26/08/2022
O saldo de empresas no Amazonas voltou a sofrer abalo em junho. O Estado totalizou 674 constituições no mês passado e praticamente empatou (+0,44%) com julho (677). O dado, no entanto, foi 9,53% mais tímido do que o de 12 meses atrás (745). A taxa de mortalidade de empresas, por outro lado, voltou a ganhar força, indicando que o mercado segue volátil ao empreendedorismo. Ao menos 354 pessoas jurídicas encerraram atividades, quantidade 2,61% superior à registrada no levantamento anterior (345).
O aumento foi ainda mais substancial, quando comparado ao patamar de julho de 2021 (303) e apontou uma diferença de 16,83%. Em sintonia com um cenário econômico impactado por guerra, pandemia, crise do IPI e incertezas generalizadas em ano eleitoral, o saldo de pessoas jurídicas no Amazonas se manteve negativo no acumulado dos sete meses iniciais deste ano. O Estado somou 4.547 novas empresas, 7,05% a menos do que entre janeiro e julho de 2021 (4.892). A mesma comparação indicou escalada de 26,26% nas baixas, entre os acumulados de 2021 (1.759) e de 2022 (2.221).
Os dados são da Jucea (Junta Comercial do Estado do Amazonas), e foram baseados no relatório do SRM (Sistema Mercantil de Registro) –vinculado ao Ministério da Economia. De acordo com o levantamento mensal, entre as 354 pessoas jurídicas amazonenses que saíram do mercado no mês passado, a maioria (225) estava na categoria de empresário individual, em número pouco superior ao de maio (222).
As sociedades empresariais limitadas (103) vieram na segunda posição, seguidas pelas empresas individuais de responsabilidade limitada (e de natureza empresarial), com 26 registros –contra 95 e 26, respectivamente, no levantamento anterior. A Jucea não informou a segmentação das aberturas por CNAE (Classificação Nacional de Atividades Econômicas) e município. Pelo nono mês seguido, o movimento em torno da formalização de abertura de novos negócios no Amazonas (674) voltou a priorizar as sociedades empresariais limitadas (423), em detrimento da modalidade de empresário individual (248) – que declinou novamente.
Na sequência, vieram uma sociedade anônima fechada, uma empresa individual de responsabilidade limitada e uma cooperativa. Em junho, os respectivos números foram 430, 244, 2, 1 e zero.
Mortalidade nos MEIs
O levantamento da Jucea não inclui os MEIs (microempreendedores individuais) – constituídos de forma virtual, pelo Portal do Empreendedor, do governo federal. Os dados do SRM informam que as aberturas nessa modalidade encolheram 2.04%, entre junho (3.143) e julho (3.079) e de 2022. A comparação com o dado de 12 meses atrás (3.392) apontou redução de 9,23%.
Já as extinções cresceram 11,59% na variação mensal (de 953 para 1.078) e decolaram 51,20% diante de julho de 2021 (526). A análise do acumulado do ano confirma um panorama ainda menos amistoso para os microempreendedores individuais amazonenses, com tendência de maior rotatividade de pessoas jurídicas no mercado local. O número de constituição de novos MEIs no Estado voltou a encolher, embora siga estatisticamente estável, na comparação de 2022 (22.193) com 2021 (22.375).
O oposto se deu na quantidade de encerramentos, que escalou 59,34%, de 3.908 (2021) para 6.227 (2022).
“Hora da morte”
A conselheira do Corecon-AM, consultora empresarial, professora e integrante da seção regional da Abed (Associação Brasileira de Economistas pela Democracia) no Amazonas, Denise Kassama, considera que um dos indicadores mais fortes para a saúde econômica é a taxa de mortalidade de empresas.
“Principalmente no caso dos MEIs, que aponta para o fracasso do empreendedor individual. Evidentemente, há vários fatores que podem explicar isso, como a escolha errada de segmento e a falta de análise antes de constituir o negócio.
Tem muita gente que aproveitou o começo da pandemia para criar uma empresa de prestação de serviços, mas o mercado não ficou igual dois anos depois”, acrescentou. A economista lembra ainda que os números refletem a situação econômica do país, com inflação anual ainda na casa dos dois dígitos – a despeito da sinalização de um segundo mês seguido de deflação –e taxas de juros “pela hora da morte”. “Se a renda dos consumidores está ruim, imagina a das empresas, que têm de arcar com carga tributária, funcionários, custos administrativos.
Quando as empresas fecham, é porque estão empregando menos e gerando menos renda. Com isso, há menos dinheiro girando na economia. O cenário não é nada bom”, lamentou.
“Confiabilidade de mercado”
Em virtude da limitação das divulgações estaduais, por força de legislação eleitoral, a Jucea não se pronunciou sobre os números de julho. Na análise do consultor empresarial e professor universitário, Leonardo Marcelo Braule Pinto, os números da Jucea indica tendência de maior abertura –e sobrevivência –de empresas com dois ou mais sócios, em detrimento dos empresários individuais e MEIs.
“É mais frequente as pessoas virem com um parceiro para abrir um negócio. Acredito que a confiabilidade de mercado é importante. Temos algumas medidas federais em curso, mas os impactos da pandemia e as incertezas decorrentes das eleições fazem as pessoas entrarem rachando tudo. Porque, dividindo, você diminui 50% suas perdas, além de ganhar em 50% as chances de ganhar”, frisou.
O economista considera que o mercado vem se estabilizando, ainda que em viés de baixa, em razão da piora do cenário macroeconômico em geral. Pelo mesmo motivo, o economista salienta que a mesma base de dados. “Esperamos melhoras no médio e longo prazo, mas ainda vemos muitas empresas fechando por conta da crise. Há pouca renda e investimentos e algumas empresas ainda tentam se manter no mercado a galopes financeiros, pulando contas e tentando sobreviver com um lucro marginal muito baixo, o que acaba resultando na quebra”, arrematou.
Fonte: JCAM