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Manaus 351 anos, entre o passado e o futuro

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26/10/2020

Fonte: EM TEMPO

ELANNY VLAXIO

“Toda em luz, como um sol surge e brilha, a cidade dos nobres Barés”, engrandecendo a cultura indígena da cidade, esse é um dos trechos do hino de Manaus, que neste dia 24, comemora 351 anos de história e tradição. Nascida de um forte de barro e pedra acima do encontro do rio Negro com o Solimões, a capital amazonense celebra mais um ano de uma trajetória que vale a pena conhecer. Com a ajuda de historiadores, moradores e especialistas de diversas áreas, o EM TEMPO faz um passeio pela história da cidade dos nobres Barés e aponta os desafios do futuro da capital amazonense.

Imagine a diversidade às beiras de rios, dentro de uma das maiores florestas, esta cidade é Manaus, capital do estado do Amazonas. A história da cidade inicia há muito tempo, em torno da Fortaleza de São José da Barra, onde os portugueses utilizavam para proteger o Norte do Brasil das invasões espanholas. No local, entre as várias tribos de indígenas, estavam os barés, bainbas e os “manaós”, que significa “Mãe de Deus” dando origem ao nome Manaus.

Em 1832, surgiu a pequena povoação com o nome de Vila de Manaus, o local foi crescendo e, em 1848, no dia 24 de outubro, a vila se tornou cidade. Pertinho de Manaus fica o encontro das águas, conhecido popularmente pelas cores que se entrelaçam, com as cores de águas verdes do rio Amazonas e as águas escuras do Rio Negro, formando uma bela paisagem.

No final do século 19, veio então a época da borracha. Foram feitos látex que eram retirados da seringueira. No tempo, a borracha possuía um grande valor, navios do mundo inteiro visitavam a cidade para comprá-la. No tempo, a cidade dos barés ficou rica, construíram o Teatro do Amazonas, onde artistas da Europa vinham para a cidade se apresentar.

Manaus cresceu, mudou e renovou. Com os mesmos convites para as águas dos rios, as plantas e ervas do Mercado Adolpho Lisboa, os barcos navegam pelos municípios, e a diversidade da cultura dos manauaras durante 351 anos.

Para a historiadora Mary Soares Affonso Oliveira, a importância de buscar entender a história é relevante para o pensamento crítico, além de ser o caminho para a mudança e valorização da cidade.

“É importante conhecer a história da cidade, porque ela tem como base o presente e o nosso presente não existe sem o passado. O povo, os costumes, mudança da cidade, conhecer para poder amar Manaus. Temos muitas peculiaridades, econômicas, sociais e se relacionam entre si para criar o presente que temos hoje. Essa é a importância de conhecer a história de Manaus, para valorizar, entender e para se sentir amazônida”, explica.

Manaus de antigamente

Durante todos esses anos, a cidade tornou- se uma metrópole. Ao longo do tempo, muito de seu patrimônio arquitetônico se perdeu ou foi renovado. Na tentativa de resgate de uma Manaus antiga, e uma comparação com tempos modernos, a pedagoga e professora Gisella Vieira Braga, desde setembro de 2012, por meio de vídeos e imagens, conta a história da cidade na página 'Manaus de Antigamente'.

“Em setembro de 2012 a página foi criada. Eu já tinha realizado um trabalho semelhante com crianças na sala de aula, de resgate de fotos antigas. A gente falava sobre cultura, localização e outros aspectos da cidade. A princípio queria atender mais jovens, crianças, mas percebi que estava atingindo pesquisadores, estudantes, público fora do Brasil”, comentou Gisella.

Para a pedagoga a história da cidade deve ser mais explorada pelo público manauara, não apenas aspectos culturais e preservação de monumentos históricos e a sua valorização.

“Minha visão sobre a história de Manaus é que ela é rica. O Amazonas era muito visado por vários exploradores e por várias vezes ocorreram mudanças políticas, revoluções em aspectos do Brasil, mas o Amazonas fica intocável pela exploração dos portugueses, existe um valor muito grande da história pelo público em geral, na TV, nas escolas, nos jornais”, relata.

