02/12/2021

Representantes do setor de duas rodas da ZFM avaliam que a nova variante do coronavírus pode atrasar a retomada do fornecimento de componentes. Eles também se queixam do aumento no custo dos contêineres para transporte de insumos.

Faturamento

O PIM faturou R$ 116,5 bilhões de janeiro a setembro deste ano, um crescimento de 42,27% em relação ao mesmo período do ano passado(R$ 81,9 bilhões).

14,8 bilhões de reais

Foi o faturamento do polo de duas rodas do PIM de janeiro a setembro deste ano.

Representantes da Abraciclo avaliam que a nova variante pode atrasar a normalização do fornecimento do insumos para o polo do duas rodas

No momento em que a variante Ômicron da Covid-19 avança no mundo e já conta com três diagnósticos registrados no Brasil, líderes do setor de duas rodas relataram em entrevista ao A CRÍTICA a preocupação com a possibilidade de um novo desarranjo no processo produtivo mundial de peças que pode ter impactos diretos no Polo Industrial de Manaus (PIM).

Desde o início da pandemia, as indústrias relatam a dificuldade global para aquisição de peças em setores fortemente dependentes da importação de matérias-primas. Apesar dos números de infecções e mortes terem reduzido no decorrer da vacinação, a demanda reprimida pelos produtos foi intensificada dificultando também a logística.

“São sistemas assim muito complexos e o volume do Brasil em relação a Ásia é menor. Esses itens têm uma dependência muito forte de fornecedores a nível global. E não é só o Brasil. A retomada ainda está refletindo a falta de insumos. Ainda tem o problema logístico com a falta de contêineres navios e a consequência foi o frete que ainda era de 2 a 3 mil dólares hoje está 20 a 25 mil”, disse o diretor executivo da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo), Paulo Takeuchi.

BICICLETAS

No setor de duas rodas, o segundo maior em faturamento do PIM, a produção mais prejudicada com a concorrência global por peças foi as bicicletas. Até outubro de 2021, por exemplo, foram produzidas 649.872 unidades, o que corresponde a 26% da fabricação pré-pandemia quando até outubro de 2019 saíram das fábricas 820.040 bikes.

A expectativa, de acordo com Paulo Takeuchi, era de que nos próximos meses disponibilidade de peças no mercado pudesse voltar a normalidade e assim a produção fosse acelerada. No entanto, o avanço da Ômicron mundo afora torna as estimativas para o próximo ano incertas.

“Esperamos com a falta de componente por mais três a quatro meses para que a gente possa ter uma previsibilidade. Exceto com essa nova variante. Antes da nova variante a gente imaginava que em meados do ano que vem a gente tivesse uma estabilidade, mas com essa Ômicron precisamos esperar”, projetou o executivo.

Uma das soluções que têm sido levantadas em âmbito local e nacional é a nacionalização da produção de componentes. Fabricas como a Moto Honda do Brasil, por exemplo, sentiram menos o efeito da escassez de insumos por adotarem uma logística vertical de produção com a compra de matéria-prima em produtores situados no PIM.

PODER DE COMPRA

Outro fator que tem tido atenção do setor é a queda no poder de compra do brasileiro de renda mais baixa, principal consumidor das motocicletas. Apesar dos números positivos de produção inflados pela popularização do delivery, a alta no preço dos combustíveis e a opção de muitos cidadãos para fugir da aglomeração do transporte público, a inadimplência nos financiamentos e consórcios tende a crescer, de acordo como diretor executivo.

“A inadimplência tem aumentado até porque caiu o poder de compra e o valor da renda. Obviamente que entre pagar uma prestação e comprar comida é primeiro a comida e isso vai chegando a uma escala que pode afetar o mercado, mas como vai chegar também novos clientes acho que não vai afetar muito a produção”, ressaltou.

Redução de alíquota preocupa

A política ‘liberal’ de importação adotada pelo Ministério Economia, comandado por Paulo Guedes, é assunto de negociações entre a pasta e a Abraciclo. No início do ano, uma resolução da Câmara de Comércio Exterior buscava reduzir de forma gradativa alíquota de importação de bicicleta de 35% para 20%, até o final do ano.

“Ainda temos esse risco e a gente continua em negociação. A gente entende que existe a intenção do governo ser mais liberal e liberar tudo mas você acaba exportando os empregos que a gente tem aqui. A gente não quer protecionismos. A gente quer condições para competir”, disse Paulo.

“A gente cumpre uma série de contrapartidas para usufruir desse benefício. Quando você estende para outras regiões acaba criando um desequilíbrio”, destacou o gerente de Relações Insutucionais da Abraciclo, Tiago Mello.

Sense Bike amplia a produção

Uma das recordistas na produção de bicicletas, a montadora Sense Bike Indústria de Bicicletas da Amazônia terá a sua produção ampliada na fábrica localizada no PIM. Hoje a empresa realiza um evento para inauguração da nova linha.

“Ela é uma das quatro das nossas associadas que produzem bicicletas aqui em Manaus. Estamos calculando um bom desempenho depois da pandemia tanto nas motocicletas, quanto nas bicicletas e as fábricas, principalmente a Sense, estão podendo ampliar e crescer mais os produtos para essa nova demanda que vai ser no novo normal”, destacou o diretor-presidente da Abraciclo.

Ele confirmou ainda que no próximo ano Manaus, a entidade que representa 14 associadas do setor de duas rodas contará com uma representação em Manaus.

Em números

10,4 bilhões de reais foram os gastos do setor de duas rodas do PIM com a compra de insumos de janeiro a setembro deste ano. Deste valor, 40,1% se referem à aquisição no exterior, o que representa R$ 4,1 bilhões. Outros R$ 4,6 bilhões foram de fornecedores regionais (44,4%) e R$ 1,6 bilhão da indústria nacional (15,4%).

Fonte: Acrítica