12/12/2022
Bússola
Publicado em 09/12/2022 às 19:00.
Efeitos colaterais costumam ser listados em bulas de remédios como reações adversas. No caso da Zona Franca de Manaus (ZFM), por ter contribuído para manter a floresta de pé no estado amazônico – apesar de a preservação ambiental não ter sido listada como um dos objetivos à época da criação do polo de desenvolvimento regional –, poderá indicar caminhos para o futuro da zona incentivada.
Os incentivos fiscais concedidos a empresas que apostam na região, com a expectativa da chegada do novo governo federal, entram em compasso de espera. Durante a campanha, a chapa do presidente eleito Lula (PT) reconheceu a importância do bloco de desenvolvimento, mas não detalhou que políticas públicas adotará.
“Não há, a curto prazo, como substituir a ZFM. Há como complementar aos poucos. Apesar de não termos novas diretrizes claras, temos certeza que a ZFM será mantida”, diz o superintendente da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), Algacir Polsin.
Para o presidente do Conselho Superior do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam), Luiz Augusto Barreto Rocha, a contribuição da ZFM para a conservação da floresta ocorreu por ‘sorte, acaso’, já que não era o objetivo inicial. “Ao oferecer 500 mil empregos, entre diretos e indiretos, e conservar 97% da cobertura vegetal do estado, a partir do Polo Industrial de Manaus (PIM), temos duas certezas: (1) esta indústria é o marco da economia verde no Brasil. (2) E quem quiser destruir a floresta, que comece destruindo o PIM”.
Para o dirigente, ao retirar os incentivos que mantêm empresas na região, haveria uma debandada das companhias para outros países, a exemplo do que já ocorreu em outros momentos, eliminando a produção de riquezas e vagas de emprego. “Os trabalhadores demitidos, sem opção, podem adotar como saída o desmatamento, o garimpo ilegal e até o tráfico de drogas”, declara Rocha.
Seguir promovendo a interiorização do desenvolvimento é um dos desafios postos para o polo após a prorrogação dos benefícios fiscais até 2073 pelo Governo Federal. O incentivo às novas cadeias produtivas, como as associadas à bioeconomia e à biotecnologia, também estão na pauta. “Assim como a estruturação de um novo modelo para o mercado de créditos de carbono”, afirma Rocha.
No entanto, a região carece ainda de investimentos na área de logística, oferta de energia e acesso à internet. “Além disso, recursos destinados à educação e à capacitação profissional no interior são requisitos fundamentais para atrair novos investimentos”, delcara o presidente da Suframa.
Passado, presente e futuro em foco
Não é possível falar do futuro da Amazônia sem pensar no passado e analisar o presente. É a partir desta premissa que o economista Daniel Vargas, Coordenador do Observatório da Bioeconomia da FGV e Coordenador de Pesquisas do GV Agro (Centro de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas) analisa as perspectivas socioeconômicas para o bioma. De acordo com o especialista, foram implantados três grandes projetos de desenvolvimento para a região: a fase de exportação dentro do ciclo da borracha (entre 1942 e 1945), a implantação da ZFM (1957/1967) e, na década de 90, a adoção da preservação ambiental como ativo.
Apesar de inúmeras falhas, como a carência de uma saída socioambiental para a região, todas as vezes em que houve algum planejamento, os projetos foram relativamente bem sucedidos. “Hoje, a Amazônia carece de um novo planejamento de desenvolvimento. Tem que olhar para o passado para aprender”, diz.
Para ele, há quatro caminhos a serem percorridos: a garantia da manutenção da ZFM, que hoje é a espinha dorsal da economia regional; a ampliação da relação deste polo industrial com a floresta; a criação de uma ‘periferia’ de startups verdes, financiadas pelas empresas instaladas na região a partir de contrapartidas já previstas para a concessão de incentivos fiscais; e, por último, a captação de investimento internacional com a criação de uma espécie de bolsa de valores verde.
“O sistema financeiro vem tentando inovar, se diversificar. Manaus é a sede natural de uma inovação neste sentido. Precisamos enxergar a Amazônia como uma segunda chance para a economia do Brasil. É ali que o país vai construir o nosso futuro”, afirma.
Fonte: Bússola Exame