De geração em geração

Assim como muitos manauaras, Rosita Ribeiro Santana, de 71 anos, carrega lembranças de sua juventude, o primeiro amor, o encontro com as amigas, hoje, conta sobre as memórias do tempo que morava no centro da cidade.

“Entre 1967 e 1971, eu morava ali no Centro era a rua Major Gabriel, próximo ao igarapé da cidade. Gostava bastante daquele local, foi onde arranjei meu primeiro namorado e o meu primeiro trabalho. Era nova ainda, saia para me divertir com minhas amigas, uma das coisas que faziam sucesso na época era ir ao cinema, mas além disso, gostava de sair para ver as coisas e conhecer, saber o que era. Das minhas amigas fui a primeira a ter um namorado, ele morava e trabalhava próximo de mim. A gente acabou gostando um do outro, não demorou tanto e logo nos casamos, passamos dez anos juntos e tivemos três filhos”, conta Rosita.

Kátia Cavalcante que mora há dezesseis anos entre os bairros Praça 14 e o Centro, conta que durante esse tempo a cidade passou por diversas mudanças e cresceu bastante.

“Quando vim para cá, depois de alguns anos, entre 2004 e 2005, era mais calmo o movimento. Manaus é um misto de instituições de governo e grande comércios. Ao longo desse tempo, Manaus sofreu mudanças devido a chegada de grandes espaços tentando se localizar no Centro, como foi o caso de uma igreja evangélica. A movimentação da igreja alterou a ambientação no local nos finais de semana”, lembra.

Para ela, ser manauara vai além de carregar o nome da cidade, mas também resgatar a cultura e a valorização do local, entendendo que antes dos prédios existem as belezas naturais e sua história.

“Ser manauara para mim é ser da terra, ter nascido na Maternidade Balbina Mestrinho, é ser da gema. É exatamente o verde, a água e os sabores temos que temos na nossa terra. Quando falo que sou da gema, é porque estou no centro, sou da gema da floresta, da cidade de Manaus, de gostos de sabores e o cheiro do rio. Eu curto os prédios, mas também gosto das belezas singelas da minha cidade”, disse Kátia.

Manaus: passado e presente

Em seu livro 'Manaus: passado e presente' (2009), Durango Duarte reúne ricas informações históricas sobre a capital amazonense, com uma linguagem simples e elegante. O autor demonstra um carinho pela cidade que prende a atenção do leitor do primeiro capítulo ao último. Não deixando de ser uma obra de consulta para quem deseja conhecer a política e administração da cidade anos atrás. Entre fotografias e relatos de uma Manaus moderna, urbanizada, com patrimônios constatando as raízes culturais do local.

De vila, ao futuro

Após o ciclo da borracha, quando o interesse foi diminuindo, veio a Zona Franca de Manaus (ZFM). Instituída entre os anos 1950 e 1960 durante o governo Juscelino Kubistchek, a cidade deu início ao comércio de importados e em seguida ao Polo Industrial, onde são encontradas centenas de fábricas, resultando em um desenvolvimento econômico e social à região Norte.

Em 1892, Eduardo Ribeiro assumiu o governo do Estado e iniciou a transformação da cidade para a metrópole. Durante a administração de Ribeiro, foram construídos prédios que se tornaram cartões postais da cidade, como o Teatro Amazonas, o Reservatório do Mocó e o Palácio da Justiça. Também seriam edificados, o Palácio Rio Negro, o

Segundo dados de 2019 do Departamento de Estatística, Análise, Geoprocessamento e Inovação da Sedecti, foram registrados 56 bairros que existiam em 2000 e cresceram para o número de 63 bairros, distribuídos por seis zonas.

