09/03/2020
Fonte: Folha de S. Paulo
Nicola Pamplona
Dois dias após a divulgação do PIB de 1,1% em 2019, a Coalizão da Indústria, grupo que concentra importantes setores industriais brasileiros, reforçou em entrevista apoio à política econômica do governo Jair Bolsonaro (sem partido). Eles defenderam, porém, agilidade na tramitação da reforma tributária para destravar investimentos.
O grupo avalia que o desempenho da economia em 2019, que mostrou investimentos despencando no fim do ano, foi "o possível" na conjuntura atual e que as reformas terão impacto apenas no longo prazo. Defenderam, porém, que a mudança nos impostos pode trazer alívio já em 2020.
"A reforma tributária tem que ser resolvida com a maior rapidez possível. Na nossa visão, ainda no primeiro semestre", disse o presidente do IABr, entidade que reúne a indústria siderúrgica, Marco Polo de Mello Lopes, em entrevista coletiva no Rio, antes de reunião do grupo com o ministro da Economia, Paulo Guedes.
Além das siderúrgicas, a Coalizão pela Indústria inclui os setores automotivo, químico, t?xtil, de cimento, brinquedos, construção, plásticos, máquinas e equipamentos e eletroeletrônicos, entre outros. Foi criado às vésperas do segundo turno da eleição de 2018 para ser um canal de interlocução com o governo. A avaliação do grupo é que as incertezas em relação à reforma tributária paralisam os investimentos.
"Quem pensa em investir, precisa calcular quanto vai pagar em impostos daqui a cinco anos", argumentou José Velloso, que preside a Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos). Eles apoiam as propostas que estão em discussão no Congresso —as PECs 45 e 110— pelas quais já vêm se articulando junto aos parlamentares, e questionam sinais de que o governo tentaria aprovar um texto com mudanças mais simples. "Vamos transmitir ao governo a nossa visão de que não cabe colocar uma energia monumental em uma mudança que não seja profunda, não seja completa" , disse Lopes, avaliando que já há convergência nas duas casas legislativas em relação aos temas.
O grupo elogiou a abertura para interlocução com o Ministério da Economia
e minimizou o resultado do PIB de 2019, alegando que o governo vem tocando pautas estruturais, cujos
resultados serão sentidos só no longo prazo.
"A agenda da competitividade, a agenda da microeconomia é fundamental",
defendeu o presidente da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil),
Fernando Pimentel. Ele diz esperar para 2020 alta entre 1,5% e 2% no PIB, já
descontando o efeito negativo de 0,5 ponto percentual da crise provocada pelo surto de Coronavírus.
A entrevista ocorre um dia depois de visita de Bolsonaro à Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo), evento que gerou críticas pela falta de representação industrial. Os setores reunidos na Coalizão pela Indústria são responsáveis, segundo eles, 65% do PIB industrial do país e 30 milhões de empregos diretos e indiretos.
Eles minimizaram os atritos entre Executivo e Legislativo, que motiva a
convocação de passeatas em apoio ao presidente e contra o Congresso no
próximo dia 15. Na visão do grupo, trata-se de um novo "O que a gente vê é
que as coisas andam", disse Martins.
Como exemplo, citaram a aprovação da reforma da Previdência, da lei da liberdade
econômica, a realização de concessões, o controle da inflação, entre outros.
Ainda assim, avaliam, a má qualidade do emprego e a demora na mudança
previdenciária contribuíram para segurar a economia em 2019.
Os setores representados na coalização têm sentido de maneiras diferentes o
impacto da desvalorização cambial —a indústria química,
por exemplo, é beneficiada pelo aumento da competitividade— mas o grupo
espera que o dólar se estabilize para garantir maior previsibilidade aos
negócios.
A avaliação é que, com os juros mais baixos, o real se estabilizará em
patamares mais baixos que os atuais, mas mais altos do que em governos
anteriores. "Será um dólar mais realista do que era na época da especulação
[financeira]", disse Velloso.
As lideranças do grupo defenderam que as instituições brasileiras são fortes
e coibiram quaisquer arroubos autoritários de um grupo político que vem
fomentando ataques a outros poderes e à imprensa.
"As instituições são tão fortes e definidas que não vemos riscos", afirmou o presidente da CBIC. "Tenho certeza de que, se houver qualquer coisa de autoritarismo, não há chance de prosperar."