07/05/2019
Notícia publicada pelo Estadão Conteúdo
Para encontrar um profissional para seu time de desenvolvedores, a fintech Warren, de Porto Alegre, foi longe: após meses de procura, contratou um funcionário que trabalha de casa, em Sinop, polo do agronegócio de Mato Grosso, a 3 mil km de distância.
O caso ilustra como o setor de tecnologia se descolou da realidade do mercado de trabalho brasileiro. Em um País de 13,4 milhões de desempregados, ou 12,7% da força de trabalho, o segmento tem no momento 5 mil vagas abertas apenas em startups (empresas nascentes). Considerado todo o ecossistema de tecnologia, as companhias poderiam abrir até 70 mil novas vagas em 2019 – meta que deve ficar longe de ser cumprida por falta de mão de obra capacitada.
Entre janeiro e abril, 2 mil empresas foram fundadas nesse setor (Foto: Welton Máximo/Agência Brasil)
A abertura de empregos no setor é turbinada por várias frentes. Uma delas é a criação de novas empresas de tecnologia. Segundo a Associação Brasileira de Startups (Abstartups), apenas entre janeiro e abril deste ano, nada menos que 2 mil empresas foram fundadas nesse setor.
Até dezembro, mais 3 mil podem começar a operar. Do lado dos negócios mais maduros, aponta a Brasscom, que reúne companhias de tecnologia da informação, a demanda de transformação digital em diversos negócios pode garantir que a receita do setor dobre até 2024, somando R$ 200 bilhões. Para chegar a essa cifra, as companhias vão precisar de 420 mil trabalhadores até 2024, segundo o presidente executivo da associação, Sérgio Paulo Gallindo.
Mas, se há tanta gente procurando emprego, como se explica a dificuldade de unir trabalhadores ávidos por oportunidades às vagas disponíveis? Embora a demanda por profissionais de tecnologia deva ficar em torno de 70 mil pessoas ao ano entre 2019 e 2024, Gallindo explica que as universidades só formam 45 mil profissionais em áreas ligadas a TI por ano.
“Desse total, a metade está em cursos como análise e desenvolvimento de sistemas, que estão defasados em relação ao que o mercado exige hoje”, diz. Ou seja: só um quar to da necessidade de profissionais da área é suprida pelo canal tradicional, que são as universidades.
Como a escassez não será resolvida facilmente, empresas e entidades de classe tentam remendar o problema, relaxando critérios para a contratação, pelo menos no que diz respeito à formação universitária. “As empresas estão contratando pessoas que não são formadas em TI e dando um ‘banho de loja’ (treinamento intensivo)”, diz Amure Pinho, presidente da Abstartups.
A gaúcha Warren, que foi até Sinop para encontrar um programador, já se adaptou aos novos tempos: “A pessoa formada em Ciência da Computação é ideal, mas temos programadores formados em Direito”, afirma André Gusmão, cofundador da empresa.
No ano passado, mesmo em um cenário ainda difícil, as empresas de tecnologia associadas à Brasscom, principal entidade do setor, contrataram 28 mil funcionários, número que só não dobrará em 2019 por causa da falta de pessoal qualificado. Nas 5 mil novas startups que devem surgir em 2019, o total de vagas pode chegar a 50 mil.