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‘Não acredito em grandes investimentos de imediato’

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12/12/2018

Entrevista publicada pelo Jornal Acrítica

Perfil

NOME: Denise Kassama Franco do Amaral

IDADE: 47 anos

ESTUDOS: Ciências Econômicas

> SÓCIA DIRETORA DA OBJETIVA CONSULTORIA ECONÔMICA; PROFESSORA UNIVERSITÁRIA; CONSELHEIRA EFETIVA DO CONSELHO FEDERAL DE ECONOMIA; PRESIDENTE DO INSTITUTO SÓCIO ECONÔMICO DO AMAZONAS (ISA).

Reconduzida para o posto de conselheira da entidade representativa dos economistas brasileiros, Denise Kassama faz, em entrevista para A CRÍTICA, um raio-x do cenário econômico brasileiro, onde, inclusive, demonstra sua preocupação com o liberalismo do próximo presidente.

No âmbito local, a analista faz um panorama da atual configuração do Polo Industrial de Manaus (PIM) e diz que é preciso buscar novas matrizes para sustentar a economia do Estado, pois o modelo já se mostrou fragilizado.

Sua posição como conselheira do CFE ajuda de que forma o Amazonas?

O conselho é a entidade representativa de classe, então é importante a renovação por garantir a participação do Amazonas como um dos principais estados do Norte.

Sendo assim, consigo levar de forma mais dinâmica as demandas do Estado para as discussões em Brasília.

Pela relevância da economia na questão conjuntural do País, o Conselho Federal de Economia acompanha o segmento em âmbito nacional, emitindo opiniões e críticas ao governo. Por exemplo, desde o primeiro mandato de Lula, passando por Dilma Rousseff e mais recentemente, Michel Temer, a entidade sempre se posicionou de maneira crítica à política econômica implementada no sentido de mostrar à sociedade um ponto de observância do que precisa ser feito.

Em quais pilares se sustentam essas críticas? No governo Temer existem algumas medidas que geram preocupação, principalmente em temas como a previdência e a terceirização, com possibilidades de perdas dos direitos trabalhistas.

Essas merecem um olhar mais crítico. Mais recentemente, o Brasil escolheu um presidente de uma linha que defende o liberalismo econômico e já andou fazendo declarações do tipo, "foram os economistas que deixaram o País do jeito que está" e isso nos preocupa, pois nos leva a crer que o presidente eleito não sabe, de fato, o que faz um economista.

Demonstra não ter profundidade sobre os problemas que cercam a economia e a sociedade de forma geral, e isso para mim ficou bem claro pelo números de vezes em que tomou uma decisão e voltou atrás (pelo menos nesse ponto ele foi humilde).

Ele segue um ímpeto que às vezes assusta. E qual sua análise de cenário mais liberal que se desenha?

O liberalismo só é bom quando se tem uma economia fortalecida, que não é o nosso caso.

Portanto, há sim com o que se preocupar nas relações internacionais ­ não sou pessimista ­, mas já que Jair Bolsonaro foi eleito tenho que lhe desejar sucesso em sua administração, porém a aproximação com os Estados Unidos merece um olhar diferenciado.

O governo de Donald Trump já promoveu muitas barreiras comerciais e, inclusive com diversas críticas ao Brasil no âmbito do comércio internacional.

Agora os dois países tentam uma reaproximação, é natural, pois fora a Coréia do Norte, nenhuma economia está isolada.

Há de se pensar seriamente nas relações internacionais. Gostando ou não, o mundo está globalizado, cabe, então, saber como será o comportamento do Brasil ante a esse cenário.

O cenário de instabilidade econômica, que ainda está em curso, afugenta qualquer tipo de investidor, seja nacional ou internacional.

Esse medo já é uma realidade na Zona Franca de Manaus?

Como consultora, trago empresas para a ZFM e tenho acompanhado a indecisão de muitos empreendedores segurarem seus projetos de instalação de plantas industriais aqui por conta desse medo, que passa, necessariamente, pela política.

Mas, após a efervescência eleitoral é possível enxergar mais ou menos a tendência do cenário e de como alguns empresários começam a repensar se vem ou não para cá. A tendência é começar a enxergar o que vai acontecer, mas às vésperas do segundo turno das eleições não era possível fazer nenhum diagnóstico econômico.

A tendência, então, é?

Agora, bem ou mal, é possível olhar mais à frente. A tendência é que as coisas devam se estabilizar, até porque o empresário precisa trabalhar e investir para gerar emprego e renda.

