09/02/2021

Paulo Takeuchi

Diretor executivo da Abraciclo

ptakeuchi@ abraciclo.com.br

O setor de Duas Rodas projeta crescimento de 10,2% na produção de motocicletas e de 12,8% para bicicletas para este ano em relação a 2020. Apesar de a referência do comparativo ser de um ano bastante prejudicado pela perda de produção, em função da pandemia do coronavírus, não significa que os números não sejam desafiadores. Convivemos com muitas incertezas, sejam no plano econômico ou na área da saúde. Ainda não temos vacinas suficientes para atender toda a população a curto prazo e também observamos variantes do vírus que tornam cada vez mais complexos o seu tratamento.

Os desafios para superar a produção de mais de um milhão de motocicletas estão também nos cuidados adicionais que as empresas realizam para garantir a segurança de seus colaborares e a inflação sem limites de insumos, matérias-primas e fretes, que estão elevando o custo de produção a patamares alarmantes. Além disso, enfrentamos escassez de alguns componentes no mercado global. Acredito que a área industrial atravessa um dos piores momentos de sua existência e sem perspectivas de uma melhora de produtividade a curto prazo.

A desindustrialização poderá ocorrer a uma velocidade ainda maior. Fatos reais comprovam isso, como a saída da Sony e Ford, e o fechamento de várias indústrias, como a fábrica de automóveis da Mercedes-Benz. Esses exemplos mostram as dificuldades de se operar no País, devido, principalmente à insegurança jurídica e à falta de previsibilidade, que impedem investimentos necessários a continuidade das operações aqui no Brasil.

Afinal, não é fácil explicar para os responsáveis das matrizes das multinacionais que operam aqui o que acontece com a situação política e econômica no País. Como explicar, por exemplo, que o asfaltamento da rodovia BR-319, que deveria estar concluída há mais de 30 anos até agora não foi finalizada? Ninguém consegue entender os reais motivos. Fala-se da questão de licença ambiental, mas a rodovia já existe e as áreas que precisavam ser desmatadas já foram. Precisa demarcar terras, haverá invasões, especulação imobiliária, enfim, serão estes os motivos para não asfaltar? Outras justificativas contra o asfaltamento que poderíamos considerar, seria o lobby das empresas de transporte fluvial ou das empresas instaladas fora da ZFM (Zona Franca de Manaus), ou ainda, o movimento para a preservação dos recursos naturais existentes e até mesmo as alegações de que se Manaus tivesse acesso terrestre, os moradores da capital correriam mais riscos. Existem várias justificativas para a obra não avançar, mas nenhuma delas é capaz de explicar de modo racional e lógico. Nem mesmo a questão de verbas, pois os recursos já poderiam ter se formado ao longo de todos estes anos.

Os desafios para as indústrias instaladas no PIM (Polo Industrial de Manaus) são ainda maiores pela falta de estrutura e complexidade legal, deixando as empresas sem competitividade. Temos tecnologia e eficiência iguais aos padrões internacionais dentro de casa, mas perdemos quando enfrentamos a logística, a carga tributária, as burocracias e as legislações de cada Estado. Se continuarmos nesta situação, mais indústrias deverão deixar o País, aumentando o nível de desemprego. Devemos lembrar que a geração de muitos empregos na área de serviços e comércio é resultado da comercialização dos produtos fabricados na indústria. A cadeia produtiva engloba desde fabricantes de componentes, prestadores de serviços, rede de distribuição e comercialização, viagens, alimentação e hospedagem de inúmeras pessoas envolvidas neste processo.

Por isso, peço para que as autoridades melhorem a estrutura na região, não somente por questões econômicas, mas também por questões humanitárias.