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Março morno não impede bom trimestre da indústria

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04/04/2014

A distorção provocada pelo Carnaval em março parece ter interrompido a sequência de resultados positivos da indústria no primeiro bimestre, mas não levou a um aumento do desânimo entre empresas e líderes de associações industriais consultados pelo Valor. A avaliação geral é que, mesmo com um encerramento morno, o início de ano mais forte do que o esperado levou o nível de produção entre janeiro e março a superar o de igual período de 2013.

Setores diretamente beneficiados pela Copa do Mundo são os mais otimistas, mas outros ramos cujo desempenho não está totalmente relacionado ao evento afirmam que a demanda continua firme, pela manutenção do desemprego baixo e da renda em alta.

Para o presidente da Associação Brasileira de Papel Ondulado (ABPO), Sergio Amoroso, março foi um pouco mais fraco do que igual período do ano passado, principalmente por causa da parada no início do mês em função do Carnaval. Assim, a expectativa é que a expedição de papel ondulado, considerado um bom termômetro das encomendas da indústria de bens de consumo, encerre o trimestre com alta de 3%, um pouco menos do que o avanço de 3,6% observado até fevereiro, sempre em relação a igual período do ano passado. Para Amoroso, mesmo com leve retração em março, os números são positivos. "A demanda segue firme e, pelo ritmo de encomendas, a expectativa é que abril sustente o patamar observado no trimestre", afirma.

No setor de bens de consumo, aqueles mais relacionados à Copa do Mundo são de longe os mais otimistas. Lourival Kiçula, presidente da Eletros, que reúne os fabricantes de produtos eletroeletrônicos, afirma que as vendas de televisores para o varejo aumentaram 38% em janeiro e 52% em fevereiro e a perspectiva é que esse ritmo se mantenha até meados de maio. Para Kiçula, março deste ano foi melhor do que igual mês do ano passado também na linha branca, embora os números ainda sejam preliminares.

As indústrias do Polo Industrial de Manaus também não têm resultados fechados para março, mas Wilson Périco, presidente do Centro das Indústrias do Estado do Amazonas (Cieam), avalia que o mês passado foi favorável para os fabricantes instalados na região.

Segundo o presidente do Cieam, a fabricação de TVs continua em "ritmo bastante bom" e está sendo impulsionada pela Copa, pela redução dos preços e maior acesso ao crédito. O Dia das Mães, que é a segunda data comemorativa mais importante do ano para o comércio e antecede em um mês a Copa, deve incentivar ainda mais as vendas de TVs, diz Périco.

Périco ainda observa que outros setores têm ido bem. Os fabricantes de ar condicionado split, em sua avaliação, foram beneficiados pela onda de calor que atingiu o país neste início do ano. Para ele, a alta na produção também é resultado de "medidas acertadas" do governo, que elevou as alíquotas de importação do produto.

No setor de alumínio, a percepção é de que o primeiro trimestre mostrou crescimento "em linha" com o esperado para o ano, diz Luis Carlos Loureiro Filho, coordenador da comissão de economia e estatística da Associação Brasileira do Alumínio (Abal). O ramo que deve apresentar maior crescimento neste ano é o de chapas de alumínio, usadas nas latas de bebida. Este segmento espera encerrar o ano com alta de 9,7%, impulsionado pelo verão mais quente, pela renda ainda em alta e também pela Copa, invertendo uma tendência que geralmente ocorre no meio do ano, de desaceleração das vendas por causa do frio.

Já no segmento de distribuição de aços planos, após um primeiro bimestre com resultados fortes, março foi um mês um pouco pior que o esperado, segundo Carlos Loureiro, presidente do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda). A previsão inicial era de que o mês passado iria registrar queda de 5% nas vendas em relação a fevereiro, em função principalmente do menor número de dias úteis. A entidade ainda não fechou resultados, mas Loureiro avalia que o recuo na comparação mensal pode ter chegado a 10%. "Além dos dias úteis a menos, tivemos um certo arrefecimento do mercado em geral", diz. Para Loureiro, março não vai comprometer o desempenho do primeiro trimestre, que deve registrar crescimento de 10% em relação a igual período de 2013.

Embora a reformulação da Pesquisa Industrial Mensal (PIM) pelo IBGE coloque ainda mais incertezas nas projeções, os primeiros indicativos reforçam a ideia de que o menor número de dias úteis prejudicou o andamento da economia em março, afirma Braulio Borges, economista da LCA Consultores. "Essa questão dos dias úteis vai atrapalhar um pouco o desempenho da economia em março. Historicamente, quando o Carnaval cai no terceiro mês do ano, observamos que os indicadores de atividade são negativos", disse. Para ele, os principais indícios até então de que a economia não sustentou um ritmo muito vigoroso no mês passado são o uso da capacidade instalada da indústria e as vendas de automóveis.

Pesquisa da Associação Brasileira da Indústria de Material de Construção (Abramat) mostra que, após um mês de fevereiro mais positivo, a percepção dos empresários é de que março foi "regular". Walter Cover, presidente da associação, pondera que as vendas por dia útil podem até superar as de igual período de 2013, mas o "efeito-calendário" deve levar o setor a encerrar o mês no zero a zero. Assim, de um crescimento acumulado de 3,5% da produção no primeiro bimestre, o setor deve encerrar o trimestre com alta de 3%.

Cover avalia que o ritmo de vendas no começo do ano decepcionou. "Achávamos que o varejo teria crescimento mais forte e que a infraestrutura já teria andado um pouco", o que não se concretizou. No entanto, Cover aposta em retomada desses dois setores e projeta alta de 4,5% do setor em 2014.

Fonte: Valor Econômico

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