28/10/2019
Fonte: BNC Amazonas
Neuton Correa
Tudo o que aconteceu até hoje na histórica luta doméstica para acabar com o
parque industrial do Amazonas é fichinha diante do que pode acontecer num
cenário de possível saída do Brasil do Mercosul.
A despeito dos números que possam significar a relação da Zona Franca de Manaus
(ZFM) com o bloco, a motivação que faz com o que o governo Bolsonaro (PSL)
promova o Brexit sul-americano é o que precisa ser levado em conta no contexto. Isso porque o que está em discussão é a abertura do mercado aos importados.
É fácil seduzir adesões à ideia, porque a finalidade é oferecer ao consumidor final (e
desinformado) preços mais baratos.
Mas o meio da história pode fazer com que esse consumidor final não exista.
O fim das empresas, a desindustrialização nacional, inevitavelmente, pode provocar uma massa de desempregados e consequentemente de uma população sem poder de compra.
Imposto de Importação
O governo Bolsonaro já negocia com os membros do Mercosul a redução do
Imposto de Importação (II), pré-requisito da OCDE para que o País seja aceito na
organização.
Com essa abertura comercial e um ambiente de negócio desfavorável aos
produtores não faria sentido ao capital manter seus investimentos no país, muito
menos no interior da Amazônia, no meio do mato.
Com alto custo de produção, o Brasil deixa de ser atrativo para plantas industriais
de marcas estrangeiras que passariam a obedecer à lógica do capital, o lucro.
Ou seja: seria mais lucrativo às fábricas produzirem em outras praças e venderem
para o Brasil, que passaria a oferecer condições melhores de importação para elas,
deixando de empregar, gerar tributos aqui para produzir riquezas em outros países
Eis aí o problema para a ZFM. O Polo Industrial de Manaus, que sequer cuidou de
suas ruas, muito menos da modernização de sua infraestrutura e de seu modelo fiscal, é povoado por fábricas de outros países.
Para elas, dar meia-volta é o caminho mais fácil, no mercado global
Sem anteparo
A situação é dramática para o Amazonas. Sempre que se falou em ameaça ao
modelo vislumbrou-se a possibilidade de um contrapeso no Congresso Nacional,
onde o Amazonas possui uma bancada articulada e combativa.
O drama maior é que dessa vez a mudança depende apenas do presidente, sem
passar por deputados nem senadores.
O anteparo dessa vez não pode ser levado em conta.