23/12/2022
O interior do Amazonas registrou seu nono mês seguido de saldo positivo de empregos formais, em outubro. As contratações (+1.598) voltaram a superar as demissões (-1.237), gerando acréscimo de 361 postos de trabalho com carteira assinada e alta de 0,85% sobre o estoque anterior (42.227). O resultado veio abaixo do atingido em setembro de 2022 (+567), embora tenha suplantado o dado negativo de 12 meses atrás (-66). Com isso, os acumulados do ano (+4.635) e dos 12 meses (+4.764) também ficaram no azul. Os dados são do Novo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados).
O resultado foi sustentado atipicamente pela agropecuária. Em mês de repique da inflação e reta final das eleições, os setores de serviços e comércio ficaram para trás, apesar da sazonalidade positiva das festas de fim de ano. A construção manteve as contratações em um patamar tímido, enquanto a indústria interrompeu uma série de dez meses de saldos positivos para eliminar postos de trabalho. Mas, o total de vagas continuou concentrado em poucos municípios, além de irrisório e muito abaixo do necessário, com o setor público respondendo por fatia majoritária da oferta.
A quantidade de localidades com mais contratações do que demissões caiu. De setembro para outubro, 27 dos 61 municípios estavam nessa situação, em performance abaixo da apresentada no levantamento anterior (+30). Ao menos 14 pontuaram estabilidade e os 20 restantes extinguiram empregos. Na maioria das cidades, o volume de vagas geradas não passou da casa de um dígito. Em termos absolutos, a maior parte da oferta veio de Presidente Figueiredo (+253 e +7,43%), seguido de longe por Parintins (+36 e +1,15%) e Itacoatiara (+34 e +0,49%). O maior tombo veio de Manacapuru (-26 e -0,84%).
Em dez meses, 50 prefeituras comemoraram geração de empregos, duas ficaram na mesma e nove amargaram destruição de vagas. Itacoatiara (+470 e +7,30%), Iranduba (+450 e +19,13%), Parintins (+427 e +15,60%) e Manicoré (+414 e +59,91%) encabeçaram a lista com folga, ao passo que Eirunepé (-19 e -7,85%) liderou a lista de cortes. Em 12 meses, a quantidade de municípios com empregabilidade no azul sobe para 51. Somente dois estancaram e os outros oito fecharam no vermelho. Os melhores números vieram de Parintins (+492 e +18,41%) e Itacoatiara (+468 e +7,27%).
Estoques e atividades
Os números de outubro confirmaram ainda que a oferta de trabalho formal no interior segue estruturalmente concentrada. A soma dos estoques de empregos – que é a quantidade total de vínculos celetistas ativos – dos sete municípios mais populosos do interior responde por mais da metade de todo o volume de vagas contabilizadas fora da capital (42.023). A lista inclui Itacoatiara (6.878), Presidente Figueiredo (3.643), Parintins (3.187), Manacapuru (3.127), Tabatinga (2.909), Iranduba (2.835).
Assim como no mês anterior, nem todos os setores econômicos conseguiram saldos positivos, na passagem de setembro para outubro de 2022. Mas, desta vez, as contratações nos municípios do interior foram carreadas pela agropecuária (+241), em detrimento dos serviços (+61) e do comércio (+77), que tradicionalmente são os principais indutores de empregos no interior. Em contrapartida, construção (+15) e indústria (-33) trocaram de sinal. As contratações de Presidente Figueiredo se concentraram quase que exclusivamente nas lavouras temporárias de cana-de-açúcar (+240).
De janeiro a outubro, todas as atividades econômicas criaram empregos no interior do Amazonas. Serviços (+11.779) e comércio (+1.333) puxaram as contratações com folga. O destaque das contratações de Itacoatiara foi o varejo (+174), e o de Parintins, os serviços (+247) – especialmente a administração pública (+154). A indústria (+1.005) veio logo em seguida, e ajudou a alavancar as contratações em Iranduba (+361), principalmente no beneficiamento de produtos alimentícios (+262). Agropecuária (+289) e construção (+229), por outro lado, ficaram nas últimas posições.
Políticas públicas
A ex-vice-presidente do Corecon-AM (Conselho Regional de Economia do Estado do Amazonas), e professora universitária, Michele Lins Aracaty e Silva, considera que, passado o período mais crítico da “maior emergência sanitária do século”, e tendo como base os indicadores regionais “abaixo da média nacional”, qualquer número positivo no que tange à geração de empregos formais merece ser comemorado.
“Nota-se que o número de municípios que apresentaram números positivos de contratações em relação às demissões foi positivo contribuindo para fomentar a economia local e circulação de renda. O que realmente preocupa é a elevada concentração de empregos formais em poucos municípios, o que pressiona para a necessidade de uma política pública mais direcionada, com foco na ampliação do mercado de trabalho e geração de emprego e renda para estimular a atividade econômica local”, assinalou.
Outro ponto que merece destaque, conforme Michele Lins Aracaty e Silva, é a necessidade de ampliar a qualificação para fomentar a agregação de valor com foco no capital humano, possibilitando ganhos reais. “Somente com esforço na qualificação profissional e na geração de emprego e renda, através de uma política pública direcionada, teremos alguma melhoria nos indicadores de geração de empregos formais no interior do Amazonas, no médio a longo prazo”, afiançou.
Auxílio Brasil
Já o ex-presidente do Corecon-AM, consultor empresarial e professor universitário, Francisco de Assis Mourão Junior, ressalta que o principal fator que sustentou o novo saldo positivo de empregos no interior do Amazonas foi o reforço nas políticas de transferência de renda, com destaque para o Auxílio Brasil, e seu potencial de fomentar renda, consumo, produção, vendas e emprego. O economista acrescenta que diversas atividades têm contribuído para a geração de vagas, especialmente os setores primário e mineral. Mas, ainda se diz reticente quanto a suas expectativas para a economia no próximo ano.
“Apesar das perspectivas de juros altos, a inflação está relativamente baixa. Minhas perspectivas para 2023 não são de um cenário muito positivo. Infelizmente, com o aumento da carga tributária pelo ICMS [Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços], certamente teremos mais aumentos de preços de alimentos, e isso se reflete principalmente no interior do Estado, com reflexos no mercado de trabalho. Isso, apesar da continuação do Auxílio Brasil, que deve voltar a ser chamado de Bolsa Família. Mas, provavelmente o olhar do novo governo deve ser orientado para o desenvolvimento da região Norte”, concluiu.
Fonte: jcam