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Logística: solução ou desculpa?

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30/04/2019

Augusto Barreto Rocha

Manaus não é longe. Está onde sempre esteve e a dificuldade de acesso para cá vem sendo rompida desde sempre, com um custo expressivo, não pela distância, mas pela severa falta de infraestrutura. Quando existia a borracha em abundância, um porto flutuante foi construído com o propósito de escoar aquele importante produto. Depois, em 1976 um aeroporto de maior porte foi construído, para estímulo ao turismo, que também ajudou na ampliação do polo industrial. Naquele momento o Amazonas virou um local muito atrativo, pela beleza da floresta e pela abundância de produtos importados. Neste mesmo momento tínhamos a BR-319.

Com o declínio do comércio da ZFM, com suas pilhas de videocassete minguando, e do turismo – atraído para lugares mais estruturados, foi aberta uma rodovia para o Norte – a BR-174, com um esforço expressivo do Amazonas para esta realização. Nesta época. a BR-319, que tinha funcionado, já deixara de ser trafegável. Mergulhamos em uma falta de capacidade de articulação política para a sua manutenção.

A produção da indústria sempre foi escoada, com boa ou com má infraestrutura, pois quem se instala em Manaus não será surpreendido pela falta de mínimas condições de infraestrutura. O problema verdadeiro é o alto custo de transporte de insumos e dos produtos acabados. Esta barreira tem sido compensada por diferenciais fiscais. Entretanto, este não é o único impeditivo para uma empresa se instalar em Manaus.

A instabilidade jurídica talvez seja a maior incerteza para colocar os pés na ZFM com o propósito de produzir. Esta é a maior barreira. Entretanto, os altos custos de transportes deixam como resultado a possibilidade de sua realização para companhias e negócios de maior porte. Fica uma possibilidade inacessível para empresas de pequeno porte.

Neste contexto, soa como muito positivo a possibilidade de recuperação da BR-319. Caso se confirme, este esforço certamente levará os preços da cabotagem e do transporte rodofluvial para um patamar mais baixo, forçados pela competição. Enquanto isso não acontecer, será muito difícil ter alguma produção local expressiva, com capacidade de escoamento para o restante do Brasil ou até mesmo para o Sul do Amazonas. Há muitas oportunidades para serem exploradas, mas a falta de transporte leva a uma falta de negócios.

Infraestrutura de transporte é anterior a atividade econômica. Nunca posterior. Por isso, não podemos achar estranho não haver desenvolvimento no interior do Amazonas. Enquanto não houver transporte fácil, com estradas, portos, rotas regulares, não haverá desenvolvimento. Não se leva desenvolvimento para o interior, mas é possível levar infraestrutura e, com outras medidas jurídicas, poderemos ter uma mudança na realidade do interior do Amazonas. Por ora, a logística vira uma boa desculpa para a falta de ação.

*Augusto Barreto Rocha é doutor em Engenharia de Transportes (COPPE/UFRJ), professor da UFAM (Universidade Federal do Amazonas), diretor adjunto da FIEAM, Coordenador da Comissão de Logística do CIEAM.

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