05/11/2014
No quinto trimestre consecutivo de retração, a indústria encolheu 0,2% de julho a setembro em relação aos três meses anteriores, descontados fatores sazonais, variação considerada por economistas como uma "normalização" do setor, depois do tombo de 1,9% no segundo trimestre. Diante do acúmulo de estoques, do desaquecimento da demanda interna e externa e das incertezas em relação a 2015, perspectivas de recuperação mais consistente nos próximos meses estão descartadas.
Apesar da queda no dado geral, 15 dos 24 ramos de atividade pesquisados aumentaram sua produção na passagem mensal, com destaque para o de veículos automotores, reboques e carrocerias, com alta de 10,1% em relação a agosto - maior variação nessa comparação desde fevereiro de 2012. Na análise por grandes categorias econômicas, a única que diminuiu sua produção no período foi a de intermediários, que representa cerca de metade da PIM e caiu 1,6%, puxando a indústria para baixo.
Outras bases de comparação, no entanto, mostram fraqueza: a produção cedeu 2,1% em relação a setembro de 2013, sétima retração seguida nessa ordem. De janeiro a setembro, a atividade ficou 2,9% menor do que em igual período do ano passado, o que já indica um resultado negativo na ordem de 2% para a produção no fim de 2014.
Segundo André Macedo, gerente da coordenação da indústria do IBGE, a redução na produção de açúcar afetou negativamente tanto o comportamento dos bens intermediários quanto o da indústria total em setembro. "A estiagem obrigou a antecipação da safra da cana-de-açúcar, que está menor por causa dos problemas climáticos", disse Macedo. Houve recuo nas indústrias extrativa, de celulose e de produtos de metal, que também integram a categoria de intermediários.
Por outro lado, o economista do IBGE apontou que a retração da produção no mês deve ser relativizada, já que, dos 24 setores analisados, 14 cresceram, dois ficaram estáveis e apenas sete caíram. "Uma queda no total da indústria não é algo bom, mas observando os resultados internos da pesquisa, vemos um comportamento melhor em setembro do que em outros meses quando tivemos quedas neste ano. Há uma predominância de taxas positivas", disse.
O índice de difusão da indústria, que mede a quantidade de setores com expansão na comparação mensal, subiu de 66,7% para 70,8% entre agosto e setembro, calcula Rodrigo Nishida, da LCA. A melhora, porém, precisa ser vista com cautela, diz, já que o setor continua mostrando comportamento volátil. Na média do terceiro trimestre, o índice também ficou em patamar elevado, em 73,6%, contra 34,7% no segundo trimestre, quando a Copa reduziu o número de dias úteis e teve impacto negativo sobre a atividade industrial.
Na visão do economista, o dado mais correto para analisar o desempenho da produção é a média entre a difusão dos dois trimestres, que foi de 54,2%, exatamente a média histórica do setor nos últimos anos. "Esse indicador mostra uma situação de letargia da indústria: alguns setores com desempenho melhor e outros piores, mas na média, estagnação", avaliou.
Thais Zara, economista-chefe da Rosenberg & Associados, lembra que setembro geralmente é um período de crescimento para a indústria, que começa a se preparar para as festas de fim de ano. Por isso, Thais avalia que o dado divulgado pelo IBGE foi fraco, mesmo considerando que a maioria dos setores avançou, inclusive os de bens de capital e de bens duráveis.
"Apesar da recuperação na margem, a situação continua complicada", afirma Thais, que pode cortar sua estimativa para a alta do PIB entre o segundo e o terceiro trimestres em função da PIM. Por ora, ela trabalha com expansão de 0,2% a 0,3% no período, mas considera que uma nova retração da atividade é pouco provável, porque o segmento de serviços deve reagir.
A economista também não viu a alta de 10,1% da produção de veículos como algo animador, já que as vendas de outubro deixaram a desejar. Com base em dados da Fenabrave, entidade que reúne as concessionárias, calcula que as vendas de veículos subiram apenas 0,7% entre setembro e outubro, feitos os ajustes sazonais.
De acordo com Nishida, da LCA, a atividade de veículos deve ter sido impactada por questões pontuais em setembro, como o lançamento de novos modelos e antecipação de produção em função do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), que pode aumentar na virada do ano. "O setor ainda não sinaliza melhora consistente, porque a demanda interna subiu, mas está em nível muito modesto, e a externa continua muito ruim."
Para os economistas ouvidos, a produção deve encerrar o ano com queda de cerca de 2,5%, tombo que tende a ser apenas parcialmente compensado em 2015.
Fonte: Valor Econômico