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JCAM - Pioneiros e empreendedores do Amazonas

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27/06/2013

Segue à disposição do público, no Centro Cultural Palácio da Justiça, na Avenida Eduardo Ribeiro, frontal ao Teatro Amazonas, a exposição dos Pioneiros e Empreendedores Brasileiros no Amazonas, sob a batuta da Universidade de São Paulo, na pessoa do professor Jacques Marcovitch. A instituição que promove a iniciativa já há alguns anos, com o projeto Pioneiros do Brasil, publicou 18 volumes sendo um deles inteiramente dedicado a Samuel Benchimol. O objetivo é recuperar a memória do pioneirismo no país e, agora, no Amazonas, refletir sobre a importância do empreendedorismo como fator de desenvolvimento e cidadania, permitindo que as novas gerações entendam o momento presente, na perspectiva histórica, e trace os próprios caminhos de realização profissional e social. Já destacamos aqui a figura do professor e empresário Samuel Benchimol e hoje vamos prestar homenagem a um pioneiro singular, muito querido desta entidade e um de seus fundadores.
A fibra de Mário Guerreiro – Nascido em 1920, no Brasil que ainda não tinha um século de Independência, o empreendedor Mário Expedito Neves Guerreiro é um pioneiro da industrialização das fibras na Amazônia, juta e malva, um dos itens que ajudou a gerenciar a economia adversa da estagnação provocada pelo Ciclo da Borracha. Em 2012, aos 92 anos, movido quem sabe por uma saudade - de um tempo de obstinação e conquistas - deu uma cutucada no futuro de múltiplas possibilidades e acabou provocando uma reflexão oportuna com a retomada da produção de juta e malva no estado do Amazonas. Com festas e reflexões, foi inaugurada a Brasjuta, para produzir novamente sacaria, desta vez no âmbito do polo industrial de Manaus. Foi uma notícia alvissareira e emblemática, sobretudo por envolver a participação societária do governo do Amazonas, para fazer avançar a cadeia produtiva das fibras regionais, garantindo preço de venda aos produtores, distribuindo sementes para o plantio e acompanhando o processo até o produto final no mercado. Aplausos para a Agência de Fomento, e para a vitalidade do grupo Mário Guerreiro, atores de uma trama e aposta na fibra regional, em todos os sentidos, numa epopeia cujo primeiro ato completou sessenta anos.
Sustentabilidade e obstinação – Com o parceiro Adalberto Vale, um visionário amazônico formado em São Paulo, o jovem empresário Mário Guerreiro inaugurou a Brasiljuta na presença do então presidente Getúlio Vargas, em 1954. Uma época em que todo produto agrícola do país passou a ser exportado em sacaria com a grife amazônica da juta, principalmente o café, o que permitiu em 1965 o ápice de 50 mil toneladas, com milhares de empregos e outras conquistas. Em 2012, por pressão do clima ambiental de um país que sediara a Conferência da ONU sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente, a Rio+20 e por mobilização da própria Confederação Nacional da Indústria, foi apresentado ao Congresso Nacional um projeto de Lei que obriga a adoção de fibras naturais para exportar os grãos do agronegócio.  
Engenho e arte – A melhor maneira de conservar um bem natural, insistia o lendário Gilberto Mestrinho, líder político regional, é dar-lhe viabilidade econômica, caso contrário, eles serão consumidos, ou depredados, na ausência de alternativa de subsistência. A produção industrial de fibras tropicais é uma das atividades que gera atividade econômica sem depredar o bioma. É essencial resgatar esse momento – início dos anos 1950 - em que o Amazonas do pós-guerra vivia a penúria de mais um fracasso na economia gomífera, com o esvaziamento dos esforços estratégicos de recomposição do II Ciclo da Borracha, imposta artificialmente pelos Acordos de Washington. Além da juta, a sorva para a produção de goma de mascar – os chicletes de Hollywood – os empreendedores regionais já demonstraram com engenho e arte que é possível manejar sem ameaçar a floresta, e dela extrair com racionalidade e rigor os recursos da prosperidade.
Bioindústria e bio-oportunidades – Mário Guerreiro, o ex-pracinha da FEB, as Forças Expedicionárias do Brasil, integrou o pioneirismo amazônico num Brasil que se mobilizava para fazer acontecer seus Anos Dourados. Contemporâneo do grupo de Isaac Benaion Sabbá, onde se destaca a presença ousada e vigorosa de Moises Israel e Samuel Benchimol, que implantaram cerca de 40 bioindústrias de essências vegetais, curtume, silvicultura e aquicultura, base material de viabilização da Refinaria de Petróleo em 1956, Mário Guerreiro viu nascer o INPA, em 1957, a panificadora e pastifício Guarany, depois Papaguara, que reuniu um grupo fraterno e ousado de empreendedores, Antônio Simões, Petrônio Pinheiro e Osmar Pacífico, que consolidou na década seguinte o Grupo Simões, um dos mais sólidos da Amazônia. Todos eles, na companhia de Natan Xavier de Albuquerque, foram atuar depois na Associação Comercial e implantar a Federação das Indústrias, para institucionalizar a garra pioneira. Juntos apoiaram a iniciativa de Vargas de impor o INPA, criado nesse contexto para inventariar e estudar o bioma, sinalizar a recusa da ocupação e tutela da cobiça internacional. Foi assim que o Amazonas reafirmou com obstinação sua vocação para a modernidade. Há algo mais moderno e arrojado – ou sustentável – do que resgatar o uso de fibras vegetais para substituir fibras industriais que degradam o ambiente?
Basta agregar tecnologia – Há meio século a juta empregava 3 mil trabalhadores na indústria de beneficiamento e hoje já ocupa 2.600 famílias no processo inicial de extração nesse beiradão esquecido. A malva, a borracha e o curauá, o dendê e a pupunha, o açaí e a andiroba, as resinas e oleaginosas: basta agregar tecnologia... a lista é intensa e imensa a informação consolidada a respeito. Nos arquivos recentes da Universidade do Estado do Amazonas, sob a batuta de Edineia Dias e Marilene Correa, está guardado um mapa precioso de oportunidades e necessidades de demandas de qualificação de recursos humanos, inovação tecnológica e de infraestrutura para diversificar e interiorizar polos de bionegócios e geonegócios, na perspectiva de um modelo de desenvolvimento mais coerente e condizente com o bioma e a homodiversidade regional. Um modelo que, a história já demonstrou, dispensa incentivos fiscais seculares e demanda apenas condições infraestruturais e humanas de funcionamento, para dar sequência ao insight genial desses destemidos e heroicos pioneiros e suas fibras promissoras. Felicitações e agradecimentos à audácia de Mário Guerreiro.
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Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do Centro da Indústria do Estado do Amazonas. Editor responsável: Alfredo MR Lopes.  cieam@cieam.com.br

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