Nas décadas de 1990 e 2000, a Semp Toshiba era praticamente sinônimo de televisores para os brasileiros, tendo ocupado a liderança em vendas durante 10 anos, de 1997 a 2007. Mas problemas financeiros que se acentuaram nos últimos três anos e a chegada de concorrentes de peso, como as coreanas Samsung e LG, fizeram a companhia perder o brilho nesse disputado mercado. A tela grande ainda representou, é verdade, 80% dos R$ 1,2 bilhão que a companhia faturou em 2014. Mas o plano do executivo Ricardo Freitas, que está à frente da empresa brasileira desde 2014, é reduzir essa dependência para 50%, até 2018.

Uma de suas apostas para alcançar esse objetivo é um computador em miniatura, batizado de Stick PC. Desenvolvido pela americana Intel, o produto é fabricado com exclusividade pela Semp Toshiba no mercado brasileiro. “Ele transforma qualquer tela com entrada HDMI, como uma tevê ou um monitor, em um computador", afirma Freitas. “É do tamanho de um pendrive e cabe em um bolso.” O aparelho, que será produzido na fábrica de Manaus, chega para incrementar a linha de computação da Semp Toshiba, que passou por uma reestruturação em 2013.

A unidade industrial de Salvador foi fechada e a companhia desistiu de atuar nos mercados de celulares e desktops. A marca STI também foi descontinuada. Apenas a produção de notebooks e de tablets foi mantida. “Nossa linha é bem focada em produtos que têm saída", diz Freitas. Não será uma missão das mais fáceis. O mundo dos computadores está em crise. A previsão da consultoria americana de tecnologia IDC é que haja uma queda de 20% nas vendas, neste ano, no Brasil. “Este começo de ano foi muito turbulento e isso impactou diversos setores da economia”, afirma Pedro Hagge, analista de pesquisas da IDC Brasil.

“A diminuição do crédito e a alta do dólar esfriaram o mercado.” Freitas, no entanto, aposta na versatilidade do seu produto, que tem potencial para brigar por uma fatia de mercado em diversas áreas. O computador pendrive da Semp Toshiba, por exemplo, pode rivalizar com o Chromecast, do Google, que permite a uma tevê normal acessar a internet. O Stick PC, por sua vez, é mais amplo, pois transforma a televisão em um computador de fato. “Ele é mais fácil de ser transportado do que um notebook”, diz Freitas. “E pode ser um computador secundário para uma residência.” O Google também conta com uma opção bem semelhante ao produto desenvolvido pela Intel, lançado em abril deste ano.

Batizado de Chromebit, ele também transforma a tevê em um computador. A área de computação não é a única arma para reduzir a "tevedependência" da marca controlada pelo empresário paulista Affonso Brandão Hennel. Neste segundo semestre, a Semp Toshiba entrará no mercado de eletroportáteis, vendendo cafeteiras, liquidificadores, grills e fritadeiras, entre outros itens. Os produtos serão importados da Ásia e não há planos, neste momento, de fabricá-los no Brasil. A ideia é saber quais terão grande demanda, para depois decidir se vale a pena manufaturá-los por aqui. No setor de eletroportáteis, diz Freitas, a competição é menos acirrada do que na de televisores, que demanda pesados investimentos para conquistar uma fatia de mercado.

Há 18 meses como presidente da Semp Toshiba, Freitas assumiu a empresa na mais grave crise de sua história. A receita para recolocá-la no rumo certo foi amarga: demissão de funcionários, venda de ativos não estratégicos e reformulação do portfólio de produtos. Em 2014, apesar das dificuldades, a companhia conseguiu lucro de R$ 21 milhões, depois de três anos consecutivos no vermelho – em 2013, as perdas foram de R$ 351 milhões. Esse desempenho, no entanto, só foi possível em razão da venda de um terreno de 27 mil metros quadrados, onde estava localizada a sede da empresa, em São Paulo.Sem considerar esse resultado não recorrente, a Semp Toshiba teria tido um prejuízo de R$ 20 milhões.

Fonte: IstoÉ Dinheiro