01/08/2013
Para o Conselheiro Executivo do Corecon-AM (Conselho Regional de Economia do Amazonas), o economista Jose Laredo, a repercussão no Polo Industrial de Manaus é negativa porque ainda há na indústria local uma dependência muito grande de insumos importados para as indústrias. Como esses insumos são comprados em dólar, uma variação brusca como a que vem ocorrendo causa um grande impacto no custo desses insumos e, consequentemente, esses aumentos são repassados para o preço final do produto acabado. Um segundo impacto disso é que haverá uma maior pressão sobre a inflação. De acordo com Laredo, uma subida tão impactante no câmbio como a que está acontecendo agora pode causar um aumento de preço em cadeia na economia.
“Por exemplo, se um prestador de serviços tem um equipamento importado, a manutenção deste equipamento passa a ficar mais cara, já que as peças de reposição serão compradas em dólar e, consequentemente, também terão aumento de preço”, explica o conselheiro.
Turismo
O setor do turismo, um dos que está mais intimamente ligado à cotação do dólar, também demonstra preocupação. Segundo o presidente da Associação Brasileira das Agências de Viagem no Amazonas, Paulo Rogério Tadros, muitos turistas brasileiros deixaram de viajar nas férias de julho, esperando por condições mais favoráveis no câmbio internacional.
“Com o dólar alto, muita gente deixa de viajar em julho para viajar em dezembro. As pessoas vão deixando de viajar a espera de um câmbio mais regular. Aqueles que já tinham o bilhete e os que não podem adiar a viagem vão, mas quem puder adiar vai adiar”, afirmou.
Comércio
Já o comércio começa a montar estratégias na tentativa de minimizar os impactos das fortes variações cambiais que vem acontecendo. O presidente da ACA (Associação comercial do Amazonas), Ismael Bicharra Filho, calcula que entre 2009 e 2013, a moeda americana apresentou uma variação que gira em torno de 10% perante o real. Bicharra explica que o fortalecimento do dólar deverá continuar ao longo dos próximos anos. Na opinião dele, esse fato deverá fazer com que o comércio, principalmente o comércio importador da Zona Franca aumente o valor de seus produtos balizando o preço do dólar em torno de R$ 2,20, já que uma volta ao patamar anterior não é vislumbrada.
“O dólar está se fortalecendo. Hoje o Brasil depende muito do mercado exterior. Hoje o Brasil importa muito –não só produtos acabados, mas também peças e componentes. Este é o cenário que a gente vê hoje. Eu acho que essa tendência já está acontecendo. De junho, quando o dólar já estava a R$ 2,15, para cá, os importadores perceberam que não vai mais baixar e que a tendência é ficar estável em torno de R$ 2,20”, declarou o presidente da ACA.
Indústria
A indústria, no entanto, vê possíveis efeitos positivos da alta americana. Para o presidente da Cieam (Centro da Indústria do Estado do Amazonas), Wilson Périco, o dólar alto faz com que o custo em real da atividade produtiva nacional seja menor, se comparado com o similar importado, o que valoriza a produção local. Apesar disso, ele também concorda que poderão haver altas nos preços de alguns produtos finais e não produção de bens, principalmente das mercadorias com componentes importados.
“São duas coisas. As matérias-primas importadas ficam mais caras, mas os produtos produzidos aqui têm um componente em real, o que ajuda na comparação com um similar produzido no Brasil e o importado. Agora, o preço do produto para o consumidor final é uma outra questão. A maioria das empresas importa seus insumos e eles demoram cerca de 60 dias para chegar aqui. Ou seja, a mercadoria que for comprada hoje, por exemplo só chegará aqui no fim de setembro. A indústria vai sentir essa variação do preço em real porque está comprando em dólar. O que pode acontecer é que parte deste custo chega na ponta, no preço final do produto”, explicou.
Mesmo admitindo que é cedo para fazer uma análise mais profunda, Périco acredita que o atual preço do dólar marca um novo patamar na relação com o real.
“Com o dólar no patamar de R$ 2,30, que é o que estamos vivendo atualmente é uma nova realidade e a economia –em termos dos custos que são atrelados ao dólar –terão que se acomodar nessa nova realidade”, finalizou o presidente do Cieam.
Resultados positivos nos EUA devem manter alta
O resultado do PIB americano no segundo trimestre, divulgado nesta quarta-feira (31), e a revisão dos dados econômicos dos EUA desde 1929 mostraram uma economia com crescimento mais forte que o esperado.
O resultado mostrou que a maior economia mundial cresceu 1,7% de abril a junho em relação aos três meses anteriores na taxa anualizada. O resultado foi maior que o esperado por analistas (estimavam algo em torno de 1%), mas é preciso levar em conta que o avanço dos primeiros três meses deste ano foi menor do que apontavam os cálculos anteriores do governo: de 1,8% ficou em 1,1%.
Na opinião de Jose Laredo, os resultados indicam que este novo patamar da relação dólar-real tende a permanecer por muito tempo. Segundo o economista, o crescimento de 1,7% em três meses, aplicado a uma economia que tem US$ 15 trilhões de PIB tornam os Estados Unidos novamente o principal mercado de investimentos internacionais.
“Tão cedo o dólar não volta aos patamares anteriores. Acredito nisso porque a economia americana acaba de divulgar o crescimento do último trimestre de 1,7% do seu PIB, isso significa que todos os investimentos que estão disponíveis no mundo tendem a procurar o mercado americano para as suas aplicações porque é mais seguro. Consequentemente há uma contribuição para a manutenção do dólar neste novo patamar”, acredita Laredo.
Além disso, ele também cita o momento de instabilidade política e financeira enfrentado pelo Brasil como um dos empecilhos na atração de investimentos internacionais, que passam a ir para um local mais seguro, com estabilidade política, financeira e retorno garantido –exatamente o cenário apresentado pelos americanos.
“O americano não tem em seu currículo nenhum passado de mau pagador. O americano não tem instabilidade política como estamos vendo no Brasil com esses protestos espalhados pelo país. O americano não tem um presidente com queda de popularidade de 30 pontos em menos de dois meses. Uma inflação de 6,7% acumulada em 12 meses como a brasileira, contra uma de quase 2% como a americana desvaloriza o dinheiro.”
Fonte: JCAM