25/02/2014
- O ano de 2013 foi de ajuste para a indústria. A produtividade avançou, mas com aumento de produção e queda de horas pagas. O setor tem se esforçado para se tornar mais competitivo, tentando diminuir custos, num esforço talvez mais para sobreviver do que para buscar liderança - afirma o economista-chefe do Iedi, Rogério César de Souza.
Câmbio ajuda, argentina e energia preocupam
A produtividade é calculada por meio da relação entre a produção industrial e o número de horas pagas pela indústria. Especialistas apontam que o perfil mais saudável para o aumento da produtividade é aquele que combina aumento nos dois indicadores, mas com ritmo de expansão da produção maior que o de horas pagas. Foi isso que ocorreu em 2010 - ano em que a produção avançou 10,5% e o número de horas pagas subiu 4,1%, o que permitiu um ganho de 6,1% da produtividade. Em 2011, o aumento de produtividade foi pequeno, de 0,1%, uma combinação de alta de 0,4% da produção com 0,3% de horas pagas. No triênio 2011-2013, o ganho médio anual de produtividade foi de 0,6%.
- A partir de 2010, a produtividade no país ficou estacionada. O que ocorreu no ano passado foi um aumento de produtividade com uma composição não tão saudável, uma repetição em menor escala do que houve nos anos 90, após a abertura do mercado - diz o economista Silvio Sales, do Ibre/FGV.
E o cenário é de atenção em 2014. A previsão de analistas é de uma alta de 1,87% da produção industrial este ano, segundo o último Boletim Focus, pesquisa que o Banco Central faz junto às principais instituições financeiras do país.
Rogério César de Souza, do Iedi, diz esperar que o câmbio mais desvalorizado ajude a impulsionar a indústria exportadora, mas reconhece que a crise na Argentina pode ser uma influência negativa para as empresas brasileiras.
- Os indicadores para dezembro vieram aquém do que se esperava e, com isso, a confiança empresarial e dos consumidores começou o ano em declínio. A incerteza aumentou, há um contexto de alta de juros e, agora, há a preocupação com a questão energética - acrescenta Silvio Sales.
O aumento de 2,4% da produtividade em 2013 ocorreu ao lado de uma alta de 2,4% da remuneração média real da indústria, além da queda do pessoal ocupado. Na avaliação de Souza, do Iedi, isto sugere que a mão de obra retida foi de maior qualificação e remuneração média. Ou seja, na hora de cortar trabalhadores, os menos qualificados foram os mais afetados.
Doze dos 19 setores da indústria pesquisados registraram aumento de produtividade no ano passado, sendo que dez foram em ritmo superior ao da indústria geral. Mas o único segmento da indústria em que a produtividade cresceu de forma virtuosa - ou seja, com aumento de produção e também de horas pagas - foi a fabricação de meios de transporte. Neste setor, a produção cresceu 7,3%, o número de trabalhadores aumentou 0,2% e o total de horas pagas avançou 0,4%. O resultado foi um ganho de 6,9% da produtividade.
- Temos aí a influência dos estímulos à produção de veículos, com impostos menores, e o efeito da produção de caminhões, que veio com força no ano passado - destaca Sales.
'Forte enxugamento de postos de trabalho'
O maior salto de produtividade ocorreu no segmento de calçados e couro, com 14,5%. Mas este salto veio com corte de 5,3% no pessoal ocupado. E com uma queda ainda maior nas horas pagas: 7%. A produção do setor, por sua vez, cresceu 6,4%.
- Esse resultado da indústria é síntese de movimentos muito diferentes entre os setores. Há um forte enxugamento dos postos de trabalho. Isso sugere uma eficiência maior do ponto de vista das empresas, mas não do ponto de vista da economia como um todo - afirma Silvio Sales, do Ibre/FGV.
O desempenho da produtividade também é diversificado entre os estados. O Rio de Janeiro foi uma das três regiões pesquisadas pelo IBGE com queda na produtividade, de 0,4%. Foi o terceiro ano seguido de recuo. Também houve perda em Espírito Santo, de 3%, e Minas Gerais, de 0,1%. O maior ganho foi na Bahia, de 10,4%, com alta de 3,8% da produção e redução de 6% das horas pagas. São Paulo, com o maior parque industrial do país, teve aumento de 1,6% da produtividade. No Rio de Janeiro, a produção avançou 0,1%, enquanto o número de horas pagas subiu 0,5%.
- O ganho de produtividade ficou praticamente zero no Rio de Janeiro, onde a indústria extrativa sofreu, com o petróleo - diz Rogério César de Souza, do Iedi.
A produtividade da indústria extrativa mineral no Rio caiu 12,9%, fruto de 6% de queda na produção e aumento de 7,9% no número de horas pagas. Já a produtividade da metalurgia básica no estado recuou 6,5%, com perda de 5,3% da produção e aumento de 1,2% das horas pagas.
Fonte: O Globo