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O café, a tapioquinha e a dimensão da ZFM

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21/05/2021

Fonte: Brasil Amazônia Agora

Juarez Baldoino*

Perguntada sobre o que é a falada “Zona Franca de Manaus” e qual a relação dela com o café e a tapioquinha que ela serve na banca da sua calçada, D. Raimunda disse não saber bem do que se tratava. A banca é de boa qualidade e a casa tem aparente reforma recente e está bem cuidada, tudo conseguido com venda de tapioca e café.

A XR Empreendimentos fornece café da manhã e serviços de jardinagem e portaria para empresas do Distrito Industrial da ZFM e tem feito reinvestimento de lucros anualmente; emprega 48 pessoas, e uma delas é filho de D. Raimunda.

Em 2018 foi inaugurado em Manaus o primeiro Complexo Administrativo do Ministério da Economia em Manaus, uma das maiores estruturas do órgão no país, projeto que visou atender principalmente a demanda de contribuintes da ZFM e região na perspectiva de 2073. A Ponte Phelippe Daou sobre o Rio Negro custou R$ 1 bilhão, e está sendo paga com a arrecadação das atividades da ZFM. A produção agrícola do pequeno produtor do Amazonas tem Manaus como único ou principal destino, inclusive trazendo a goma da tapioca da D. Raimunda. A grade curricular da UFAM, da UEA e das dezenas de Universidades de Manaus, tem cursos que atendem as demandas da ZFM.

Os grandes Shopping Centers de Manaus, os grandes escritórios nacionais de advocacia, as grandes marcas das escolas de línguas, os restaurantes famosos de franquias brasileiras, estão em Manaus por causa da ZFM, como também estão as centenas de escritórios contábeis, dos despachantes, as centenas de transportadoras e as multinacionais empresas de cabotagem.

São ainda milhares de estivadores, comandantes de embarcações e cozinheiras que fazem a navegação do interior funcionar, transportando trabalhadores da ZFM, sofás e óculos para os municípios do interior.

De apenas 2 concessionárias de automóveis no século passado, a Ford e a Chevrolet, hoje as grandes marcas de carros de luxo estão na capital atraídas pela ZFM.

As férias de grande parte dos manauaras com destino ao exterior ou a Fortaleza, também são possíveis em razão da ZFM.

possíveis em razão da ZFM. A indústria da construção civil que cobriu de prédios o Passeio do Mindú e diversos outros locais da cidade, foi expandida e consolidada por causa da ZFM.

A expansão do comércio em geral e das populações pelas zonas Norte e Leste em Manaus, incluindo as invasões, são fruto da ZFM.

2 milhões de pessoas vieram para Manaus ou nasceram nela nos últimos 40 anos por causa da ZFM; Curitiba levou 328 anos para atingir esta marca.

Dos 41 vereadores da capital, 16 devem seu mandato à ZFM, que permitiu o contingente populacional chegar no quantitativo definido no artigo 29 da CF.

Milhares de servidores foram contratados pela prefeitura de Manaus e pelo governo estadual para operar a estrutura do executivo e acompanhar a demanda crescente puxada pela ZFM.

D. Raimunda não sabe bem o que é a ZFM e nem porque vende tanta tapioca, que até conseguiu reformar a casa. Não se deu conta que tomam o seu café os trabalhadores dos bancos, das fábricas, dos hospitais, dos escritórios, dos cabeleireiros antes de irem aos seus salões, dos encanadores e eletricistas antes de seguirem rumo aos seus “bicos” ou oficinas ou dos balconistas dos shoppings, das tabernas, do comércio central ou da periferia, das lojas de departamento ou os camelôs.

Ela também não percebeu que toda a atividade comercial e de serviços é fomentada pelo tal do PIM, outra palavra um pouco “estranha” para ela. Não se deu conta de que o inverso não é verdadeiro, ou seja, não são as nobres e essenciais atividades do comércio ou dos serviços que atraíram o polo industrial, o que é natural e pode ocorrer em outros locais; foi precisamente e exclusivamente o PIM que desencadeou o processo econômico do comércio e serviços em Manaus e parte do interior.

D. Raimunda manda um dinheirinho que sobra da tapioca todos os meses para sua mãe no interior, que lá compra o gás na taberna e às vezes uma sandália ou um fogão novo na loja recentemente inaugurada na sua cidade.

Não é só ela que não sabe bem o que é a ZFM...

(*) é Amazonólogo, MSc em Sociedade e Cultura da Amazônia – UFAM, Economista, Professor de Pós- Graduação e Consultor de empresas especializado em ZFM

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