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16/06/2021

Por Márcio Holland*

Sempre que há uma ruptura na economia, causada por uma grave crise econômica, ou por pandemia, discute-se muito sobre que mundo se erguerá das cinzas, na crença de que moveremos, obrigatoriamente, rumo a um novo equilíbrio de forças sociais, econômicas e tecnológicas. O mundo será diferente. Mas, quanto? Como?

Com a pandemia da Covid-19 entrando em seu segundo ano, e com o ritmo de vacinação se acelerando, reascendem as chamas das discussões envolvendo o médio e o longo prazo. Já sabemos que a pandemia trouxe para o presente muitas das mudanças que estavam sendo preparadas para daqui cinco ou dez anos. As salas virtuais se revelaram um eficiente método de reuniões de negócios, de aulas e até mesmo de consultas médicas. Não parece haver dúvidas de que o novo-normal será híbrido, em algum lugar entre o presencial e o “live”.

A pandemia da Covid-19 provocou um efeito similar ao de uma guerra mundial. Observamos um forte choque de oferta -parada abrupta nas cadeias de fornecedores globais- seguido de um choque de demanda -interrupção na demanda por diversos serviços e produtos por conta das medidas de distanciamento social. O seu impacto econômico foi desigual entre países e entre setores da atividade. A retomada também se desenha assimétrica.

Muitos negócios não abrirão mais as portas, e muitos postos de trabalho serão esquecidos, principalmente por conta das novas tecnologias. Diversas empresas já estão alterando rapidamente seus modelos de negócios, sua posição estratégica e sua atuação em segmentos distintos dos usuais. A transformação digital é parte mandatória da sobrevivência da empresa.

A grande dúvida é sobre o ritmo de crescimento mundial pós-pandemia. Ele vai ditar o movimento de longo prazo das taxas de juros, dos preços das commodities, e das taxas de desemprego. A epidemia foi mais severa do que a Crise de 2008 e exigiu reações fiscais bem mais fortes.

Em 2020, as economias mundiais contraíram 3,3%, bem mais do que o experimentado durante a crise de 2008, quando a contração foi de 0,1%, em 2009. Na verdade, a pandemia atingiu as economias mundiais, ambas avançadas e em desenvolvimento, em condições de maior fragilidade, do que a crise de 2008. Ela atingiu um mundo mais endividado e com mercados de trabalho mais frágeis.

Diferentemente da crise de 2008, a recuperação econômica tem sido mais acentuada, algo conhecido como retomada em "V". O estouro da bolha imobiliária norte-americana foi acompanhado de retomada em "U" ou em "W". Em 2021, é previsto crescimento mundial de 6%, acima da média de crescimento na fase da chamada “grande moderação”, que provocou o conhecido super ciclo de commodities.

Os resultados fiscais ajustados ao ciclo, em porcentual do PIB, revelam que as ações fiscais para o combate aos efeitos econômicos adversos da pandemia foram sem precedentes para os tempos mais recentes. Estamos falando de quase 3% do PIB adicionais de resultados fiscais negativos, já ajustados ao ciclo, nas economias avançadas, acima das respostas fiscais à Crise de 2008.

Trata-se de um extraordinário impulso fiscal positivo a favor do crescimento econômico. Isso deve explicar grande parte da forte retomada prevista para esse ano.

Desde a crise de 2008, o endividamento público da maioria das economias não para de crescer. A pandemia apenas reforçou essa tendência. Por exemplo, a dívida do Governo Central dos Estados Unidos dobrou desde 2008, saindo de 45% do PIB para 92,5%, em 2020. Entre economias avançadas, a exceção fica por conta da Alemanha, com endividamento público menor agora do que em 2009.

Mesmo com crescimento mais anêmico após a crise de 2008, os mercados financeiros vêm esbanjando vitalidade. Após desabar 50%, no segundo semestre de 2008, o Índice Dow Jones subiu mais de cinco vezes, saindo do fundo do poço de 735 pontos para mais de 4.200 pontos, recentemente. O Índice Nasdaq saltou mais de dez vezes, em um mundo fragilizado entre crise financeira internacional e crise econômica da pandemia.

O grande desafio ainda está por vir. Como as economias irão se comportar após o surto de retomada provocada por forte impulso fiscal ainda é um grande mistério. A China deve crescer mais de 8%, esse ano, contra crescimento de 2,3%, no ano passado. Graças a essa forte retomada chinesa, o mercado de commodities vem experimentando uma espécie de mini-super ciclo, impulsionando diversos setores da economia, empresas e seus valores de mercado. Mas, a China não tem fôlego para seguir neste crescimento, nos próximos anos.

Como reagirão, então, os preços das commodities nos mercados internacionais? Como performarão as economias emergentes dependentes de commodities?

Talvez o maior impulso de crescimento de médio prazo venha de mudanças nas práticas de produção e nos novos negócios sustentáveis objetivando economias de baixo carbono. Esse caminho de fuga dos combustíveis fósseis deve implicar em queima de grande volume de riqueza associada ao setor de petróleo e gás. A velocidade com que essa transformação tende a acontecer pode ser o grande advento deste século. Contudo, o quanto essa transformação impulsionará o crescimento econômico é uma incógnita.

Estamos saindo do fundo do poço e, em muitos casos, com muita euforia. Mas, o quanto as economias mundiais irão crescer depois da euforia é uma incerteza. Em meu cenário-base, arrisco-me a antever que estamos mais para um novo ciclo de acomodação a taxas de crescimento ainda menores do que as observadas após a crise de 2008.

(*) Márcio Holland é professor na Escola de Economia de São Paulo da FGV, onde coordena os “Diálogos Amazônicos” e o Programa de Pós-Graduação em Finanças e Economia (Master) e escreve artigos para o Broadcast quinzenalmente às quartas-feiras.

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