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​Oxigênio sai da produção para suprir hospitais

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19/01/2021

Fonte: Valor Econômico - 18/01/2021

Por Daniela Braun e Marli Olmos — De São Paulo


Oromendia, da 3M, diz que fábrica de SP trabalha na doação para hospitais de Manaus: “Máscaras N-95 são essenciais” — Foto: Silvia Zamboni/Valor

Desde que a pandemia começou, a ação solidária das empresas tem servido para tapar buracos deixados pelo poder público no serviço de saúde. Ao longo dos meses, a iniciativa privada confeccionou e doou máscaras de proteção, consertou respiradores e ajudou a erguer hospitais de campanha. O trágico esgotamento de oxigênio nas unidades de saúde do Amazonas, na semana passada, mais uma vez mobilizou o setor privado. Empresas do Polo Industrial de Manaus atenderam à requisição administrativa estadual e doaram seus suprimentos de oxigênio. Embora isso represente risco de interrupções em suas fábricas, dirigentes do setor argumentam que a ajuda humanitária é prioridade.

Na indústria, o oxigênio é usado em processos de soldagem e em testes de produtos. O nitrogênio, usado na pressurização dos aparelhos de ar-condicionado, também estará em falta nas fábricas já que as duas usinas produtoras, White Martins e Carbox, estão totalmente dedicadas à produção de oxigênio em Manaus. “As empresas também decidiram não receber novas remessas até que o abastecimento dos hospitais seja normalizado”, afirma o presidente do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Ciem), Wilson Périco.

A indústria de motocicletas e bicicletas também utiliza oxigênio. Mas a doação de cilindros para a rede hospitalar não comprometerá a produção, segundo Paulo Takeuchi, diretor-executivo da Associação Brasileira das Fabricantes de Motocicletas e Bicicletas (Abraciclo). Segundo ele, nessa indústria, o oxigênio é mais usado no processo de soldas específicas de serviços de reparos. Mas a linha de produção não depende do produto. Os processos podem ser feitos com outros tipos de gases. “Qualquer serviço de manutenção pode esperar enquanto nos dedicamos a essa causa humanitária”, disse. A Abraciclo também doou máscaras usadas em respiradores.

Não houve, até agora, paralisação total de fábricas no Polo Industrial de Manaus pela falta de oxigênio. Houve, no entanto, alguns casos, como o da LG, que teve de interromper a produção de uma de suas linhas. Em nota, a LG informou que “a unidade fabril de ar-condicionado suspendeu temporariamente as atividades em função da disponibilização de insumos de oxigênio aos hospitais de Manaus”. A empresa acrescentou que as atividades serão restabelecidas em breve.

Segundo o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam), Antonio Carlos da Silva, as empresas do Amazonas já doaram todo o seu estoque de oxigênio para ajudar a suprir a rede hospitalar. “A situação é muito trágica [...], o importante é salvar vidas”. Segundo Silva, o Polo Industrial emprega quase 100 mil pessoas, o que, diz, significa que praticamente metade da população de Manaus depende da atividade industrial na região.

A Honda doou 22 cilindros de oxigênio que, segundo a empresa, não é usado no processo de produção. Périco teme, no entanto, que a produção de condicionadores de ar e da indústria de motocicletas e bicicletas possa sofrer interrupções nos próximos dias.

Além da LG, Panasonic, Whirlpool e Electrolux fabricam aparelhos de ar-condicionado na região. “Se a questão não se adequar nos próximos dias, o que está no sistema das empresas vai ser consumido e a atividade deixará de ser realizada”, diz Périco.

Em nota, Associação Brasileira da Industria Elétrica e Eletrônica (Abinee), diz estar “preocupada com a situação dramática de Manaus” e acompanha “as ações junto às empresas e entidades industriais para auxiliar na busca por equipamentos e materiais para o combate à covid-19 na cidade”.

Com fábricas na Zona Franca, as fabricantes de eletrodomésticos Electrolux e Whirlpool (dona das marcas Brastemp e Consul) doaram estoques de oxigênio. A Whirpool doou 3 mil m³de oxigênio e 160 mil máscaras cirúrgicas para a Secretária de Saúde do Amazonas. A empresa estuda, ainda, a compra de oxigênio de outros Estados para doação, em parceria com a Eletros. A companhia não informou se irá suspender a produção parcial ou integralmente em Manaus.

A Electrolux informou que doou todo seu estoque de oxigênio, de cerca de 600 m³, para a rede estadual de saúde. O produto é utilizado para a fabricação de aparelhos de ar-condicionado. O mesmo movimento foi feito pela Semp TCL, que informou ter feito as doações antes da notificação do governo. Na quinta-feira, a Secretaria Estadual da Saúde do Amazonas enviou uma notificação extrajudicial a 18 empresas da região para que todo o estoque de oxigênio seja redirecionado à Rede Estadual de Saúde até que a situação dos hospitais seja normalizada.

Diante do salto nos casos de covid-19, empresas reativaram a Ação Social Integrada do Polo Industrial de Manaus. Além das doações de oxigênio pela indústria, a ação busca doações de água potável em garrafas para evitar a circulação dos doentes e aglomerações em torno de bebedouros, evitando a proliferação do vírus.

A 3M do Brasil vai doar 150 mil máscaras e insumos hospitalares, fabricados no interior de São Paulo, para quatro hospitais públicos de Manaus. A empresa negocia o transporte junto a uma companhia aérea. “As máscaras N-95 são essenciais, já que um profissional na linha de frente pode contaminar cerca de 400 pessoas”, diz Marcelo Oromendia, presidente da 3M. Em Manaus fica uma das seis fábricas da empresa no país. Segundo ele, a 3M ampliou em 40% a capacidade produtiva na fábrica para atender a demanda.

“No início da pandemia ajustamos a segurança de funcionários, colocamos área administrativa em home office e grupos de risco, que representam 5% do efetivo, estão afastados”, afirma o executivo. A unidade de Manaus, que fabrica cerca de 50 produtos, incluindo equipamentos de proteção individual (EPI), filtros de ar hospitalares e fitas para embalagem de caixas de papelão, não parou durante a pandemia.

Os insumos doados pela 3M incluem fixadores de sondas nasais, fitas cirúrgicas para curativo, curativos transparentes para fixação de cateter e eletrodos de maior duração para monitoramento cardíaco de pacientes.

A mobilização inclui o movimento sindical. A União Geral dos Trabalhadores (UGT) e outras cinco centrais sindicais - Central Única dos Trabalhadores (CUT), Força Sindical, Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST) e Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB) - recolheram R$ 100 mil reais em doações e intensificarão a campanha esta semana.

“Queremos atingir o maior valor possível para ajudar a diminuir a dor das famílias dos trabalhadores”, destaca Ricardo Patah, presidente da UGT. As centrais também buscam apoio de empresários para doações tanto em dinheiro como em insumos. Patah informa também que as regionais das centrais no Amazonas fiscalizarão o destino das doações.

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