20/05/2014
O presidente do Cieam (Centro das Indústrias do Estado do Amazonas), Wilson Périco, lamenta que não exista, hoje, uma política governamental que permita à indústria nacional ampliar suas exportações. “Carga tributária, encargos trabalhistas e tudo mais completam a composição do custo Brasil. As políticas de exportação hoje são voltadas apenas ao setor primário –frango, soja, cobre –; nada de produtos manufaturados”, reclama.
O presidente do Corecon-AM (Conselho Regional de Economia), Marcus Evangelista, ressalta que o mercado chinês vem absorvendo uma fatia cada vez maior da sua própria produção, além de avançar sobre outros mercados. Em consequência, os outros países, incluindo o Brasil, vêm perdendo espaço nas exportações. “Fora do Brasil concorremos com outros Polos Industriais, incluindo os chineses. Então, se não houver nenhuma mudança, a tendência é isso continuar se potencializando”, comenta.
De fato, os números do Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) sustentam o argumento de Evangelista. As exportações do Amazonas para a China caíram 15% no primeiro quadrimestre do ano, na comparação com igual período de 2013. Por outro lado, as importações da China para o Estado cresceram 12% no mesmo período, o que reforça a posição daquele país como principal fornecedor de insumos para a indústria local, respondendo por quase 40% das importações do Estado.
Em Manaus, a evolução de segmentos como o polo eletrônico, mais voltado ao mercado interno, também é apontada como um fator para esse aumento de domínio do mercado interno sobre os produtos ‘made in ZFM’. “O externo não acompanhou. Houve esse crescimento e historicamente são produtos que eram comercializados para o mercado interno. Eles cresceram em importância, modificando esse cenário”, ressalta Marcus Evangelista.
Insumos
Se as participações das vendas para o mercado externo encolhem, a aquisição de insumos é cada vez mais dominada por produtos vindos de fora do país. Em 2009 apenas 53% dos insumos utilizados no PIM vinham de outros países. Atualmente esses insumos superam 65% do total de aquisição de insumos do PIM. Já os insumos nacionais que correspondiam a 47% foram reduzidos a 35%, sendo apenas 21,27% do mercado regional.
O domínio do mercado chinês também é colocado como uma das causas por Marcus Evangelista. “Temos um sério problema na parte dos componentes em virtude dos produtos produzidos na China onde é impossível concorrer. Logicamente, o empresário, no momento em que está fazendo a composição, procura comprar o mais barato, e a China domina. Então vem tudo da China. Tudo que o PPB permite é importado”, comenta.
A queda na produção de motocicletas, devido à crise no mercado de Duas Rodas, é um dos principais fatores dessa diminuição de insumos nacionais utilizados no PIM. As motocicletas de até 150cc, por exemplo, utilizavam mais de 90% dos insumos adquiridos nacionalmente. “Essas motocicletas tiveram queda grande no volume fabricado por causa da dificuldade de acesso ao crédito. Então, não é só o aumento das exportações de insumos que prejudica. Mas redução da participação da motocicleta que trouxe essa comparação aos patamares atuais”, explica.
O crescimento do setor de polo eletrônico também auxilia essa maior importação já que os fabricantes de insumos nacionais não possuem tecnologia para produzir com a mesma qualidade que o mercado externo. “As telas de TV de LCD e Plasma, por exemplo, o governo Estadual tinha política de incentivos para aquisição desse insumo localmente, mas isso foi revisto. Hoje as empresas acabam importando mais do que produzindo aqui, sofrendo o impacto de toda essa mudança tecnológica”, comenta Périco.
Fonte: JCAM