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​Largando a mania de ser Colônia

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15/06/2020

Augusto César Barreto Rocha (*)

Colônia é uma cidade na Alemanha, também conhecida em inglês como Cologne ou em alemão como Köln. Renomada pela Água de Colônia, essência originalmente concebida em 1709 e comercializada por uma empresa usando o nome da cidade desde 1799. Contemporaneamente também é polo de atração de executivos do mundo, por conta de inúmeras feiras de tecnologia e de produtos que abriga. Por aqui, o termo ganha outros contornos e nos lembra de Portugal e a sua influência na construção do que chamamos de Brasil.

Nesta nossa relação histórica com Portugal, Inglaterra, Holanda, França e outros países, onde existiu por um tempo o compromisso formal ou informal de enviar nossas especiarias, madeira ou café para o exterior, fomos nos habituando a esta necessidade de ter um líder estrangeiro ou alguém para nos dizer o que e como fazer. Pouco a pouco este hábito foi colocado como algo natural: ter que responder a alguém de fora ou que o melhor é o que vem de fora.

Chega de tapar o Sol com o paneiro

Assim, adotar o cinema estrangeiro, a marca de roupa estrangeira, o automóvel estrangeiro, foi criando um status de superioridade, como se só o que viesse de fora seria o melhor. Esta cultura tomou força maior depois da triste experiência da reserva de mercado para bens de informática, até 1992. Na gestão de país, de sistemas tecnológicos, de empreendedorismo ou das relações nacionais e internas na Amazônia surgem outros aspectos tão ou mais danosos que aqueles originais.

Vez por outra temos que enfrentar interesses de brasileiros que querem entregar a Amazônia para domínio estrangeiro. Que surpreendente é para mim toda vez que vejo isso: mantemos o hábito de ser colônia. Dizer que precisamos abrir a Amazônia para exploração estrangeira é primeiro tapar o Sol com a peneira ou com o paneiro, como se a exploração estrangeira não estivesse aqui desde Francisco de Orellana. O que nos falta de fato é assumir a missão e a oportunidade de termos o Brasil usando os recursos do Brasil para seu benefício.

Inimigos internos

Será que não temos a capacidade de gestão sem dependência da liderança estrangeira? Este Complexo de Vira-Lata, constatado por Nelson Rodrigues, vai muito além da sua concepção. Parece que nasce de um credo impregnado de diferentes formas e que vem sendo reforçado ao longo das últimas décadas, como se o Brasil tivesse que depender dos EUA, da China, de Israel ou de Cuba para se tornar desenvolvido. Não importa o sabor ideológico – o problema é o mesmo.

Quando temos um pequeno terreno e temos o interesse de construir uma casa ou fincar raízes não poderemos esperar por ajuda de um terceiro. Precisamos encontrar um caminho para fazer um esforço e realizar o que queremos para nosso futuro, com nossas bússolas e não com os desejos dos vizinhos. Vale para o morador de bairro e vale para o gestor público. Chega de subserviência.

Vamos usar nossas bússolas

Mais do que usar rotas de outros países para o desenvolvimento, precisaremos desenhar nossos próprios mapas com as nossas bússolas morais, com as nossas necessidades e com o sentido de construir uma Amazônia desenvolvida. Precisaremos construir a riqueza valorizando nossos méritos, ao invés de ficar apontando seguidamente para nossos pontos fracos.

Chega de encontrar fraquezas. Ao invés de criar uma Lei FIFA para estrangeiros, poderíamos juntar nossas fortalezas e construir uma Amazônia próspera, para nosso proveito, pelo nosso interesse, pela nossa necessidade e, certamente, pelo bem da humanidade e do planeta. Leis para apoiar a liderança de brasileiros, com espaço para estrangeiros e sem xenofobia, neste enorme e desafiante esforço, ao invés de leis para espoliar e atrapalhar. Não será rápido, como não foi rápido para uma água de colônia, mas precisamos começar a trilhar este caminho, sem desistir dele. Uma alternativa para inspirar pode ser o modelo adotado pela China, por meio das Zonas Econômicas Especiais – dentro do Amazonas, para apenas cinco classes de produtos em cinco regiões. Voltarei ao tema no próximo texto.

(*) Professor da UFAM.

Publicado em 15/06/20 - https://amazonasatual.com.br/largando-a-mania-de-s...


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