclovias até o final de 2015, tirando o atraso em relação ao Rio de Janeiro. Está pintando as ruas de vermelho, agradando uns e irritando outros, e já entregou 78 quilômetros.
Segundo o Datafolha, 80% dos paulistanos aprovam as ciclovias. É bom que seja assim. Apesar da deficiente infraestrutura, o Brasil é um mercado forte e pode evoluir ainda mais. A frota de bikes é composta por 70 milhões de unidades. O País ocupa a terceira colocação no ranking mundial do setor, com produção de 4,5 milhões de unidades por ano, atrás de China e Índia. A profusão de ciclovias ajuda a colocar a bike em um patamar que ela jamais desfrutou. “Os brasileiros estão consumindo cada vez mais modelos com maior grau de sofisticação, que ajudam a vencer distâncias maiores com maior conforto”, afirma José Eduardo Gonçalves, diretor executivo da Abraciclo, que reúne fabricantes de bicicletas e motocicletas.
Hoje, o parque fabril está dividido entre as empresas que atuam na Zona Franca de Manaus, como a líder Caloi, e as demais. O segundo pelotão é liderado pela piauiense Houston. Graças às alterações na política de produção do Polo Industrial de Manaus, a Houston também prepara seu desembarque na capital amazonense para produzir modelos mais sofisticados. Na região Norte, é possível ter alguns benefícios, como a isenção do Imposto de Importação para itens de maior valor agregado e que não são fabricados localmente. É o caso dos quadros de fibra de carbono.
A unidade industrial da Houston deverá ser aberta em novembro para produzir inicialmente 150 mil unidades por ano. “Estamos diante de um processo de criação de uma ecologia favorável para o setor de duas rodas”, diz o consultor Luis Paulo Rosenberg, da Rosenberg Associados. “Além de mais empregos, essas iniciativas propiciam a formação de um parque de pesquisa e desenvolvimento para o setor.” Quem já desembarcou na floresta foi a mineira Sense. Os incentivos fiscais permitiram a produção de modelos elétricos com elevado grau tecnológico e a preço competitivo: R$ 3.490.
“Não fossem os incentivos, o valor seria cerca de 35% maior,” afirma Caio Ribeiro, diretor da Sense. A ambição é elevada. “Estamos preparados para produzir 40 mil unidades por mês.” Empreendedores de pequeno porte, como as três paulistanas que fundaram a Velô para vestir as novas ciclistas urbanas, estão pegando carona nas bikes. “Mais que apenas uma grife, criamos um conceito”, afirma Nina Weingrill, que toca o negócio com sua mãe, Claudia, e a sócia Camila Silveira. Os modelitos impressionam pelo design e o material usado: tecidos tecnológicos, com propriedade antibacteriana, proteção contra os raios ultravioleta e que garantem a elasticidade.
Outro otimista com o setor é Tito Caloi, filho de Bruno Caloi, um dos pioneiros dessa indústria (a Caloi, hoje, é controlada pela canadense Dorel Industries, dona da marca Cannondale). Ele comanda um negócio de médio porte, a Tito Bike, que está crescendo bem. “Nossa expectativa é fechar o ano com vendas de 45 mil unidades, volume 50% maior em relação a 2013”, diz. Pelos seus cálculos, a bicicleta tende a se consolidar como o meio de transporte predileto de quem mora a até seis quilômetros do trabalho. Nesse contexto, as ciclovias e as ciclofaixas de lazer ajudam muito. “Os problemas e as resistências iniciais vão ser superadas, a exemplo do que aconteceu em Nova York”, afirma Gonçalves, diretor executivo da Abraciclo. Os fabricantes torcem por isso.
Fonte: IstoÉ Dinheiro