08/02/2023
Cada vez mais as mulheres estão se tornando protagonistas de atividades que antes eram predominantemente masculinas – um movimento que vem provocando verdadeiras transformações na vida e cotidiano de populações amazônicas.
A líder indígena da Terra Indígena (TI), Shirley Arara, em Rondônia, explica a participação das mulheres na organização social das comunidades extrativistas tradicionais da Amazônia. “A gente costuma dizer que a mulher não é dona só do lar, nós também somos donas da terra e trabalhamos na proteção do território”, disse.
A comunidade de Shirley trabalha com a coleta e comercialização da castanha-da-Amazônia e do açaí. Se antes essas cadeias de valor eram dominadas por homens, que realizavam desde a coleta até o beneficiamento desses produtos, hoje a presença feminina se tornou mais forte.
Essa tendência de crescimento da presença feminina nas cadeias extrativistas se repete em outros locais como no município de Beruri, no estado do Amazonas, que possui uma usina de beneficiamento de castanha-da-amazônia. Por lá, aproximadamente 40% dos trabalhadores formais da usina são mulheres.
A diretora presidente da Associação dos Agropecuários de Beruri (Assoab), Sandra Amud, conta que antigamente as mulheres eram apenas as cuidadoras de seus lares.
“Antigamente, as mulheres não eram envolvidas na cadeia. Elas cozinhavam, cuidavam dos filhos e da casa para que seus maridos entrassem nos castanhais enquanto elas faziam o trabalho doméstico. Essa realidade mudou. Hoje as mulheres vendem a própria produção e querem ter acesso ao mercado também”, enfatiza.
A Assoab adquire castanha in natura de 342 famílias coletoras da TI Itixi Mitari e da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Piagaçu-Purus. Desde 2015, Sandra está à frente da gestão da associação e promoveu uma série de melhorias administrativas para solucionar os gargalos da cadeia da castanha.
Para a gestora, ter uma mulher na liderança de uma organização como a Assoab acabou inspirando outras mulheres a se envolverem mais na atividade extrativista e a serem líderes em suas comunidades.
“Estar à frente da associação serve de exemplo para outras mulheres, você acaba empoderando elas a se envolverem em movimentos sociais, mudando a vida de suas famílias. As mulheres estão engajadas e envolvidas na cadeia da castanha e de outros produtos da sociobiodiversidade”, completa.
Parcerias de valor
Um exemplo de mudança foi que, com a nova gestão e qualificação dos extrativistas, a saca da castanha-da-Amazônia deixou de ser comercializada por R$ 30 e passou para R$ 50, um valor acima do mercado, que vem beneficiando muitas famílias extrativistas.
A unidade de Beruri foi a primeira usina de castanha no Brasil de base comunitária a receber a certificação Cadastro Geral de Classificação (CGC) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) que permite à Assoab conduzir as primeiras experiências para exportação da castanha produzida pelos associados.
*Com informações da assessoria