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PcDs fazem a ‘roda girar’ no Polo Industrial de Manaus (PIM)

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05/07/2021

Fonte: EM TEMPO

REBECA MOTA E ANDRÉ MOREIRA

MANAUS - O caminho para a inclusão de pessoas com deficiência (PcDs) no mercado de trabalho tem avançado bastante desde a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948. Essa mão de obra de PcDs ganhou força principalmente no setor de duas rodas do Polo Industrial de Manaus (PIM).

A cada ano as empresas do setor de duas rodas, do PIM, investem na mão de obra dos PcDs. Muitas das instituições privadas, entrevistadas nesta reportagem, afirmam que estes colaboradores são dedicados e merecem o posto de trabalho. As fabricantes de bicicletas e motos, em Manaus, buscam soluções para criar um mercado de trabalho diversificado, oportunidades e condições de emprego acessíveis e um futuro mais igualitário em que todos possam alcançar seu potencial máximo.

Sonho além das debilidades

Quando começou na indústria de duas rodas há nove anos, Francisco Pimenta, 48, não imaginava que trabalharia no local que produz aquilo que sempre gostou, a bicicleta. E também não pensava que poderia trabalhar mesmo após o acidente de trânsito que lhe deixou sem as pernas.

Francisco Pimenta, 48, montador de rodas

Francisco Pimenta, 48, montador de rodas | Foto: Brayan Riker

“A empresa me deu a oportunidade, já que desde pequeno eu gostava de andar de bicicleta. Sempre tive a habilidade de trabalhar com bicicleta. Eu não tinha trabalhado em fábrica, mas me esforcei e hoje estou aqui. Eu gosto do que faço aqui”, destaca o montador de rodas da Caloi.

Pimenta conta que nunca se sentiu inválido e que para atuar no cargo que está, passou por um treinamento.

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Eu tenho grande orgulho do que faço. Trabalhar no setor de duas rodas e mostrar que o deficiente não é inválido"

Francisco Pimenta, Montador de rodas

Mary Jane de Silva, 42, atua no cargo de operador 2, no setor de embalagem da Yamaha. Ela conta que sua primeira oportunidade de emprego foi dentro da fabricante de motocicletas. Silva conta com muito orgulho do cargo que conquistou, mesmo com a deficiência auditiva.

Mary Jane de Silva, 42, atua no cargo de operador 2

Mary Jane de Silva, 42, atua no cargo de operador 2 | Foto: Divulgação

“Tal condição nunca foi limitante para mim devido ao acolhimento que sempre recebi dos demais colaboradores da empresa. Todos sempre foram muito solícitos, buscando ajudar na comunicação e contornar dificuldades nas limitações”, destaca.

Makson da Silva, operador de produção do setor de solda da Audax, atua na fábrica há um ano. Ele perdeu alguns dos dedos em um acidente em outro trabalho, mas por sempre ser ciclista, tinha o sonho de trabalhar numa fábrica de bicicleta. “A paixão pela bicicleta me motivou e hoje sou um trabalhador que monta as bicicletas para muitas pessoas”.

Makson da Silva, operador de produção do setor de solda da Audax

Makson da Silva, operador de produção do setor de solda da Audax | Foto: Brayan Riker

Makson, que também é atleta, vai todos os dias de bicicleta até ao trabalho, do bairro Coroado, na Zona Leste de Manaus, até o bairro Tarumã-Açu, na BR-174. Ele chega antes do seu horário e fica aguardando até começar os trabalhos.

O paratleta destaca que atualmente é muito difícil conseguir um trabalho como PcD, dependendo da sua deficiência. Outro fator como barreira é a questão da idade.

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A empresa onde eu estou não viu a idade e me colocou em um local que eu consiga fazer minhas atividades, sabendo das minhas limitações. E isso me motiva mais trabalhar a exercer as atividades”, revela"

Makson da Silva, Operador de produção do setor de solda

Desconhecimento

Mateus Lima, 20 anos, é auxiliar de expedição da Audax. Deficiente visual desde quando nasceu, devido a catarata congênita, o jovem antes de entrar no mercado de trabalho, não sabia como proceder para concorrer a vaga de PcD.

“Meu pai trabalhou 15 anos em uma empresa de bicicleta. Ele veio aqui fazer uma entrevista e como ele não passou, deixou meu currículo e passou um tempo eles me ligaram”, destaca.

Ele revela que fez quatro entrevistas até ser aceito na atual empresa que trabalha. “Para mim, a minha deficiência não me atrapalha em nada. Estou acostumado de nascença e busco sempre fazer meu melhor e me destacar na empresa que me acolheu”.

Mercado de trabalho para PcDs

Dados do Censo 2010 apontaram que existiam aproximadamente quase 46 milhões de brasileiros, cerca de 24% da população, com algum grau de dificuldade em pelo menos uma das habilidades investigadas (enxergar, ouvir, caminhar ou subir degraus), ou com deficiência mental / intelectual.

