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O que o passado mostra sobre o aumento da Selic e da inflação

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01/11/2021

Vitória Fernandes

O novo patamar da Selic de 7,75% ao ano, atingido na última quarta-feira (27), é resultado de diversos fatores políticos, econômicos e de saúde pública, cujos acontecimentos e os respectivos efeitos vêm ocorrendo desde o início de 2020. Ao retornarmos ao início do período, de imediato, a pandemia já ocupa o lugar de protagonismo, com o fechamento de comércio, o isolamento social e a crise sanitária. Mas o novo nível da taxa básica de juros alcançado nesta semana tem também outras causas importantes.

Para Simone Pasianotto, economista-chefe da Reag Investimentos, existem três pontos que foram ignorados desde o início da pandemia que levaram à situação de hoje. O primeiro é que, logo no começo, a taxa básica de juros estava em seu piso histórico e o Banco Central demorou a reagir, uma vez que já era esperado que o volume de gastos emergenciais iria aumentar.

Em agosto de 2020, ou seja, seis meses após o primeiro caso da doença no país, a Selic estava em 2% ao ano, o menor nível da história. “Sabemos que em momento de muitos gastos, precisamos ter a nossa taxa de juros lá no alto para poder manter a demanda e conter a inflação”, afirmou.

O segundo ponto elencado por Pasianotto é o risco político de um novo governo, que já havia acontecido com Luiz Inácio Lula da Silva (PT), quando a inflação bateu 26,5% a.a em fevereiro de 2003, e se repetiu, em menores proporções, com o atual presidente, Jair Bolsonaro (sem partido), nos dias de hoje.

E em terceiro, ela aponta a crise externa, causada pela pandemia, que gerou desbalanceamento da oferta e da demanda no país, como já aconteceu em outros momentos. “Nós já vivemos esses três pontos em vários momentos da história e parece que não aprendemos muito”, completou a economista-chefe da Reag Investimentos.

Para Ricardo Humberto Rocha, professor de economia do Insper, o terceiro ponto indicado por Pasianotto é um dos mais relevantes para avaliar a situação atual do país.

“A inflação que estamos vivendo hoje não é só brasileira, é globalizada. E nós somos uma economia de baixa competição, com uma dívida pública alta. Tivemos um auxílio-emergencial fora do esperado no ano passado e com a demanda muito grande, gera essa inflação que estamos observando”, explicou.

Para ele, um diferencial do que havíamos presenciado em situações semelhantes no passado, é que, desta vez, o país conta com grande pressão na taxa de câmbio, que é puxada também pela falta de interesse dos investidores.

“O câmbio, que durante muitos anos foi uma aliado para manter a inflação e trazê-la para baixo, hoje não está cumprindo esse papel, justamente por conta da pressão internacional e do risco-Brasil”, completou.

Nicola Tingas, economista chefe da Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento), compactua com essa visão e afirma que o abalo sentido pelo Brasil não é só por causa da crise interna, mas também em função de consequências econômicas do cenário mundial geradas pelo período pandêmico.

“Não adianta olhar para o passado para tentar prever o comportamento do Banco Central agora. Ele se ajustou conforme a situação do país. Então, o que podemos buscar no passado é a experiência dos momentos de inércia na inflação e da indexação, ou seja, do reajuste de preços, já que, na prática, isso em alguma magnitude já está acontecendo”, ressaltou.

Para o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, a expectativa de inflação, que se formou desde o início desse período, também teve grande responsabilidade para o alcance do patamar atual da Selic. Ele afirmou que acredita que a melhor forma de controlar a inflação é por meio dos ajustes na taxa básica.

“Podemos ver nos governos passados, como o do Fernando Henrique [PSDB] e do Lula, que subir a taxa de juros não é novidade, e sim a única resposta. Quando a gente não controla uma pandemia chamada risco-Brasil, o que sobra é uma vacina chamada taxa de juros”, afirmou Ricardo, do Insper.

Na avaliação do economista Igor Macedo de Lucena, doutorando em Relações Internacionais na Universidade de Lisboa, o Brasil precisará de iniciativas ainda mais incisivas para conseguir fugir da temida estagflação, que corresponde a falta de crescimento econômico e alta da inflação.

“O movimento do câmbio e do governo pode levar a um crescimento zero da economia, enquanto a inflação continua alta. Isso significa que a falta de reformas se mostra um grande risco para o Brasil em 2022 e 2023. Se a agenda fiscal e de reformas não avançar, podemos entrar nessa estagnação”, informou Lucena.

Para ele, até o fim do ano, a taxa básica de juros pode passar da casa dos dois dígitos e mesmo assim a inflação não será controlada. Tingas, por sua vez, acredita que o controle da inflação só tem chances de ocorrer no início de 2022, se acontecer.

Fonte: Forbes

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