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Instabilidade política derrete confiança da indústria

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26/09/2021

Marco Dassori

Os efeitos do cabo de guerra entre inflação e juros no consumo, a iminência da crise hídrica, o desabastecimento crônico de insumos em diversas linhas de produção, e as turbulências políticas, já começam a acender um sinal amarelo na indústria brasileira. A ‘tempestade perfeita’ ajudou a dilapidar o otimismo entre as lideranças da manufatura brasileira, em setembro. Em sintonia, o setor vem perdendo força nos indicadores, embora ainda mostre força relativa no nível de produção e empregos – mas não nos estoques.

Do lado da inflação, os preços da indústria já se mostraram 1,94% mais altos em julho, conforme a mais recente edição do IPP (Índice de Preços ao Produtor), do IBGE – que não leva em conta impostos e frete. Foi um aumento mais encorpado do que os de junho (+1,29%) e maio (+0,99%). O acumulado no ano já atinge 21,39%, o maior desde dezembro de 2014. Em 12 meses o indicador já acumula alta de 35,08%, a terceira mais elevada em sete anos. Das 24 atividades sondadas, 20 tiveram amargaram altas, com destaque para alimentos (+0,49 p.p.), refino de petróleo e álcool (+0,32 p.p.), indústrias extrativas (0,27 p.p.) e metalurgia (+0,27 p.p.).

Por conta deste, entre outros fatores, a CNI (Confederação Nacional da Indústria) informa que o Icei (Índice de Confiança do Empresário Industrial) encolheu 5,2 pontos neste mês, quebrando uma sequência de quatro altas consecutivas. O indicador não passou de 58 pontos, correspondendo a uma retração de 8,23% ante agosto (63,2 pontos). A entidade ressalva que, apesar da queda, a pontuação segue acima da linha divisória da confiança (50 pontos) e da média histórica (54 prontos), demonstrando que os empresários “seguem confiantes”, embora o otimismo “esteja menos intenso e menos disseminado”.

Para o Icei, a CNI ouviu 1.611 empresários, sendo 635 de empresas de pequeno porte, 608 de médio e 368 de grande, entre 1º e 9 de setembro. O indicador é composto pela percepção do momento atual (52,2 pontos) e pela expectativa para os próximos seis meses (60,9 pontos), a partir das condições percebidas da própria empresa e da economia brasileira. Neste último aspecto, houve queda de 56,2 pontos para 47,3 pontos no Índice de Condições Atuais da economia, de agosto para setembro, “mostrando que o empresário industrial percebe piora nas condições correntes no cenário econômico”.

Contratações e UCI

Outro estudo da mesma CNI, a Sondagem Industrial ressalta que o ritmo de contratações está “cada vez maior e mais disseminado” na indústria brasileira e que seu uso de capacidade instalada – que trata do percentual de máquinas comprometidas na produção – seguiu “elevado”, em agosto. O índice de evolução do número de empregados ficou em 52,3 pontos, ficando acima da linha divisória de satisfação pelo quarto mês consecutivo, embora o indicador tenha mostrado relativamente menos força do que em julho (53,7 pontos).

A UCI (Utilização da Capacidade Instalada), por sua vez, ficou em 72%, ao registrar aumento de 1 ponto percentual ante agosto de 2021. De acordo com a CNI, o percentual para o mês se iguala ao capturado no mesmo mês de 2014 – período em que o ainda de boom econômico para o país – e supera o registrado no mês de agosto dos anos subsequentes – que foram majoritariamente de crise e de estagnação. Segundo a entidade, desde maio a UCI se mantém acima da média dos mesmos meses de 2011 a 2019.

“Além disso, o índice de evolução da produção ficou em 53 pontos, acima da linha divisória de 50 pontos que separa queda de alta da produção, em agosto na comparação com julho deste ano. É o quarto mês consecutivo que os empresários da indústria de transformação e extrativa, de todos os portes, indicam crescimento da produção em relação ao mês anterior”, ressaltou a CNI, no texto de divulgação da pesquisa.

A dado negativo vem do índice de evolução do nível de estoques, que ficou em 49,7 pontos no mês passado, ao pontuar estabilidade. O índice de nível de estoque efetivo em relação ao planejado também praticamente não mudou, passando de 48,7 pontos em julho (mesmo valor de junho) para 48,6 pontos em agosto. “A estabilidade nos últimos três meses revela que a distância entre o observado e o desejado pelas empresas se manteve no período. Em 2020, a diferença entre efetivo e planejado era muito maior: índice de 45,2 pontos”, amenizou a CNI.

Incertezas e empregos

Em texto divulgado pela assessoria de imprensa da CNI, o gerente de Análise Econômica da entidade, Marcelo Azevedo, assinala que a conjunção de fatores negativos nas frentes econômica e política ajudaram a enfraquecer a confiança no futuro no setor. “A aceleração da inflação e incertezas decorrentes da crise hídrica e do cenário político influenciaram negativamente a percepção das condições correntes da economia brasileira e, assim, afetaram a confiança do empresário industrial”, listou.

Em outro material de divulgação da CNI, Azevedo ressalva que também há notícias positivas no fronte industrial brasileiro. O gerente de Análise Econômica da entidade destaca que a tendência de crescimento do emprego na manufatura se mostra longa, já que o indicador relativo ao emprego se manteve acima dos 50 pontos em 13 dos últimos 14 meses. “Vale notar que, depois de cruzar a linha de corte, em abril, o indicador de emprego aumentou nos quatro meses seguintes. Está bem claro, nos gráficos, essa trajetória de crescimento”, asseverou.

“Panorama de instabilidade”

O presidente da Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas) e vice-presidente executivo da CNI, Antonio Silva, diz que “certamente” o período atual é marcado por incertezas, fator que ajudaria a explicaria o recuo significativo no índice de confiança do empresariado detectado pela sondagem. A despeito das particularidades da indústria da ZFM – que tem seu perfil marcado pelos produtos de consumo e sofre ofensivas eventuais em seu arcabouço tributário –, o dirigente não vê diferenças significativas no panorama de curto prazo, embora demostre otimismo.

“O cenário não difere no segmento industrial amazonense. A pressão sobre os preços, a desvalorização do real e a imprevisibilidade no fornecimento de matérias-primas tem criado um panorama de instabilidade. O encarecimento do custo do crédito também é um fator de desaquecimento. Temos a expectativa de que os indicadores de oferta e demanda se estabilizem ainda neste ano. Mas a diminuição do poder aquisitivo da população também é um vetor de preocupação”, encerrou.

Fonte: JCAM

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