Esse empresário não quer mais esperar, no entanto as apostas vão começar de maneira mais prudente. Não acredito em grandes investimentos de imediato. É notória a apreciação de como as coisas estão se encaminhando para depois intensificar, ou não, os seus investimentos. Acredito que no final do primeiro semestre de 2019 já será possível ter um termômetro como a política econômica há de se comportar.

O comportamento da política de investimento preocupa ante esse cenário de pessimismo?

Fico preocupada, sim, com essa redução de investimentos, como para a educação. O Brasil hoje tem uma base tecnológica muito fraca, e isso é possível observar quando olhamos para o nosso PIM e percebemos que nós somos importadores de tecnologia.

Ou seja: na medida em que não se investe em ciência e tecnologia e educação vamos protelando os avanços e nos tornando ainda mais dependente de tecnologias de fora (Estados Unidos, China e Japão).

Nenhum produto é, efetivamente, criado aqui e, sim, nas bases das próprias indústrias instaladas no polo industrial. A saída seria uma nova matriz econômica?

Não é de hoje que se discutem alternativas para o crescimento da matriz econômica para a Zona Franca.

Infelizmente ao longo de 50 anos, o Amazonas se tornou refém do modelo econômico que, aliás, nessa crise mostrou toda sua fragilidade: um polo basicamente produtor de bens de consumo final. E ao enfrentamos uma crise econômica, especialmente nos dois últimos anos, o brasileiro ficou mais prudente e resolveu poupar mais.

E bens que são produzidos em Manaus deixaram de ser comprados. Entendo que o PIM precisa buscar novas matrizes, novas tendências e acompanhar as novidades do mercado.

Hoje, a televisão é muito mais bem de informática do que de áudio e vídeo, isto é, deve-se ter um investimento maior em ciência e tecnologia localmente.

No discurso, é claro, é fácil de falar, mas novas matrizes implicam em interiorização, em logística. Somos o maior Estado da federação, porém nosso tambaqui vem de Rondônia, outros produtos como a banana vem de fora de Manaus.

Mas, essa ideia é macro?

Sim, vale para outras áreas fora o PIM. Estive recentemente em Novo Remanso, distrito de Itacoatiara, onde é produzido o abacaxi mais doce do Amazonas.

O produtor enfrenta, muitas vezes, o atravessador, diminuindo assim, o lucro dos produtores. Já que é daqui o abacaxi mais doce, como é que esse produtor não consegue fazer chegar o seu fruto no Mercadão de São Paulo, por exemplo? Nem se compara o abacaxi do sudeste com o nosso aqui.

Lá se vende fruta de todos os lugares do mundo. Como vou concorrer de forma igualitária com a falta de infraestrutura que eu tenho de levar a minha produção para os grandes centros urbanos? Ou até mesmo sair daqui? Como não conseguimos produzir o peixe para consumir em Manaus? Então escoar a produção é muito difícil.

Se não mudar a matriz econômica, o PIM some?

Não digo que o Distrito Industrial vai cair, ele vai manter uma média. Estamos mudando nossos hábitos de consumo e o brasileiro está tentando se endividar menos por conta da crise. Vira e mexe vai ter pessoas comprando eletroeletrônicos, bicicletas e os produtos do polo industrial.

Sou muito mais crédula de que vai ter índices recordes de crescimento. Acho que no futuro tão breve, não. Esse processo de recuperação da crise ainda vai se retardar, vai melhorar um pouco, assim como 2018 foi menos ruim que 2017.

O ano de 2019 vai ser um pouquinho melhor, mas estamos longe de alcançar o ápice que vivenciamos antes da crise econômica em que o PIM batia recordes de produtividade.

Tem muita coisa estocada nas fábricas para serem vendidas. Vai demorar um pouco para gente se recuperar, mas vai manter um patamar que tem que ser equilibrado para o próximo ano.

Nesse sentido, o novo governo pode enfrentar entraves econômicos?

O começo de todo governo é difícil em função de ter herdado o ônus e bônus do mandato anterior. Embora o Wilson Lima (PSC) seja novato na política, ele tem procurado se cercar de bons profissionais, bons técnicos para se orientar.

Enquanto ele continuar dando atenção para equipe técnica dele, ele vai realizar um bom mandato. Se ele se deixar dominar pelos favoritismos políticos, fica difícil de conseguir infraestrutura, logística para escoar a produção do interior.

Esse assunto da BR-319 tem que acontecer, assim como melhorar os demais canais logísticos. A produção do interior tem que chegar aos grandes centros.

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