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Para todas as crises, um renascimento

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28/02/2023

Em dez anos, o faturamento o Polo Industrial de Manaus passou por longos períodos de baixa e poucos ensaios de retomada, rapidamente abortados por crises sucessivas, culminando na pandemia. Mas, o último biênio proporcionou uma recuperação mais forte, em sintonia com o processo de vacinação em massa da população brasileira, a queda nas estatísticas de internações e mortes por covid-19, e o retorno da economia ao modo presencial.

Diante disso, os dados mais recentes dos Indicadores de Desempenho do Polo Industrial de Manaus sinalizam que, após atravessar o vale das crises, o faturamento das empresas praticamente dobrou ao final de 2022. O balanço do ano passado ainda não está completo, mas a Suframa indica que, de janeiro a novembro, o PIM acumulou R$ 161,50 bilhões em vendas, sem desconta a inflação. A cifra já corresponde a um salto de 93,88% sobre o “ano cheio” de 2013 (R$ 83,30 bilhões). As projeções da Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas) estimam que a cifra feche em R$ 179,83 bilhões, o que daria uma elevação de 115,88%.

A deterioração dos fatores macroeconômicos nos últimos dez anos, contudo, confirma que o desempenho foi menos exponencial. De dezembro de 2013 a novembro de 2022, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) medido pelo IBGE marcou uma inflação exponencial de 70,19%. Caso a base de comparação de dez anos atrás fosse deflacionada, seria corrigida para R$ 141,77 bilhões, e indicaria um crescimento ainda substancial de 26,84% em moeda nacional.

O cálculo fica mais desfavorável, quando feito em dólar – que é a moeda empregada pelo PIM para adquirir a maior parte de seus insumos, procedentes do estrangeiro. Em 2013, o faturamento ficou em US$ 38.54 bilhões, mas a cifra aglutinada nos 11 meses iniciais de 2022 não passou de US$ 31.56 bilhões, indicando tombo de 18,11%. Caso a estimativa da Fieam se confirme, o Polo terá chegado a US$ 34,71 bilhões, o que ainda confirmaria queda de 9,94%. Vale notar que o real se desvalorizou 122,76% frente ao dólar, nesse período. Dados do Banco Central indicam que a cotação em dezembro de 2013 era de R$ 2,342, tendo saltado para R$ 5,217, em novembro de 2022.

Vale notar ainda que a série histórica do Polo Industrial de Manaus marcou vários pontos baixos de vendas, na última década, puxados para baixo pelos tempos de crises. O faturamento declinou rapidamente a partir de 2015, até chegar ao chão em 2016 (US$ 21,94 bilhões, ou R$ 74,72 bilhões). Os resultados de vendas melhoraram um pouco nos três anos seguintes, mas voltaram a desabar com força em 2020 (US$ 22.95 bilhões ou R$ 120,38 bilhões), com a chegada da pandemia. Os números só voltariam a subir no ano seguinte.

“Anos intensos”

Na análise da ex-vice-presidente do Corecon-AM (Conselho Regional de Economia do Estado do Amazonas) e professora universitária, Michele Lins Aracaty e Silva, avaliar o resultado de vendas da indústria incentivada ao longo de uma década não é tarefa fácil, dado que o PIM é impactado por mudanças no cenário nacional e internacional. A economista acrescenta que a tarefa torna-se hercúlea quando se leva em conta que o período compreendido entre 2013 e 2022 pode ser considerado como de “anos intensos”, marcados por crises econômicas, pandemia e guerra, assim como a intensificação dos ataques ao modelo ZFM.

“Se analisarmos o desempenho mensal nos últimos anos, percebemos que o cenário foi de instabilidade. Após um período de queda, temos recuperação e um encerramento anual com crescimento tímido, mas positivo na maioria dos anos do recorte. Isso reflete a resiliência do modelo e a busca incessante dos empresários para se adaptar às adversidades macroeconômicas. Para os próximos meses, podemos esperar mais desafios, dado a busca pela recuperação econômica, incertezas acerca das tratativas da reforma Tributária e redirecionamento econômico por parte do governo federal”, listou.

Inovações e pandemia

Já a consultora empresarial, professora e integrante da seção regional da Associação Brasileira de Economistas pela Democracia, Denise Kassama, destaca que apenas o dado do faturamento é insuficiente para indicar crescimento, sendo recomendável a análise de outros fatores, como volume de produção e taxa de emprego. “Nesse período, o mercado passou por muitas inovações tecnológicas. Em dez anos, essas mudanças tornaram o custo do produto mais caro, e isso também se deu em seu valor de venda. Por exemplo, posso faturar US$ 100 vendendo dez TVs de US$ 10, mas também posso obter a mesma quantia comercializando cinco TVs de R$ 20”, comparou.

Denise Kassama ressalta que é compreensível que o faturamento do PIM tenha ido menos longe do que se esperava, pois o país já não estava em boa situação antes da crise da covid-19, com desemprego em alta e consumo em baixa. “A pandemia derrubou a produção, porque o mundo parou por um tempo. Nesse período, o poder aquisitivo da população caiu. Antigamente, a gente falava que ano de Copa do Mundo proporcionava um ‘segundo Natal’ para o Polo, que vendia muitas TVs. Em 2022, houve crescimento, mas ele não foi tão expressivo como em ocasiões anteriores”, explanou.

A consultora empresarial dá como exemplo das dificuldades enfrentadas pela economia nesses últimos anos, a experiência de sua própria empresa. “As coisas começaram a piorar no fim de 2014, enquanto 2015, 2016, 2017, 2018 e 2019 foram anos bem fracos. Veio a pandemia e terminou de derrubar a gente. Quase entro em falência, sendo que as coisas só melhoraram em 2021, quando pude até aumentar o salário de minha equipe. O ano passado já veio um pouco mais fraco, mas manteve alguma consistência, e 2023 começou relativamente bem”, relatou.

Na avaliação da economista, a tendência de curto prazo ainda é de crescimento, mas o ritmo tende a ser gradual. “Ainda estamos em um processo de recuperação econômica. O desemprego ainda está alto, e o Brasil até voltou ao Mapa da Fome. Acredito que ainda haja espaço para alguma retomada, mas estamos longe daquele período áureo em que se vendia tanto, que o Polo Industrial de Manaus empregava mais de 130 mil trabalhadores diretos. Acredito que teremos uma melhorada. Na medida em que os mercados consumidores se recomporem e haja melhoria no nível de emprego do Brasil, podemos ter um aumento na demanda pelos nossos produtos e melhora nos indicadores”, arrematou.

Fonte: JCAM

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