Levando em conta apenas as pessoas que afirmaram possuir grande ou total dificuldade para enxergar, ouvir, caminhar ou subir degraus e as pessoas com deficiência intelectual, tínhamos mais de 12,5 milhões de brasileiros com deficiência, o que correspondia a 6,7% da população.

Em 2018, um estudo da RAIS (Relação Anual de Informações Sociais – Ministério do Trabalho) apontou que existiam 7 milhões de pessoas com deficiência aptas ao mercado de trabalho, mas que apenas 486 mil (7%) estavam registradas em emprego formal.

Este baixo percentual com carteira assinada pode ser atribuído a resistência que muitas empresas ainda têm para contratar pessoas com deficiência. Com o objetivo de transpor essas barreiras históricas e incentivar a participação desses profissionais no mercado de trabalho, foi criada em 1991 a Lei 8213/91, ou Lei de Cotas para pessoas com deficiência. A Lei de Cotas impõe que empresas com mais de 100 empregados devem ter de 2 a 5% das suas vagas destinadas a pessoas com deficiência.

A Yamaha, no PIM, possui 105 PcDs, com um total de 2,2 mil funcionários. O número de pessoas com deficiência representa um total de 5% na Yamaha Motor da Amazônia e 3% na Yamaha Motor Componentes e Yamaha Logística (Yamalog).

Segundo a Silvia Lourenço Périco, chefe de Recursos Humanos do grupo Yamaha, a empresa tem vários projetos para melhorar a acessibilidade e inclusão na fábrica. Um deles é que a fábrica investe na capacitação de colaboradores da empresa, que estudam libras, e conseguem interagir e melhorar a comunicação cotidiana. Os trabalhadores com deficiência auditiva utilizam um uniforme diferenciado, na cor verde, para que todos os colaboradores da empresa tenham ciência de que necessitam de comunicação específica por meio de libras.

Para os deficientes físicos, a empresa tem um programa ergonômico multidisciplinar que envolve a área de ergonomia, o ambulatório e a área de engenharia de cada setor.

“Procuramos ofertar um ambiente de trabalho no qual todos se sintam incluídos, sem que haja diferença no tratamento. Aqui o esforço é para que todos se sintam parte de uma grande família, sem distinção, a família Yamaha”, destaca Silvia.

A Yamaha tem PcD’s na área de engenharia, atuando como especialista, na área de produção atuando na área de apoio, como um Pré-líder, Técnico de Garantia da Qualidade, Técnico de enfermagem, Técnico de manutenção, Analista Industrial, Comprador, dentre outros.

“Muitos deles foram evoluindo ao longo do tempo na empresa, iniciaram em cargos menos qualificados ao atual, e se desenvolveram e conquistaram seu espaço”, destaca.

Outra fábrica de duas rodas que abriu as portas para o EM TEMPO foi a Caloi, em Manaus. Com 22 PcDs, representando 4,31% dos funcionários, a empresa, segundo o supervisor de produção Derivan Maciel, não olha para quantidade, mas sim para a inclusão.

“Nós olhamos para ter um processo mais consistente que nos atenda tanto para a sociedade quanto para a Caloi. Temos processos seletivos internos que fazem com que qualquer PcD cresça dentro da empresa, como já ocorreu”, revela.

O supervisor enfatiza que os PcDs são mão de obra importante para a fábrica. “Boa parte são muito comprometidos com o trabalho, dificilmente faltam e eles têm uma empatia muito grande. E também conseguimos adaptar os processos que temos dificuldades nas pessoas que têm essa aptidão e habilidade, seja um cadeirante, ou pessoa que tem um braço ou perna mecânica. É um ganho a ganho”.

Falta divulgação

Para Leonardo Britto, diretor técnico industrial da Audax, falta divulgação para que os candidatos saibam das vagas de emprego e como proceder para concorrer a uma vaga, quais documentações são necessárias e outras informações.

“Falta divulgação, muitas vezes, para estes PcDs. Muitas vezes a pessoa tem a deficiência, mas não sabe como ingressar no mercado de trabalho e aqui é dado como uma oportunidade, como qualquer outro colaborador, em que queremos ensiná-lo e fazer um profissional qualificado”, destaca.

Para o presidente do Instituto de Apoio e Inclusão da Pessoa com Deficiência (IAIDAM), João Cleimaco, faltam as próprias empresas divulgarem mais as vagas de emprego para os PcDs e algumas só contratam com deficiência leve, outras deficiências como cadeirante, deficiência auditiva e visual total, não contratam.

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Algumas empresas preferem pagar multa do que contratar um PcD. Temos milhares de deficientes no Amazonas, mas existem preconceitos, acham que os PcDs são inválidos"

João Cleimaco, Presidente do Instituto de Apoio e Inclusão da Pessoa com Deficiência (IAIDAM)

Vagas abertas

A Audax, Caloi e Yamaha abriram uma seleção para candidatos com deficiência que desejam trabalhar na indústria. Quem tiver interesse pode enviar o currículo para dmaciel@caloi.com (Caloi), gp@audaxbike.com (Audax) e https://trabalheconosco.vagas.com.br/yamaha (Yamaha).

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