15/01/2019
*Augusto Barreto Rocha
“Perguntas são as respostas” (“Questions are the answer”) é
um livro de Hal Gregersen, professor e Diretor do Centro de
Liderança do MIT, lançado em novembro de 2018. Em suas
aulas ele instiga a fazer “brainstoms” ao contrário,
perguntando ao invés de armando, provocando insights a
quem possui o problema. Mesmo antes de ser aluno dele, já
achava perguntas encantadoras: provocam reexões em quem
vai responder. Quem faz perguntas possui alguma opinião,
mesmo que seja insegura, mas é praticamente impossível
surgir uma pergunta de quem não tem nenhum
conhecimento. Por isso quando me deparo com uma turma
que não possui dúvidas, tenho a convicção que ali não houve
estudos e não há cérebros em evolução, mas um conjunto
amorfo de seres.
Uma das dificuldades do presente, onde existem mecanismos
de buscas e internet na ponta dos dedos, é a profundidade de
pires que as pessoas dão a questões de relevância. Muitos
acreditam fortemente na sensação de dominar um
determinado tema do conhecimento simplesmente porque leu dois ou três parágrafos resultados de uma busca na Internet.
Como se a Wikipédia fosse a Biblioteca de Alexandria que lhe
daria um saber infinito. Como se a sua habilidade de falar ou a
conta bancária (no caso dos novos-ricos ou herdeiros sem
talento ou estudo) tivesse equivalência com o domínio de um
assunto após 10 mil horas de estudo ou de trabalho somado a
reflexões de um grupo de especialistas.
Na semana passada participei de uma experiência cidadã
única: um grupo de quatro deputados federais, recém-eleitos,
de diferentes pers, partidos, formações, ideais e
experiências, colocaram-se em um auditório com um
propósito: compreender melhor os desaos econômicos do
Amazonas, em especial no que diz respeito aos problemas
presentes e históricos da Zona Franca de Manaus. Ao longo de
um dia, e parte da noite, foram realizadas seis apresentações:
Jorge Júnior (Eletros, que analisou a ZFM e a sua relação com
o novo governo), Ana Maria Souza (Suframa, que apresentou
aula emocionada e densa sobre a ZFM e sua legislação),
Maurício Brilhante (UFAM, que demonstrou provocações e
contradições da ZFM), Marcelo Pereira (Suframa, que
detalhou com profundidade a situação, desaos e
oportunidades para a Pesquisa & Desenvolvimento na região),
José Alberto Machado (MPE, que discorreu sobre
comportamentos e oportunidades para a construção do futuro
do Amazonas) e eu, sobre a Logística na Zona Franca de
Manaus (que não é um problema de distância)
O que me encantou no evento não foi ter o acesso a
informações valiosas ou as preciosas aulas dos demais. O que
me encantou foi ouvir perguntas legítimas, interessadas e
espontâneas dos deputados Marcelo Ramos (PR, organizador
do encontro), Capitão Alberto Neto (PRB), Delegado Pablo
(PSL) e Sidney Leite (PSD). Cada um destes futuros
legisladores tiveram a audácia de estudar um dos temas mais
importantes do Amazonas e da Amazônia, antes de tomar
posse, tomando notas ao longo de todo o tempo. Algo que é
normal para qualquer executivo do setor privado, mas não me
parece que fazia parte da prática política no Amazonas.
Parabéns para eles.
Fica uma expectativa que esta nova postura gere frutos, pois o
Amazonas está mergulhado na crise mais severa de sua
história e as ruas do Distrito Industrial estão infestadas de
buracos faz mais de uma década. Para alguns, existem dúvidas
sobre as razões do faturamento reduzir mais de 30% em
poucos anos. Não há um reconhecimento da importância
econômica da ZFM pelos gestores públicos do Amazonas nem
para asfaltar a rua na frente das fábricas. Faria sentido pedir apoio de outras regiões ou atrair empresas, se nem nós damos
a mínima? Temos muito mais inimigos internos do que
externos. Mesmo com todo o imposto arrecadado. Há algum
elo perdido, que poderá ser resgatado a partir deste evento.
Como crises são ótimas para unir pessoas e a prosperidade ou
a vaidade são hábeis para dividir, é importante que este
momento seja aproveitado. A sensação de ouvir perguntas de
quem sabe (quem não sabe, ou acha que sabe, costuma fazer
armações eloquentes e nunca tem dúvidas!) foi um divisor
de eras no seio daquele grupo de técnicos.
Os próximos passos deste encontro podem repetir erros do passado, mas também pode ser uma construção de um futuro melhor para o Amazonas, onde todos os políticos possam se interessar por: investir 2,5% do PIB em infraestrutura, reconstruir a BR-319, integrar o interior do estado com Manaus ou suportar um hub para o Aeroporto de Manaus. Tudo isso não por ser um projeto de Fulano, Beltrano ou Sicrano, mas por ser um projeto para o Amazonas. Quando a atuação legislativa e executiva deixar de ser de um político e passar a ser para o Estado e quando todos nós nos unirmos pelos interesses do Amazonas, certamente teremos um futuro melhor. Um bom ensaio foi feito. Em 1º de fevereiro legisladores tomarão posse e começarão o show. Que eles sigam a sua consciência e o interesse público. Estamos aqui para apoiar a bandeira do Amazonas e as lutas contra as nossas deficiências históricas e completamente disponíveis para aprofundar, além do pires, qualquer das questões que os intrigue sobre os nossos temas. Temos milhares de mentes com conhecimento de todas as nossas deficiências, ansiosas para contribuir. Elas não precisarão vir de Marte ou Júpiter. Boa sorte para nós, porque a crise continua e os tempos são outros. Precisamos de uma nova postura. Oxalá, vossas excelências influenciem com boa política os demais atores, pois nosso futuro depende também disso. A vida é muito curta para nos transformar em especialistas sobre a Amazônia. Deus nos proteja de nós mesmos.
(*) professor da Ufam e empresário