10/01/2023
Por Marco Dassori
Entidades classistas e órgãos públicos de Norte a Sul do país se manifestaram publicamente nesta segunda (9), em notas de repúdio, contra os atos de violência e depredação de patrimônio público, perpetrados em Brasília, no dia anterior. Siglas como CNC, CNDL, CNI e CBIC, entre outras, saíram à frente para defender o Estado democrático de direito e pedir a imediata investigação e apuração de responsabilidades em torno da invasão e ataques aos palácios que sediam os três Poderes da República, neste domingo (8). O Amazonas não ficou de fora, com destaque para as notas veiculadas pelo Cieam e Suframa.
Lideranças empresariais ouvidas pela reportagem do Jornal do Commercio referendaram a reprovação e o pleito das entidades nacionais, mas se dividiram quanto aos possíveis desdobramentos do ‘day after’ do quebra-quebra no Distrito Federal para a economia. A Polícia Rodoviária Federal informou, nesta segunda (9), que desfez 1.416 manifestações que buscavam bloquear rodovias federais. Levantamento da Federação Única dos Petroleiros, realizado em nove refinarias, indicou que quatro delas foram foco de protestos e possíveis atos violentos, entre a noite de domingo (8) e a madrugada de segunda (9) – inclusive em Manaus.
A CNDL salientou que as cenas de desordem e depredação causaram “profunda perplexidade institucional” e reiterou a “importância da estabilidade democrática do país” e o “respeito à Constituição”. A CNI pediu a punição dos “responsáveis pelos atos terroristas” “na forma da lei de maneira exemplar” e frisou que “tais atos violentos são manifestações antidemocráticas e ilegítimas que atacam os três poderes de maneira vil”. A CBIC disse que “manifestações pacíficas não podem ser confundidas com atos ilegítimos de vândalos que não desejam paz e harmonia”. A CNC frisou que “confia na apuração e punição dos responsáveis pelos crimes praticados contra a decisão manifesta nas urnas pela sociedade brasileira”.
Em nota, o Cieam, condenou “a violenta afronta da ordem institucional e a tentativa de destruição de instalações públicas, onde atuam os três poderes da República”. A entidade manifestou sua expectativa de que “a ordem constitucional seja retomada imediatamente e os responsáveis tenham seus crimes apurados e sejam punidos na forma da lei” e acrescentou que se faz necessário que os assuntos de Estado e os desafios econômicos nacionais, “sejam enfrentados pelo governo federal eleito”. A Suframa também repudiou os “ataques antidemocráticos” e frisou que “os ataques aos símbolos da República e às instituições não podem ficar impunes”.
“Vandalismo puro”
O presidente em exercício da Fecomércio-AM, Aderson Frota, enfatizou que discordar é um direito de qualquer cidadão, desde que não haja exacerbações. “O que houve foi vandalismo puro. Se a intenção era gerar algum protesto, esse se perdeu em uma atitude burra, que extrapolou as raias do bom senso. Lembro que o MST também já fez o mesmo. Houve excesso de atitudes grosseiras, que acabam fazendo o país parar mais uma vez”, desabafou.
O presidente da FCDL-AM, Ezra Azury, enfatizou que a entidade é contra atos violentos e que os acontecimentos de Brasília geraram um jogo de perde-perde, uma vez que toda a população brasileira sairá perdendo, assim como os demais atos anunciados e, ao menos por ora, abortados. “Fechamento de rodovias é muito negativo, por seus efeitos na liberdade de ir e vir e no transporte de cargas. Isso gera uma cadeia que pode desandar em desabastecimento. E todo movimento que gera insegurança induz queda de intenção de consumo. Esperamos que as coisas voltem ao normal e que todos possam voltar a conviver harmoniosamente com os poderes”, comentou.
O presidente da CDL-Manaus, Ralph Assayag, também reprovou os atos de Brasília, mas minimizou possíveis efeitos de longo prazo. “Não pode ficar desse jeito. Ainda mais sendo atos de vândalos, e somos contra qualquer depredação. Mas, acredito que não teremos efeitos nas vendas ou nos investimentos. Tudo deve se resolver em um ou dois dias, para entrarmos novamente na normalidade. Não acho que isso surtirá em alguma reação contra a economia”, amenizou.
O presidente da assembleia geral da ACA, Ataliba David Antonio Filho, reforçou que atos que venham a causar danos ao patrimônio público devem ser repudiados, já que há outras formas de reivindicar ou protestar. Ele avalia que atos “irresponsáveis” e de “puro extremismo inconsequente”, dificultam ações que pudessem atenuar o atual cenário político do país. “Esse ambiente de instabilidade extrema realmente vem a atingir diretamente a economia uma vez que as paralisações de rodovias impedindo o fluxo de abastecimento, bloqueio as refinarias impedindo abastecimento atingem mortalmente a economia”, lamentou.
Cautela e tempo
O presidente da Aficam, Roberto Moreno, reforçou à reportagem do Jornal do Commercio que qualquer ação de vandalismo, “de quem quer que seja, em qualquer momento ou lugar”, tem de ser devidamente apurada e os responsáveis devem responder por seus atos. “Independentemente do momento, há de se ter cautela e estar um passo à frente, se programando para que qualquer anormalidade tenha seus impactos diminuídos, com o máximo de planejamento. A economia do país é forte e precisamos acreditar e torcer para que não seja prejudicada em momento algum”, frisou.
Já o presidente do Sinduscon-AM, Frank Souza, concorda que a liberdade de expressão e ação devem se dar em “padrões de normalidade” e não encontrar amparo em atitudes violentas. Ele reforça que muitas entidades ligadas ao setor e a sua cadeia produtiva também saíram em campo para repudiar o quebra-quebra de Brasília. E disse que considera que o clima negativo que se seguiu aos atos, assim como à reação governamental a eles, produz efeitos negativos para a economia, ao menos na medida empresarial do custo de oportunidade dos investimentos.
“Tempo é dinheiro. O tempo de trabalho dos Ministérios e demais órgãos públicos fica prejudicado, porque o ambiente fica nervoso e sem condições de prosseguir no momento. Essa projeção é difícil de mensurar, pois atrapalha o andamento das coisas e desgasta as relações. É preciso aguardar a apuração dos fatos, mas acho que você não vai achar nenhuma instituição ligada a isso. O grande risco desses movimentos é se houvesse contaminação dos setores produtivos e de transportes. Temos de ter um país preparado para evoluir e trabalhar dentro de uma relação de respeito às instituições”, concluiu.
Fonte: JCAM