"Manaus precisa de planejamento"

Para o arquiteto e urbanista, Pedro Paulo Cordeiro, também coordenador da Câmara de Planejamento Urbano (Codese Manaus), o desenvolvimento da cidade colaborou com a economia, porém, com o passar dos anos Manaus mostrou a necessidade de um planejamento.

“A visão que tenho dos tempos passados com o de atualmente é que são momentos distintos, com dois grandes ciclos que tivemos, o primeiro o da borracha e o segundo a Zona Franca de Manaus, são épocas de grande desenvolvimento para a cidade, ambos têm acertos e erros. O efeito positivo foi que Manaus se tornou uma cidade planejada, foi umas das primeiras cidades a ter energia, inclusive. Da mesma forma que nos impulsionou economicamente, não observavam a questão do planejamento urbano, a cidade começou a ter ocupações planejadas e não planejadas devido ao número de habitantes”, comentou.

O coordenador acredita que a cidade deve investir mais recursos em não apenas na arquitetura da cidade como também avaliar as problemáticas no momento presente.

“A Manaus ideal é aquela boa para todos, sem exceção. É uma cidade muito desenvolvida, mas ao mesmo tempo que temos o desenvolvimento econômico temos um abismo em relação a desigualdade social, com diversas problemáticas, quando se olha os índices econômicos estamos bem, mas sobre qualidade de vida estamos nas últimas colocações, referente a arborização, saneamento, espaços públicos. A Manaus que imagino é uma cidade equilibrada, de usos mistos, que as pessoas possam comprar, morar e ter qualidade de vida no local ”, explica o arquiteto.

Com 351 anos, na opinião do arquiteto e urbanista Luiz André Martins, a infraestrutura do local ainda necessita de uma melhoria em diversas áreas.

“Sofremos influências de grandes centros urbanos e da necessidade de adequação principalmente dos modelos de transporte coletivos. Futuramente as obras de infraestrutura devem ser necessidades imediatas como: saneamento básico, coleta de lixo, incluindo a seletiva. A cidade seria melhor se fosse mais arborizada, saneada, com soluções de transporte público moderno”, comenta.

Tininha Leite, arquiteta e urbanista, acredita que as obras da cidade devem ser preservadas, apesar de renovações ocorridas ao longo do tempo. Para ela, apesar das dificuldades no cotidiano de Manaus, devem ser criados projetos que visem não apenas no crescimento da população, como também o respeito e valorização dos locais.

“Arquitetura dos tempos passados guardam histórias, preservam a cultura. Não que a de hoje não preserve algo, mas é tudo muito reciclável, a troca de estética devido a influência momentânea, ou seja, o que está em tendência. E assim vamos ficando cada vez mais sem registros. A gente sempre tenta ser positivo esperando o melhor. Mas no cotidiano podemos ver o quanto é difícil esperar por essas melhoras. É preciso trabalhar nos projetos urbanísticos e espaços públicos projetados, malhas viárias funcionais, saneamento básico, segurança, integração da sustentabilidade e respeito a história e seus patrimônios arquitetônicos e a conscientização da população”, relata a profissional.

Comemoração em obras

De acordo com a assessoria da Prefeitura de Manaus, desde o início do mês de outubro, o prefeito Arthur Virgílio Neto vem entregando obras nas áreas esportiva e de lazer, como quadras e campos, além de Centros Integrados Municipais de Ensino (Cimes), parques da Juventude e obras macro como a revitalização do hotel Cassina, que passará a se chamar “Casarão da Inovação Cassina”, após escolha de votação popular.

As inaugurações seguirão após o aniversário de 351 anos da cidade, com previsão de entrega, até o fim do ano, da revitalização do prédio da antiga Câmara Municipal, que vai abrigar o Centro de Arqueologia de Manaus, das construções do complexo viário Professora Isabel Victoria, no Manoa, estações de transferência Santos Dumont, Arena e Parque das Nações, novo Terminal 6, no bairro Lago Azul, a reconstrução do Terminal 1, e demais obras executadas pelo município que estão em andamento.

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