21/06/2013
Logística sagrada - Com o Barão de Mauá, na Companhia de Navegação e Transportes do Amazonas e seus arrojados navios a vapor, a abertura do Rio Amazonas à navegação estrangeira inaugura um ciclo de economia que vai viabilizar, junto com a descoberta do processo de vulcanização, o Ciclo da Borracha. Além dela, e na perspectiva da instalação da Companhia Paraense de Navegação, do pioneiro Alexandre Amorim, que inaugurou linhas diretas de Manaus até a Europa, a ACA se instala em 1871, com José Coelho de Miranda Leão, político, comerciante e militar, na condição de primeiro presidente da Entidade. Na direção geral, Antônio Augusto Alves, José Joaquim Pinto de França, Manoel José Gomes de Lima e os irmãos Emílio e Guilherme Moreira, que será presidente da Entidade de 1877 a 1880, e mereceram ficar na história com nomes nas ruas da cidade.
Presença cotidiana - A partir daí, a entidade fez sua a rotina diária da vida econômica e social do Amazonas, cumprindo um papel estratégico e de fomento das atividades que desembarcaram no ciclo de pujança que perdurou no Amazonas até a segunda década do século XX, quando entrou no mercado internacional a borracha produzida racionalmente pelos ingleses em seus domínios asiáticos. No fausto que as folias do látex produziram e na penúria que se seguiu a seu esvaziamento, ali estava a Associação Comercial do Amazonas, promovendo os interesses das forças produtivas e a comercialização de seus produtos, criando soluções, cobrando a contrapartida do poder público. Em suma, uma entidade permanentemente empenhada em fazer girar a roda da economia. Em 1914, quando os preços da borracha despencaram, provocando inúmeras falências, uma onda geral de desespero e perdição, a Associação intercedia junto às autoridades para minimizar as adversidades das empresas atingidas enquanto organizava alternativas de resistência.
Obstinação e conquistas - Das cinzas da primeira guerra, a despeito da epidemia de gripe, a Associação se articula na criação de inúmeras indústrias, com exportação de chicle, fábricas de açúcar e de aguardente, a fabricação de saltos Coroa e outros artefatos de borracha, a indústria do cinema de Silvino Santos, financiada por J. G. Araújo para divulgar os negócios da floresta... E não para por aí. Acolhe os primeiros migrantes japoneses instalados em Parintins, dando origem à Vila Amazônia e a produção de juta. Nos anos 30, entra em cena a competência de Cosme Ferreira Filho na entidade, e com ele a Companhia Nacional de Borracha, a Companhia Brasileira de Plantações de Guaraná, empresas de bionegócios. De quebra, a promoção do Timbó, como interesse comercial de exportação, a defesa da economia da castanha, envolvendo a 8ª Região Militar na adoção da castanha como item na alimentação dos soldados e por aí vai. Com Cosme Ferreira, de office-boy a superintendente da Companhia Nacional da Borracha, a figura de Petronio Pinheiro, que virou sócio e, mais tarde, se reuniu a Antônio Simões e Osmar Pacífico, na consolidação de um grupo sólido na área de bebidas não alcóolicas, gás carbônico, veículos entre outros.
Pioneiros e empreendedores - Antes do advento da Zona Franca, com Cosme e Petrônio, Mário Guerreiro, Moyses Israel, Isaac Sabbá, Samuel Benchimol, José Azevedo, entre tantos pioneiros, a ACA não cessou de intermediar pleitos e medidas para apoio e manutenção do transporte fluvial, infraestrutura possível para viabilizar negócios, instalação de agroindústrias, escritórios de representação no Rio, Belém e São Paulo, promover exposições dos negócios do Amazonas nos quatro cantos do mundo. Em 1932, Cosme Ferreira, um dirigente histórico e articulado, pleiteou a instalação de um Vice-Consulado dos Estados Unidos em Manaus. Como reflexo da Segunda Guerra Mundial com a invasão das forças americanas em busca de borracha, um novo sopro de prosperidade se espalhou pela região, foi construído o aeroporto de Ponta Pelada e, em consequência do acordo de Washington, mantido em segredo, o governo do Brasil trocou a indústria siderúrgica por preços vis de nossa borracha, cuja produção exigiu nova migração de nordestinos para a Amazônia. À época, a Associação mantinha representação em 29 cidades do interior amazônico, que oferecia serviço de assistência à agricultura. Por Decreto presidencial, o Governo da República concedeu à ACA prerrogativa de órgão consultor da União. Abrigados na entidade, empresários autênticos construíam o sonho da Brasil Juta, da Refinaria de Manaus e da Companhia de Eletricidade de Manaus, que encerram um longo período de escuridão.
A instalação da ZFM - Nos anos 60, no governo militar, foi na Associação Comercial, por pressão de seus dirigentes, que eclodiu o primeiro movimento empresarial para a criação da Zona Franca de Manaus, onde as figuras do governador Arthur Cezar Ferreira Reis, presidente Castelo Branco, ministro Roberto Campos e o diplomata amazonense Arthur Amorim coordenaram a base legal do modelo. Daí em diante, o volume de obras e realizações contam o aeroporto Eduardo Gomes, a Estrada Manaus - Caracaraí, a recriação da Universidade do Amazonas, e iniciada a Perimetral Norte abandonada posteriormente. Criado o Comando Militar da Amazônia, o Comando da Aeronáutica, a Base Naval, a instalação da SUFRAMA, do Distrito Industrial, do Distrito Agropecuário, a Transamazônica hoje abandonada. Um serviço de telecomunicações de alta tecnologia para a época e muitas outras vantagens, com a presença, movimentação e apoio da entidade e demais segmentos organizados que a partir dela se formaram. A ACA nossa memória, referência e manancial de lições, visitá-la e apostar em sua revitalização é compromisso e compreensão do papel determinante de uma entidade robusta na consolidação dos negócios e da prosperidade social de nossa gente. Parabéns, Associação Comercial do Amazonas, à sua diretoria na pessoa do companheiro Ismael Bechara.
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