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Mais de 65 milhões de negativados

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08/04/2022

A inadimplência do consumidor voltou a subir em todo o país e já retornou ao patamar registrado na primeira onda da pandemia. O Mapa da Inadimplência e Renegociação de Dívidas no Brasil, elaborado mensalmente pela Serasa, mostra que a quantidade de brasileiros negativados chegou a 65,17 milhões, em fevereiro. A empresa verificadora de crédito informa que este foi o maior número para o mês, nos últimos três anos, e que o dado só ficou abaixo dos registros de abril (65,90 milhões) e maio (65,23 milhões) de 2020, em meio às políticas de isolamento social.

Dados fornecidos pela assessoria de imprensa da Serasa à reportagem do Jornal do Commercio confirmam, por outro lado, que o Amazonas ainda é a unidade federativa com a maior proporção de habitantes em idade economicamente ativa nessa condição. São 52,2%, contra uma média nacional de 40,45%. A quantidade de devedores no segundo mês deste ano (1.496.592) também foi a maior desde abril de 2020 (1.505.914). Aumentou 0,13% ante janeiro de 2022 (1.494.584) e avançou 1,88% na comparação com fevereiro de 2021 (1.468.918) -período ainda marcado pelos impactos econômicos da segunda onda da pandemia no Estado.

A soma de todas as dívidas cresceu 0,56% em relação a janeiro, encostando nos R$ 5,32 bilhões. O valor aumentou 3,91% em relação a fevereiro do ano passado (R$ 5,12 bilhões) e foi o mais alto registrado na série histórica dos últimos três anos. O valor médio do montante de dívidas de cada consumidor amazonense inadimplente (R$ 3.552,80) também aumentou em ambas as comparações. Foi o mais elevado desde novembro, mas ficou bem abaixo da média brasileira (R$ 4.042,08). O Estado contabilizou um total de dívidas, com valor médio de R$ 957.

Com relação aos segmentos, o estudo apontou um diferencial do Estado. Enquanto as finanças dos brasileiros continuam mais comprometidas com bancos e cartões, a dos amazonenses é puxada pelos débitos de utilities (contas básicas, como água, gás e energia), que representam 27,61% do total, embora tenham reduzido o passo em relação a 12 meses atrás (30,84%). Em sintonia com a escalada dos juros nos crediários, já são seguidas de perto pelas contas do varejo (25,88%), que seguiram a trajetória inversa em relação a fevereiro de 2021 (23,63%). Na sequência, estão as contas atrasadas no setor bancário (20,89%) e com empresas de telecomunicação (7,54%).

O Amazonas também se desloca na média nacional em relação ao perfil do consumidor inadimplente. Mulheres (51,2%) são a maioria, em detrimento dos homens (48,8%). Em contraste, a Serasa aponta que, em todo o país, os consumidores do gênero masculino (50,2%) devem mais do que os do sexo feminino (49,8%). No Estado, a faixa etária predominante é a que vai dos 41 a 60 anos (35,7%), seguida de muito perto pelos que têm entre 26 e 40 anos (35,2%), em posições invertidas quando se compara à média brasileira. Consumidores acima dos 60 anos (15,7%) e com até 25 anos (13,4%) ocupam as posições seguintes.

Impacto dos juros

Embora tenha estranhado alguns números do levantamento da Serasa Experian, levando em conta a metodologia diferenciada da Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor) da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), o presidente em exercício da Fecomércio-AM (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Amazonas), Aderson Frota, concorda que o percentual de consumidores com nome sujo na praça vem aumentando no Estado e em todo o país. "Essa inadimplência decorre de fatores externos, como o aumento da cotação internacional do petróleo em commodities, que encareceu energia, combustíveis, operações portuárias e fretes, e isso fez subir todo o custo de vida. A guerra na Ucrânia ainda impactou em outras commodities e mexeu no setor agropecuário, gerando mais aumentos de preços. O governo se preocupou em controlar essa inflação galopante com aumentos de juros, que infelizmente acabam agravando o problema das dívidas", lamentou.

“Compras descontroladas”


O presidente da CDL-Manaus (Câmara dos Dirigentes Lojistas de Manaus), Ralph Assayag, assinalou à reportagem do Jornal do Commercio que não poderia falar dos dados da Serasa Experian, dada a parceria da entidade com o SPC (Serviço de Proteção ao Crédito) Brasil. O dirigente destacou que a base de dados deste é maior e observou que pode haver distinções entre um e outro, "com mais gente entrando do que saindo" da lista de negativados. Mas, não deixou de concordar que o Amazonas apresenta um perfil diferenciado entre os consumidores com contas atrasadas.

"Nossa taxa de inadimplência está em 3,2%, neste mês, o que indica um sinal de verde para amarelo. O ideal seria que 2,5%, mas muita gente compra sem controle, como os jovens que começam a parcelar compras, assim que conseguem o primeiro emprego. E há os aposentados que servem de arrimo de família. O que precisamos é de mais oferta de postos de trabalho, para que todos possam contribuir no pagamento das contas", recomendou.

Assayag observa que o cadastro positivo vem produzindo bons resultados na triagem para oferta de crédito e concorda que os serviços públicos têm papel fundamental nas dívidas das famílias amazonenses. "O telefone dá para deixar de usar, mas ninguém pode ficar sem luz e água. E tivemos um aumento sem noção no custo da energia. E a renda média aqui é bem mais baixa do que a do Sul e Sudeste. Tanto que 50% das dívidas por aqui não passam de R$ 1.000, enquanto por lá a média fica em R$ 2.000", comparou.

Transferência de renda

A conselheira do Corecon-AM (Conselho Regional de Economia do Estado do Amazonas), ex-vice-presidente da entidade, e professora universitária, Michele Lins Aracaty e Silva, também avalia que o diferencial pode estar ligado ao fato de o valor dos salários na região Norte ficar muito abaixo da média nacional. "Temos uma qualificação muito baixa do capital humano, que reflete na renda familiar. Uma quantidade elevada de famílias depende quase que 100% de políticas de transferência de renda, como o Auxílio Brasil. E o endividamento dos funcionários públicos é influenciado pela falta do planejamento financeiro e pela oferta de crédito consignado", listou

Indagada sobre perspectivas, a economista aponta que o cenário de curto prazo, marcado por uma conjuntura econômica desfavorável, e agravada pelos impactos econômicos do desarranjo nas cadeias globais de produção, e pelo conflito na Europa, não dá muita margem para otimismo. "Infelizmente, não vejo uma situação muito favorável, pois temos de olhar para a taxa de desocupação. O índice de desemprego está muito elevado, e é acompanhado por uma renda mensal baixa e insuficiente para atender ao custo de vida, que se eleva com a inflação", arrematou.

A inadimplência do consumidor já retornou ao patamar registrado na primeira onda da pandemia

Fonte: Jornal do Commercio

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