18/01/2019
Notícia publicada pela Folha Press
A nova empresa a ser criada a partir da compra
da linha de aviação comercial da Embraer pela Boeing deverá
empregar cerca de 9.000 pessoas no Brasil.
Ainda sem nome e conhecida internamente como NewCo,
acrônimo em inglês para Nova Companhia, ela deve ter sua
criação formalizada nesta quinta-feira, 17, pelas fabricantes
americana e brasileira.
Os detalhes nais, segundo a reportagem apurou junto a
pessoas ligadas ao negócio, ainda estão sendo costurados
pelos times jurídicos das duas empresas. Duas questões
davam mais trabalho: a composição de pessoal e a
equalização da propriedade intelectual da Embraer.
O negócio foi aprovado pelo governo brasileiro, que possui
poder de veto remanescente da privatização da Embraer em 1994, na semana passada. A negociação durou cerca de um
ano, e a partir da assinatura os acionistas da empresa
brasileira serão consultados em 30 dias.
A expectativa é de aprovação, em especial após a conrmação
nesta quarta-feira, 16, de que eles receberão US$ 1,6 bilhão
em dividendos pelo acordo. A Boeing pagará US$ 4,2 bilhões à
Embraer pelo controle de 80% da empresa, enquanto 20%
permanecerão com os brasileiros.
Em relação ao quadro funcional, ainda não está denido quem
irá migrar da “velha Embraer” para a NewCo e quem cará na
empresa. Ela reteve as linhas de defesa e aviação executiva
A Embraer tem 18,5 mil funcionários, 16 mil no Brasil. O
número a ser alocado na NewCo, 9.000, bate com a estimativa
do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos sobre a
força de trabalho da divisão comercial hoje. A entidade se
opõe ao acordo por temer que a “velha Embraer” se torne
insustentável, perca postos de trabalho e acesso a tecnologia.
A questão da propriedade intelectual é bastante complexa.
Para efetuar a separação da área militar da civil na Embraer,
foi necessário redesenhar o departamento de pesquisa e
desenvolvimento, que era interligado
Ocorre que a empresa remanescente precisa manter pessoal e
capacidade técnica na área civil, dado que continuará a vender
jatos executivos. Ao todos, estão sendo analisados 3.000 itens.
O transbordo de tecnologia de um lado ao outro, que
possibilitou por exemplo a adoção civil do domínio de voo
subsônico a jato, também teve de ser encerrado. Do lado dos
novos controladores americanos, há dúvidas sobre a
identidade de marca da NewCo. Ela pode vir a se chamar
meramente Boeing Brasil, porque não poderá usar o nome
Embraer.
Já a linha de jatos regionais comprada, estrelada pelos E2,
pode ser chamada assim ou virar um produto Boeing. Nos
anos 1990, quando a empresa americana comprou a rival
McDonnell Douglas, apenas um avião foi renomeado (o
Boeing-717, antigo MD-95).
Nesta quinta também será assinado o acordo que cria uma
joint venture em que a Embraer tem 51% do controle para a
produção e venda do cargueiro KC-390.
A Boeing já fazia a promoção comercial do avião no exterior,
sem grande sucesso. A compra de 28 KC-390 pela FAB (Força
Aérea Brasileira) seguirá na “velha Embraer”, assim como a
provável primeira exportação para Portugal.
Para habilitar o avião a ser vendido para os EUA ou utilizando
os benefícios do programa americano de vendas militares para
outros governos, deverá ser aberta uma linha do KC-390 no
país. É o que acontece com os Super Tucano da “velha
Embraer”.
Os royalties de exportação a que a FAB tem direito por ter
colocado R$ 5 bilhões no desenvolvimento do avião serão
pagos pelo lado brasileiro da joint venture, que é majoritário
como os militares exigiram na negociação.
Para aplacar temores de desnacionalização, o acordo deixa
claro que a linha do KC-390 em Gavião Peixoto (SP) seguirá
funcionando.
A questão das linhas ainda precisa ser denida ao longo de 2019, caso o negócio se concretize como esperado. Os jatos comerciais da NewCo continuarão a ser feitos na sede da Embraer em São José dos Campos (SP), mas não se sabe se a aviação executiva cará por lá num acordo entre empresas ou movida para a unidade de Gavião Peixoto.